segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Não deixo de acreditar nas coisas porque não existem. Eu também posso me inventar para elas.

Fabrício Carpinejar

DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL, de Glauber Rocha, 1964


MODOS DE SUBJETIVAÇÃO

A existência  da  subjetividade é “nova” em psiquiatria. Os modos de subjetivação costumam não ser considerados, exceto os da própria psiquiatria como produção do doente, hoje, cerebralizado, biologizado e farmacologizado. Tanto é verdade que o conceito de subjetividade aparece em psicopatologia como estando ligado à psicologia. Neste sentido, surge a questão: quem fala ao  psiquiatra? Quem é aquele que  se diz  (ou diz que é) o paciente? Afinal, quem é o paciente? Quem fala? Aí está o motivo de se buscar uma teoria da subjetividade que responda pela subjetivação dos quadros nosológicos, mesmo os ditos orgânicos. Nas linhas classificatórias da CID-10 encontramos comportamentos, atos, condutas, sintomas, transtornos, mas nenhuma referência ao modo de subjetivação que precede e constitue tais alterações.Fim da psicopatologia? Transtorno mental seria o mesmo que transtorno cerebral ou de conduta? Ao contrário, propomos um descentramento radical em relação à medicina psiquiátrica.
(...)
A.M. in Trair a Psiquiatria

domingo, 29 de novembro de 2015

EFEITO...


OUTRO PROCESSO

Devemos participar também de todo o sofrimento que nos cerque. O que cada um de nós possui não é um corpo, mas um processo de crescimento que nos leva a experimentar todo tipo de dor. Assim como uma criança evolui através de todos os estágios da vida, até à velhice e à morte (cada um desses estágios aparentemente inatingível a partir do outro, seja por medo ou frustrado desejo), também evoluímos nós (não menos profundamente ligados à humanidade do que a nós mesmos) através de todo o sofrimento deste mundo. Não há lugar para justiça ao longo desse processo, da mesma maneira que não há para o medo da dor ou a atribuição de qualquer mérito a ela.
(...)
Franz Kafka 
A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar.

Sun Tzu

sábado, 28 de novembro de 2015

UMA MULTIPLICIDADE

Escrevemos o Anti-Edipo a dois. Como cada um de nós era vários, já era muita gente. Utilizamos tudo o que nos aproximava, o mais próximo e o mais distante. Distribuímos hábeis pseudônimos para dissimular. Por que preservamos nossos nomes? Por hábito, exclusivamente por hábito. Para passarmos despercebidos. Para tornar imperceptível, não a nós mesmos, mas o que nos faz agir, experimentar ou pensar. E, finalmente, porque é agradável falar como todo mundo e dizer o sol nasce, quando todo mundo sabe que essa é apenas uma maneira de falar. Não chegar ao ponto em que não se diz mais EU, mas ao ponto em que já não tem qualquer importância dizer ou não dizer EU. Não somos mais nós mesmos. Cada um reconhecerá os seus. Fomos ajudados, aspirados, multiplicados.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil Platôs, vol. 1

GEORGE BENSON - Beyond The Sea


Ou você se ocupa da política ou a política se ocupa de você.

J. P. Sartre

ANDRE KOHN


A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito. 

Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas, 
que puxa válvulas, que olha o relógio, 
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis, 
que vê a uva etc. etc. 

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.


Manoel de Barros
SENSIBILIDADES

Não! Nunca me zango! Nenhum ser humano pode fazer alguma coisa tão importante que mereça isso. A gente se zanga, com as pessoas quando acha que seus atos são importantes. Não sinto mais isso.
(...)
Carlos Castañeda

GRANDES ESCRITOS


Tenho tanta autoridade quanto o Papa, só não tenho tantas pessoas que acreditem nisso.

George Carlin
ABISMADO

Que semana! Entre a terça e a quarta, foram em cana o amigo de Lula, José Carlos Bumlai, e o líder de Dilma, Delcídio Amaral. Na sexta, descobriu-se que a Andrade Gutierrez, segunda maior empreiteira do país, entregou os pontos. Pagará multa de R$ 1 bilhão e confessará crimes que vão muito além da Petrobras. O país virou uma espécie de trem fantasma rumo ao precipício.

Para muitos, o mensalão foi a beira do abismo. O petrolão é a vivência do abismo. Com sua vocação para a busca das verdades mais profundas, sem limites, a força-tarefa da Lava Jato apresenta ao Brasil o lado de dentro do abismo. A caminho das profundezas, o brasileiro percebe que, vista desde o buraco, a crise é mais nítida. O grotesco ganha uma fabulosa visibilidade.

