FIM DE ANO NO CAPS
São João, Carnaval, Natal, Fim de Ano, etc, são períodos festeiros que marcam o calendário cristão. Engolido pelo circuito produção-consumo do capital, este calendário passa a compor um elo da cultura capitalista "universal" do CMI (*). Tanto é verdade, que, paulatinamente, a cada ano,as festas mais se parecem umas com as outras. Tudo é consumo. Nos serviços de Saúde Mental, tipo Caps, é usual a realização desse tipo de festas. Inevitável a comparação com as antigas festas dos hospícios, onde e quando pacientes, muitos deles impregnados, cronificados, rostificados, circulavam entre os "normais" (técnicos e familiares); "olha, ele até parece gente, parece normal..." Comentários desse tipo formavam um clima de "euforia melancólica". Sensação de dever cumprido pela direção do hospital, extensivo à equipe técnica. Uma onda cristã de compaixão garantia às consciências culpáveis o fato "inconteste" de que os pacientes estavam sendo cuidados. Seria isso mesmo? Fim de festa e todos voltavam aos seus respectivos leitos e enfermarias. Hoje, quando assisto uma festa desse teor num Caps da Vida, lembranças se atualizam numa constatação: o espaço físico do Caps se reconstituiu como território clínico segregador. Claro que é uma segregação disfarçada. O rosto da loucura se mostra sob a máscara da diversão controlada, que é por onde suas linhas bizarras são suportáveis. Haveria uma alternativa (algo melhor) a tudo isso? Ora, não vamos sugerir a produção de pacotes, muito menos pacotes oficiais. Contudo, o trabalho clínico com o paciente, se levado à comunidade, à família, à sociedade civil como um todo, geraria festividades menos festivas e mais alegres. Isto significa dizer que tais festividades não seriam territorializadas em um espaço duro e estriado como o do Caps, mas sim em espaços abertos e/ou francamente virtuais a serem criados, inventados.
(*) Capitalismo Mundial Integrado
Antonio Moura
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