Grupos e caos (texto em elaboração)
O Caps tende a reproduzir o modelo biomédico autor de tantos equívocos na história da psiquiatria. Talvez por isso, no momento, praticamente não há avanço. Ao contrário, se as pesquisas sobre o cérebro evoluem, o que há é um retrocesso na percepção da vida afetiva. Ora, falar em grupos é antes considerar a sua vida afetiva: o desejo como foco. Os grupos se movimentam pelo desejo. Ou melhor, o desejo é o próprio movimento, não como espaço a ser percorrido, mas como intensidade. Desse modo, a pergunta : o que move o trabalho dos Caps? O que move as suas equipes ? Tentamos sugerir algumas hipóteses a partir da produção de subjetividade oriunda da forma-Estado. A subjetividade produzida é a da Saúde Mental, uma instituição à serviço do Estado. Sendo assim, servir à Saúde Mental é servir ao Estado. Mesmo trabalhando numa empresa privada ou na clínica liberal, os modos de subjetivação seguem a forma-Estado. Este é um princípio de soberania que se afirma na regulamentação dos códigos sociais vigentes. O conceito de transtorno mental é tributário das ações do Estado que se traduzem como políticas de Saúde Mental. Um técnico bem intencionado não basta para um trabalho novo e de qualidade. O sujeito “bem intencionado” remete às coisas da consciência e, portanto, da moral. Antes de tudo, ele julga. Desse modo, a equipe técnica é guiada pela moral, mesmo que não o admita, ou sequer perceba. O grupo reproduz o Estado interiorizado em subjetividades mansas. Isso não surpreende, ao contrário. O Estado “regula” os fluxos do capital em prol da superfície do corpo. O grupo é um corpo, um corpo submetido às injunções de não poder dizer: “somos nós os autores”. Óbvio que não há uma autoria empírica. A “equipe técnica em saúde mental” recita os discursos em que o Estado – de modo implícito – comanda. O Estado é o Senhor. (...)
Antonio Moura
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