No abismo, o hipócrita tem cara de hipócrita, a incompetente tem jeitão de incompetente. E o séquito de canalhas tem a aparência de um cortejo de canalhas. Olhando de baixo, percebe-se com mais clareza a teia.

Delcídio tentou silenciar Nestor Cerveró, que coordenou a compra de Pasadena, que foi avalizada por Dilma, que era a bambambã do governo Lula, que é amigão de José Carlos Bumlai, que é pai de Fernando Barros Bumlai, que é marido de Neca Chaves Bumlai, que é filha de Pedro Chaves dos Santos, que é suplente de Delcídio, que monitorava os humores de Bumlai a pedido de Lula, que não sabia de nada.

Um país inteiro tem que cair para salvar a pantomima. Só a derrota nacional salva o grupo hegemônico.

Do Blog do Josias de Souza, 28/11/2015, 05:53 hs

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

YANN TIERSEN - Octobre


Quando muita gente insiste muito tempo em que você está errado, você deve estar certo.

Millôr Fernandes
SANGUE

O crânio do operário estava todo esfacelado, seu rosto absolutamente irreconhecível. (...)
– Mandem tocar de novo as máquinas – disse o gerente. – Não podemos ficar parados. Tempo é ouro.
Ouro... Por que era que os homens não se esqueciam nunca do ouro? Ouro lhe lembrava outra palavra: sangue. Tempo também era sangue. Ouro se fazia com sangue.

Érico Veríssimo in Olhai os lírios do campo

SIGA AQUELA ESTRELA...


LINHAS DE RISCO

A psiquiatria não é proprietária da saúde mental, a psicanálise não é proprietária do inconsciente. Tais enunciados seguem o método da análise institucional, ou seja, adotam uma concepção teórica que prioriza linhas institucionais inseridas em práticas sociais: um chute no cientificismo e no especialismo.  Ou melhor, as linhas institucionais são as próprias práticas, inclusive as teconologias do eu, já que estão “presas” em nós de relações subjetivas. “Subjetivo” não designa mais a pessoa, o eu, o individuo, etc, categorias marcadas com o selo de um humanismo esgotado. Ao contrário, “subjetivo” torna-se a forma de expressão social contextualizada na história da cultura onde a psiquiatria e a psicanálise, entre outras instituições, se instalam e se produzem. 
Assim, para a clínica psicopatológica, o Encontro com o paciente é um fio tênue onde ações terapêuticas se fazem, mesmo não se fazendo. Há um paradoxo consistindo a clínica, já que ela também é uma instituição, ou seja, uma forma social. O trabalho em saúde mental está, pois, imerso numa auto-análise e auto-criação incessantes, correndo o risco de destruir, amordaçar, sabotar o desejo, quando pareceria estar promovendo-o. Isso não é fácil de lidar, mesmo que possa ser dito.

A.M.
DECLARAÇÃO DO PRÍNCIPE

A religião é o ópio do povo.
Eu, como não sou religioso, tomo ópio mesmo.

----

O absoluto está
absolutamente
obsoleto.


Luís Olavo Fontes

AUGUST MACKE


CONTRACHEQUE LIVRE

Vinte e quatro horas depois de ter virado hóspede da filial brasiliense do PF’s Inn, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) recebeu uma boa notícia: seu contracheque não será retido, continuará livre.

O ainda senador dispõe de R$ 33,4 mil motivos para agradecer mensalmente ao Senado, que lhe concedeu nesta quinta-feira uma “licença especial”. Está prevista no regimento, mas nunca foi usada. Destina-se a premiar com verbas do contribuinte senadores privados da liberdade em função de processos criminais.

Desbravador do privilégio, Delcídio beliscará o seu, o meu, o nosso bolso desde a cadeia por pelo menos 4 meses. Depois disso, se continuar preso, terá de ceder a poltrona (e o contracheque) ao suplente.

