O TRABALHO DA DIFERENÇA
A diferença é o novo, um corte nas formas instituídas do ser-paciente (ou usuário) para dar lugar a linhas de vida dispersas numa multiplicidade. Ora, a psiquiatria está numa relação de antinomia com o “novo” devido aos seus compromissos políticos. Uma espécie de reedição atual do mito de Sísifo surge na figura do técnico não psiquiatra em Saúde Mental. O que fazer (terapeuticamente) com o (do) paciente? . Uma resposta é o trabalho da diferença. Ele acontece : na relação do técnico consigo mesmo, descobrindo-se como ser composto e múltiplo; na relação não hierarquizada do técnico com o paciente; no primado da dimensão ético-social sobre as técnicas utilizadas; na conexão dos processos micro-institucionais com as políticas públicas de saúde mental; na produção grupal da equipe técnica voltada à autonomia a autoanálise organizacional; no questionamento do diagnóstico psiquiátrico enquanto dispositivo institucional; na busca de uma conceituação mais precisa de Saúde Mental; na crítica à psicofarmacoterapia como opção hegemônica de tratamento; na transversalização dos saberes sobre a loucura materializado em práticas clínicas;. no cotidiano das relações pessoais não patológicas; no tempo decorrido entre os contatos técnico-paciente: o entre-tempo; no tipo de escuta ao discurso considerado delirante; no recorte etiológico a partir do que é ou não é psicose (diagnóstico).
Pontuados estes e outros temas de pesquisa, surgem eixos para intervenções práticas. Seria possível continuar a série... ao infinito. Ela expressa o trabalho da diferença em psicopatologia e se dá como imediatamente clínico e crítico. Neste ponto, a psicopatologia torna-se órfã e adquire o sentido necessário à composição dos artigos. Ela se tece entre saberes heteróclitos, sendo regida pela ética da potência de criar. Sem pai nem mãe, ídolos, reis ou qualquer tipo (mesmo disfarçado) de transcendência, não se submete aos poderes dominantes.Ao contrário, junta aliados não convencionais e busca trair as formas instituídas do saber.
(...)
A.M.
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