quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

FIM DE ANO NO CAPS

São João, Carnaval, Natal, Fim de Ano, etc, são períodos festeiros que marcam o calendário cristão.  Engolido pelo circuito produção-consumo do capital, este calendário passa a compor um elo da  cultura capitalista "universal" do CMI (*).    Tanto é verdade, que, paulatinamente, a cada ano,as festas mais se parecem umas com as outras. Tudo é consumo. Nos serviços de Saúde Mental,  tipo Caps, é usual a realização desse tipo de  festas.   Inevitável  a comparação com as antigas festas dos hospícios, onde e quando pacientes, muitos deles impregnados, cronificados, rostificados, circulavam entre os "normais" (técnicos e familiares); "olha,  ele até parece gente, parece normal..." Comentários  desse tipo formavam um clima de "euforia melancólica". Sensação de dever cumprido pela direção do hospital, extensivo à equipe técnica.  Uma onda cristã de compaixão garantia  às consciências  culpáveis  o fato "inconteste" de  que os  pacientes  estavam  sendo  cuidados.  Seria isso mesmo?   Fim de festa  e todos voltavam aos seus respectivos  leitos e enfermarias. Hoje, quando assisto uma festa desse teor num  Caps da Vida,  lembranças se atualizam numa constatação: o espaço físico do Caps se reconstituiu como território clínico segregador. Claro que é uma segregação disfarçada. O rosto da loucura se mostra sob a máscara da diversão controlada, que é por onde suas linhas  bizarras são suportáveis. Haveria uma alternativa (algo melhor) a tudo isso? Ora, não vamos sugerir a produção de  pacotes, muito menos pacotes oficiais. Contudo, o trabalho clínico  com o paciente, se levado à comunidade, à família, à sociedade civil como um todo, geraria festividades menos festivas e mais alegres. Isto significa dizer que tais  festividades  não seriam   territorializadas em  um  espaço duro e estriado  como  o do Caps, mas sim em espaços abertos e/ou francamente virtuais a serem criados, inventados. 


(*) Capitalismo Mundial Integrado




                                                                                              Antonio Moura

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