Do Blog do Josias de Souza, 27/11/2015,00:16 hs

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

COMEÇANDO A MANHÃ

Delcídio do Amaral, senador do PT, é preso pela Polícia Federal

A Polícia Federal prendeu na manhã desta quarta-feira (25) o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado. Segundo investigadores, o senador foi preso por estar atrapalhando apurações da Operação Lava Jato.
O senador teria tentado dificultar a delação premiada de Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobras, sobre uma suposta participação de Delcídio em irregularidades na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
Também foram realizadas buscas e apreensões no gabiente de Delcídio, no Congresso. As ações desta manhã foram autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Além de Delcídio, a PF prendeu também o chefe de gabinete dele e um advogado ligado ao senador.
(...)
Camila Bonfim, da TV Globo, Brasília, 25/11/2015, 07:54 hs (horário de Brasília)
PEQUENOS CÉREBROS

O Ministério da Saúde informou nesta terça-feira (24) que já foram notificados 739 casos suspeitos de microcefalia em 160 cidades de nove estados do país. A principal hipótese para o surto continua sendo o contágio por zika vírus – identificado no Brasil pela primeira vez em abril. A microcefalia faz com que o bebê nasça com o crânio menor do que o normal.
O maior número de ocorrências ocorreu em Pernambuco – 487. No início da entrevista, o ministério havia divulgado que havia 520 casos suspeitos no país, mas os dados de Pernambuco foram atualizados ao final do anúncio.
Depois de Pernambuco, os estados com mais registros são Paraíba (96), Sergipe (54), Rio Grande do Norte (47), Piauí (27), Alagoas (10), Ceará (9), Bahia (8) e Goiás (1). Há uma morte sendo investigada, no Rio Grande do Norte. Até o dia 16 de novembro, quando foi divulgado o último boletim, havia 399 casos, em sete estados.
O aumento dos casos de microcefalia e a hipótese de uma relação com o vírus foram comunicados "verbalmente" à diretora da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/ONU), Carissa Etienne, na semana passada. O zika é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, assim como a dengue e o chikungunya.
"Todos os cientistas que tivemos contato até agora atribuem o surto de microcefalia, por enquanto circunscrito ao Nordeste, principalmente no estado de Pernambuco, ao zika vírus", declarou. Estamos com o problema potencializado. Além da dengue, que mata, além da chikungunya, que aleija temporariamente, temos o zika vírus, que aparentemente causa a microcefalia. [É] um problema de dimensões muito grandes que temos que enfrentar", disse o ministro Marcelo Castro.
"Estamos com o problema potencializado. Além da dengue, que mata, além da chikungunya, que aleija temporariamente, temos o zika vírus, que aparentemente causa a microcefalia. [É] um problema de dimensões muito grandes que temos que enfrentar"
Até o momento, não há nenhum tipo de tratamento disponível para a fase aguda da infecção por zika vírus, que dura cerca de três dias. O Ministério da Saúde orienta que grávidas ou mulheres que pretendem engravidar tenham “cuidado redobrado” para evitar infecções virais.
Os principais sintomas são febre baixa e manchas pelo corpo (exantema). Caso a relação do vírus com a anomalia na gravidez seja confirmada, o ministério afirma que vai “trabalhar ainda mais na prevenção e no combate ao mosquito transmissor”.
O ministro Marcelo Castro diz considerar diversas possibilidades para o combate à doença, que variam entre pôr telas com inseticidas em casas a inserir mosquitos transgênicos no meio ambiente.
(...)
Raquel Morais, do G1, DF, 24/11/2015,12:43 hs

PINA BAUSCH - Orphee et Eurydice


ALGO EXISTE

Algo existe num dia de verão,
No lento apagar de suas chamas,
Que me impele a ser solene.
Algo, num meio-dia de verão,
Uma fundura - um azul - uma fragrância,
Que o êxtase transcende.
Há, também, numa noite de verão,
Algo tão brilhante e arrebatador
Que só para ver aplaudo -
E escondo minha face inquisidora
Receando que um encanto assim tão trêmulo
E sutil, de mim se escape.


Emily Dickinson (tradução: Lúcia Olinto)

terça-feira, 24 de novembro de 2015

SÉRGIO MORO: leitor de Sun Tzu?

Há momentos em que a maior sabedoria é parecer não saber nada. Por isso, quando capaz, finja então ser incapaz; quando pronto, finja grande desespero; quando perto, finja estar longe; quando longe, faça acreditarem que está próximo.


Sun Tzu

HIERONYMUS BOSCH


OPERAÇÃO PASSE LIVRE

O pecuarista José Carlos Bumlai, detido na 21ª fase da operação, utilizou contratos da Petrobras para quitar dívida de R$ 12 milhões.

