sábado, 6 de outubro de 2012

DEPRESSÕES MODERNAS

Os  afetos  produzem um corpo. As  depressões  produzem corpos-zumbis.  Um corpo deprimido  está  fora  das  categorias do  organismo. O organismo  pode  estar  de pé, mas  o corpo  não. A via  do  corpo é a condição para o método da  diferença [1] e   suas  implicações  terapêuticas. O humor  hipotímico está  disseminado  pelo corpo que  não se  vê, mas  se  intui no Encontro  com o paciente. Isso significa  que  o processo  do desejo “obedece”  linhas  de molarização [2] : elas  configuram um quadro clínico definido. Contudo,  para ir além disso, e  de fato  intuir  o que  se passa  com o paciente, podemos  situá-lo conforme dois  eixos de percepção clínica: 1- o corpo; 2- o tempo. Os dois  se  misturam. É um truísmo dizer  que  o corpo deprimido é  um  corpo com pouca  energia. Daí,  dizemos   que não existe  o corpo  deprimido e sim o organismo deprimido. O corpo  não  consegue  emergir  como  sentido.
(...)
A.M.

[1] Trata-se do rizoma. “Um rizoma não começa nem conclui; ele se encontra sempre  no meio, entre  as coisas, inter-ser,intermezzo. A árvore  é filiação, mas o rizoma é aliança, unicamente aliança. A árvore impõe  o verbo  “ser”, mas  o rizoma tem como tecido a conjunção “e...e...e...”, Deleuze, G. e Guattari, F.,Mil Platôs – capitalismo e esquizofrenia – vol1,são Paulo, Ed. 34, 1995, cap.1, p.37.
[2] Refere-se à produção-expressão de  linhas existenciais regidas  pelo  princípio da  identidade e  constituindo o universo  da representação. Traçam e  ordenam  o   diagnóstico-essência  tão caro  à psiquiatria.  Diferenciam-se  das linhas moleculares e  das  linhas de fuga,  com elas  formando mapeamentos de  desejo nos diversos  quadros  depressivos.  Uma  discussão  sobre  essas  linhas  encontra-se  em Deleuze, G. e Parnet, C.,  Diálogos, São Paulo, Ed. Escuta, 1998, p. 145  e seguintes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário