DEPRESSÕES MODERNAS
Os
afetos produzem um corpo. As depressões
produzem corpos-zumbis. Um corpo
deprimido está fora
das categorias do organismo. O organismo pode
estar de pé, mas o corpo
não. A via do corpo é a condição para o método da diferença [1] e suas
implicações terapêuticas. O
humor hipotímico está disseminado
pelo corpo que não se vê, mas
se intui no Encontro com o paciente. Isso significa que o
processo do desejo “obedece” linhas
de molarização [2] :
elas configuram um quadro clínico definido.
Contudo, para ir além disso, e de fato
intuir o que se passa
com o paciente, podemos situá-lo
conforme dois eixos de percepção
clínica: 1- o corpo; 2- o tempo. Os dois
se misturam. É um truísmo
dizer que o corpo deprimido é um
corpo com pouca energia.
Daí, dizemos que não existe o corpo
deprimido e sim o organismo deprimido. O corpo não
consegue emergir como
sentido.
(...)
A.M.
[1]
Trata-se do rizoma. “Um rizoma não começa nem conclui; ele se encontra
sempre no meio, entre as coisas, inter-ser,intermezzo. A árvore é
filiação, mas o rizoma é aliança, unicamente aliança. A árvore impõe o verbo
“ser”, mas o rizoma tem como
tecido a conjunção “e...e...e...”, Deleuze, G. e Guattari, F.,Mil Platôs – capitalismo e esquizofrenia –
vol1,são Paulo, Ed. 34, 1995, cap.1, p.37.
[2]
Refere-se à produção-expressão de linhas
existenciais regidas pelo princípio da
identidade e constituindo o
universo da representação. Traçam e ordenam
o diagnóstico-essência tão caro
à psiquiatria.
Diferenciam-se das linhas
moleculares e das linhas de fuga, com elas
formando mapeamentos de desejo
nos diversos quadros depressivos.
Uma discussão sobre
essas linhas encontra-se
em Deleuze, G. e Parnet, C., Diálogos, São Paulo, Ed. Escuta, 1998,
p. 145 e seguintes.
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