Preso na 21ª fase da Operação Lava Jato, o pecuarista José Carlos Bumlai tinha "amplo e direto acesso ao Palácio do Planalto" na época em que Luiz Inácio Lula da Silva era presidente, afirmaram procuradores do Ministério Público Federal, na manhã desta terça-feira (24). 

A facilidade com que o pecuarista circulava pela sede do governo federal petista era tão grande que acabou levando à nomeação da nova fase da investigação – batizada Operação Passe Livre, justamente pelo livre acesso que ele tinha.
(...)
 Do iG São Paulo,24/11/2015, 10:54 hs
FASCÍNIO

No centro, os dois pequenos buracos se abrindo num promontório, embaixo do qual outro buraco, um pouco maior, no sentido horizontal, ao abrir, mostra o brilho ocasional de retângulos de esmalte claro, quase branco. Em cima duas contas brilhantes, cor verde-cinza, capazes de um movimento rápido e inesperado. Riscos em volta, uns mais profundos, outros menos, sinais do código do tempo representando número de anos. Cada risco um determinado número de anos. Olho, fascinado. Todo dia olho, fascinado. Colados à direita e à esquerda do círculo em que se incrustam os buracos e as contas brilhantes acima, dois pedaços mais ou menos semicirculares do mesmo material da estrutura geral servem para captar sons, como conchas de um aparelho acústico. Pontos negros, marcas, cicatrizes de acontecimentos de outra forma esquecidos. Eis minha cara. 
Olho-a sempre e muito. Tenho mesmo a impressão de que jamais olhei tanto tempo, tantos anos, todo dia, uma mesma coisa. Gosto dela? Não gosto? Qual a minha opção? Só a de não olhá-la. Mas que outra se ofereceria assim, com tal intimidade, entra ano sai ano? Tenho de olhá-la para sempre e um dia. Ela me representa mais do que qualquer outra coisa, meu reflexo e minha delação, as pessoas me julgam por ela, me acusam por ela, me amam por ela e por ela me detestam. Na minúcia de seus poros, porém, só eu a conheço. E, se não a amo, não posso abandoná-la. O único afastamento que me permito é do próprio espelho, eu caminhando de costas, sem tirar os olhos dela, até que ela desapareça numa curva do quarto e eu possa ter a impressão de que nunca mais vou vê-la. Pura ilusão, porque o fascínio meu por ela é apenas igual ao dela por mim. E, ao me sentar, sozinho, para tomar um uísque no bar vazio e enquanto espero alguém, a primeira coisa que vejo é ela, ali no espelho à minha frente, esperando, melancólica, por um uísque igual ao meu, servido do mesmo jeito, ao mesmo tempo, pelo mesmo garçom.

Millor Fernandes

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

INCOMUNICAÇÃO

Como podemos nos entender (...), se nas palavras que digo coloco o sentido e o valor das coisas como se encontram dentro de mim; enquanto quem as escuta inevitavelmente as assume com o sentido e o valor que têm para si, do mundo que tem dentro de si?
(...)
Luigi Pirandello
foz do rio Doce: o mar

domingo, 22 de novembro de 2015

ATEÍSMO CRISTÃO

O teísmo cristão (Deus único), é mantido, sem que se perceba,por um ateismo implícito dos seus fiéis. Tal fato, no mínimo desconcertante para o senso comum, transmuta-se em ressentimento exalado contra os céticos, os ímpios, os ateus, os "sem-deus",e outros personagens com epítetos menos votados.Trata-se de um ateismo embutido em forças inconscientes, e por isso, poderosas.É, pois, absolutamente necessário aos militantes da fé, evitar tomar consciência da sua "pouca fé" e para isso ter êxito, acusar o incrédulo como encarnação do Mal e/ou diabolização da existência. Ora, o catolicismo ilustra bem tal estado de coisas, mas não só ele, ao contrário. É que o cristianismo, como modo de subjetivação secular, matriz de inúmeras religiões, espalha sua miséria psíquica por milhões de almas afundadas na culpa. A vida, como diz Nietzsche, passa então a ser JULGADA. Não por acaso, o Capitalismo Mundial Integrado (cf. F. Guattari) se serve dessa "verdade" monstruosa para codificar o desejo como racionalidade do Estado, do Eu, da Família, da Escola e de todas as instituições assassinas que pululam pelos quatro cantos da Terra. 

A.M.

