(...) (...)Tinha meu amigo uma esquisitice - que outro nome posso lhe senão esse? - que era a de amar a noite por amor da noite. E dessa esquisitice,bem como de todas as outras dele, me deixei eu contagiar, abandonando-me ao sabor de suas extravagantes originalidades. A negra divindade não podia viver sempre conosco, mas nós, lhe imitávamos a presença. Aos primeiros albores da manhã fechávamos todos os pesados postigos de nossa velha casa, acendiamos um par de círios, fortemente perfuma-dos, que emitiam uma luz fraca e pálida. Graças a ela, mergulhávamos nossas almas nos sonhos, líamos, escrevíamos, ou conversávamos, até que o relógio nos advertisse da chegada da verdadeira escuridão. Então, saía pelas ruas, de braço dado, continuando a conversa do dia, ou vagando por toda parte, até hora avançada, à procura, entre as luzes desordenadas e as sombras da populosa cidade, daquelas inumeráveis excitações cerebrais que a tranqüila observação pode proporcionar.
(...)
Edgar Allan Poe - do conto Os assassinatos da rua Morgue
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