DISFARCES CARTESIANOS
(..) (...) O dualismo mente-corpo, em psicopatologia clínica, é “resolvido”pela presença do eu enquanto coordenador das ações subjetivas no mundo. Deste modo, a partir da indagação “quem fala?” insinua-se o eu enquanto modo de responder a interpelação psiquiátrica. No lugar do cérebro, o eu. Assim se produz o modelo do homem adequado às regras sociais. Isso leva à implicações diretas no funcionamento da clínica e na possibilidade de um bom encontro . Ao colocar o eu como básico à enunciação de si mesmo, não há condições para o Encontro. No seu lugar se instala o Exame psiquiátrico. É que o eu precisa de uma interação estabelecida sob uma base técnica, a qual, por sua natureza médica, contrai os elementos não-clínicos numa grade de significantes exatos. Pode ser uma tabela para medir o humor, por exemplo. Tudo vem e volta ao eu. Essa instância põe a psicopatologiacomo clínica neuropatológica onde o sintoma é considerado o incômodo a ser excluído, deletado. O dualismo mente/corpo se reproduz na prática. O movimento é o dos corpos visíveis o qual é barrado via fármacos. As imagens estariam na consciência, espécie de projeção do cérebro. Sobre as imagens, o controle passa a ser indireto, se é que há controle. De qualquer modo, a psiquiatria, nesse ponto, “passa a bola” à psicologia, à psicoterapia ou à práticas afins que deverão completar o serviço de desalienação, e, portanto, de volta do sujeito à realidade. Tais saberes, no âmbito do trabalho multidisciplinar em Saúde Mental, acabam por referendar um dualismo teórico que esconde relações de poder há muito tempo cristalizadas.
(...)
A.M.
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