ANTONIO CARLOS JOBIM - Eu Sei Que Vou Te Amar


Admirável aquele
cuja vida é um contínuo
relâmpago


Matsuo Bashô
FAZER

Tudo se resume à potência. Quando Kierkegaard fala da repetição como da segunda potência da consciência, “segunda” não significa uma segunda vez, mas o infinito que se diz de uma só vez, a eternidade que se diz num instante, o inconsciente que se diz da consciência, a potência “n”. E quando Nietzsche apresenta o eterno retorno como a expressão imediata da vontade de potência, de modo algum vontade de potência significa “querer a potência”, mas, ao contrário: seja o que for que se queira, elevar o que se quer à “enésima” potência, isto é, extrair a sua forma superior graças à operação seletiva da repetição no próprio eterno retorno. Forma superior de tudo o que é, eis a identidade imediata do eterno retorno e do super-homem. Não sugerimos qualquer semelhança entre o Dioniso de Nietzsche e o Deus de Kierkegaard. Pelo contrário, supomos, acreditamos que a diferença seja intransponível.
(...)
Gilles Deleuze in Diferença e Repetição

sábado, 21 de novembro de 2015

SEM RIO, SEM PEIXE

Rio arrasado, pesca inviabilizada, futuro assustador. Os pescadores que vivem na cidade de Tumiritinga (MG) e em outros municípios na rota da lama das barragens rompidas de Mariana, desamparados, são incapazes de imaginar os efeitos do desastre em suas vidas, mas sabem que eles foram imediatos.

"A pesca acabou. Tiraram 100% do nosso sustento", resume Cremilda Pereira Amorim, 58. Além de paralisar as atividades, a lama deixou os trabalhadores com medo de não ter como colocar comida na mesa de casa.

Os danos socioambientais são devastadores e praticamente inutilizaram o rio Doce -- após o rompimento de barragens da mineradora Samarco, em Mariana (MG), há mais de duas semanas. A enxurrada de rejeitos de minério continua a se deslocar pelo Espírito Santo em direção ao oceano Atlântico.
(...)
Gustavo Maia e Marcela Sevilla, do UOL em Tumiritinga, (MG), 21/11/2015, 16:28 hs

MARCEL CARAM


DESLOUCURA

Solução melhor é não enlouquecer mais do que já enlouquecemos, não tanto por virtude, mas por cálculo. Controlar essa loucura razoável: se formos razoavelmente loucos não precisaremos desses sanatórios porque é sabido que os saudáveis não entendem muito de loucura. O jeito é se virar em casa mesmo, sem testemunhas estranhas. Sem despesas.
(...)
Lygia Fagundes Telles
Todas as religiões são conspirações contra os profanos.

George Bernard Shaw

UAKTI /Tiquiê River/Japurá River (PHILIP GLASS)


CRISE IMÓVEL


O nó da crise parece longe de vir a ser desatado. Está claro que o governo investiu pesado numa operação-desmonte, até aqui bem-sucedida, tendo como peça fundamental o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, cuja missão consiste em brecar o rito do impeachment: nem encaminhá-lo, nem negá-lo.

Qualquer das duas opções – encaminhar ou arquivar - deflagra o processo, e a presidente Dilma levou a sério a advertência de Fernando Collor de que, uma vez iniciado, não há como detê-lo. Não convém desprezar a voz da experiência.

Cunha, que integrou todos os governos petistas, refluiu de sua atitude hostil inicial quando assumiu a presidência da Câmara, e perfilou-se à estratégia, comandada por Lula e Jacques Wagner.

Nada como o ronco de um camburão para desfazer arroubos de independência. Cunha luta para sobreviver e, mesmo sabendo que a hipótese de triunfo é remota, aceitou os termos da rendição.

O governo aciona uma espécie de estratégia das tesouras: de um lado, blinda Cunha, prometendo defendê-lo na comissão de ética (sim, existe uma, na Câmara!); de outro, orienta a militância – inclusive de aliados, como PSol e PCdoB - a exibir indignação moral contra Cunha. A tesoura está em movimento.

De um lado, Cunha é imobilizado pela esperança de ser salvo; de outro, faz o papel de boi de piranha, lançado separadamente ao rio, para o banquete das piranhas, enquanto o rebanho passa ao largo, livre do assédio.

A delinquência de Cunha, comparada às denúncias da praticada por gente do PT e por pelo menos dois ministros de Dilma – Aloizio Mercadante e Edinho Silva, além do próprio Lula -, é pinto.

Mas, concentrando nele a fúria moralista, o governo atravessa o rio da impunidade sem problemas. As piranhas concentram-se no boi Cunha. Está funcionando e o fim do ano se aproxima. Vencido 2015, o próximo ano trará seus próprios desafios e novas ações táticas serão concebidas. Nisso, o governo é bom.

