terça-feira, 2 de outubro de 2012

O TRABALHO DA DIFERENÇA

A diferença é  o novo,  um corte nas formas  instituídas do  ser-paciente (ou usuário) para  dar  lugar a  linhas  de vida  dispersas numa multiplicidade. Ora, a psiquiatria está  numa  relação de antinomia  com  o “novo” devido aos  seus compromissos políticos. Uma espécie de  reedição atual do  mito de  Sísifo  surge  na  figura do técnico  não psiquiatra  em Saúde Mental. O que  fazer  (terapeuticamente) com o (do)  paciente? . Uma  resposta é o  trabalho da diferença. Ele  acontece : na relação do técnico  consigo mesmo,  descobrindo-se como ser  composto e múltiplo; na relação  não hierarquizada do técnico com o paciente; no primado da dimensão ético-social  sobre  as  técnicas utilizadas;  na  conexão dos  processos  micro-institucionais com as políticas  públicas  de saúde mental; na produção grupal da equipe técnica voltada à autonomia a autoanálise  organizacional;  no questionamento do diagnóstico  psiquiátrico enquanto dispositivo institucional; na busca de uma conceituação  mais precisa de  Saúde  Mental; na  crítica à psicofarmacoterapia  como opção hegemônica de tratamento; na transversalização dos saberes sobre a loucura materializado  em práticas  clínicas;. no cotidiano das  relações pessoais não patológicas; no tempo  decorrido entre os contatos técnico-paciente: o entre-tempo; no tipo de escuta ao discurso considerado delirante; no recorte etiológico  a  partir  do que  é ou não  é  psicose (diagnóstico).
Pontuados  estes e outros temas de pesquisa,  surgem  eixos  para  intervenções  práticas. Seria  possível  continuar a série...  ao infinito.  Ela   expressa  o trabalho da diferença  em psicopatologia e se dá como imediatamente clínico e crítico. Neste ponto, a psicopatologia torna-se órfã e  adquire  o sentido necessário  à composição  dos artigos. Ela se tece  entre  saberes  heteróclitos,  sendo   regida pela ética  da   potência de criar.  Sem pai  nem mãe,  ídolos,  reis  ou  qualquer  tipo (mesmo disfarçado) de transcendência, não se submete aos poderes dominantes.Ao contrário,   junta aliados  não convencionais  e  busca   trair  as  formas instituídas  do saber. 
(...)
A.M.

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