domingo, 23 de dezembro de 2012

DISFARCES CARTESIANOS

(..) (...) O dualismo mente-corpo, em psicopatologia clínica, é  “resolvido”pela  presença do eu enquanto coordenador das ações subjetivas  no mundo. Deste  modo, a partir  da indagação “quem  fala?”  insinua-se o eu  enquanto  modo de responder a interpelação  psiquiátrica.  No lugar  do  cérebro, o eu. Assim se produz o modelo  do  homem adequado às regras  sociais. Isso   leva  à   implicações diretas  no  funcionamento da clínica e  na  possibilidade de um bom encontro .  Ao  colocar  o eu  como básico  à  enunciação  de  si mesmo,  não  há  condições para o Encontro.   No seu lugar se  instala o Exame psiquiátrico. É que o eu precisa de uma interação  estabelecida   sob  uma  base  técnica, a qual, por sua  natureza  médica, contrai  os elementos não-clínicos numa  grade  de significantes exatos. Pode ser uma tabela para  medir o humor, por exemplo. Tudo vem e volta ao eu. Essa instância põe a psicopatologiacomo clínica neuropatológica  onde o sintoma é considerado o incômodo a ser excluído, deletado. O dualismo mente/corpo se reproduz  na  prática. O movimento é o dos corpos visíveis o qual é barrado via  fármacos. As  imagens estariam  na consciência, espécie  de projeção  do cérebro. Sobre as  imagens, o controle  passa a ser  indireto, se é que há controle. De  qualquer modo, a psiquiatria, nesse ponto, “passa  a bola” à   psicologia, à psicoterapia ou à práticas afins  que deverão completar o serviço de desalienação, e, portanto,  de  volta do  sujeito à realidade. Tais saberes, no  âmbito  do  trabalho multidisciplinar  em Saúde  Mental, acabam por  referendar  um dualismo  teórico que  esconde relações  de poder há  muito tempo  cristalizadas.
(...)
A.M.

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