Outro aliado é a espantosa inépcia oposicionista. À exceção de uns poucos discursos mais veementes de um ou outro parlamentar – e discurso não machuca ninguém -, a oposição nada de propositivo oferece à superação da crise, nem para derrubar o governo, nem para absorvê-lo. Assiste a tudo como observadora neutra. Marina Silva? Aécio Neves? FHC? Silêncios veementes.

Domingo passado, pela quarta vez este ano, as manifestações de rua movimentaram o país, nas capitais e no interior. Mais uma vez, a avenida paulista recebeu, segundo a Polícia Militar, um milhão de pessoas pedindo a saída da presidente. Nem mesmo a mídia, que parece acompanhar o refluxo do Congresso, deu grande importância.

Há quase um mês, manifestantes estão acampados em frente ao Congresso, pedindo que o pedido de impeachment seja examinado. A única resposta, até aqui, foi expô-los à ação de milícias travestidas de movimentos sociais, cada vez mais hostis e criminosas em sua ação predadora. A oposição nada diz ou faz.

Instalou-se um ambiente de exceção. Os caminhoneiros são punidos, com uma medida provisória inconstitucional, por obstruir as estradas, mas o MST é estimulado a fazê-lo.

Na manifestação de domingo, o acesso a Brasília estava barrado pela militância esquerdista. Os caminhoneiros viram-se numa situação singular, simultaneamente impedidos de parar e de trafegar, reprimidos não pela polícia (o Estado), mas pela militância, a soldo governamental.

A menos que Cunha se convença de que confiar na blindagem do governo é um delírio, e encaminhe o pedido de impeachment, o rito continuará este: nem sim, nem não, antes pelo contrário. Uma crise imóvel e anestesiada.

A hipótese de cassação pelo TSE, solicitada pelo PSDB, em vista do financiamento espúrio da campanha de Dilma, com dinheiro roubado da Petrobras – fato que a operação Lava Jato já evidenciou à exaustão -, é ainda mais remota, o que explica a indiferença dos tucanos à manobra bem-sucedida de manter na relatoria a ministra Maria Teresa, que queria arquivar o processo.

Enquanto isso, a economia continua a derreter, o desemprego exibe índices inéditos e a crise social prossegue em sua marcha inapelável e cada vez mais acelerada. É por aí que alguma coisa pode acontecer. Não há truques contra o desemprego e a alta do custo de vida – contra a realidade.

O governo pode até sobreviver, à base de manobras e trapaças, mas governar é outra coisa – e parece definitivamente fora de seu alcance. 


Ruy Fabiano, do Blog do Noblat,21/11/2015, 01:10 hs
Os olhos dos outros são prisões; seus pensamentos nossas celas.

Virginia Woolf

AMY WINEHOUSE - You Know I´m No Good


sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O  FIM  E  O  FIM  DO  DIAGNÓSTICO  PSIQUIÁTRICO  

Com o fim do diagnóstico psiquiátrico (enquanto instrumento terapêutico), restam os grandes conjuntos síndrômicos a balizarem a clínica. Eles brotam de um real atual atravessado pelo horror dos tempos. A morbidade psícossocial aniquila territórios subjetivos no cotidiano das velocidades caóticas. No caso brasileiro, uma opressão oficial sustentada pela democracia representativa traz à luz a sabotagem do desejo. Este sofre por ser interrompido, por não produzir produzindo e daí estancar em linhas patológicas a erosão crônica do Sentido. Em que acreditar? Nada mais resta exceto arcaísmos religiosos tanto quanto arcaísmos escolares, estatais, familiares, acadêmicos, jurídicos e tantos outros. Chamamos de arcaísmo a organização das transcendências (algo para além da vida, dores imaginárias, fantasmas) que, no caso da psiquiatria, substituem os verdadeiros problemas, espécie de mecanização do pensamento. A entronização e a reificação do cérebro cumprem, pois, a função de imbecilizar modos de subjetivação (a figura do técnico em saúde mental, por ex.) através da fabricação de pseudo-diagnósticos neurológicos (alguém já viu um cérebro funcionando?) voltados à reparação de circuitos lesionados e à venda de códigos científicos. Desse modo, o fim do diagnóstico é correlato ao começo de uma era onde tudo é tecnologia de controle ao gosto das populações consumidoras de ordens implícitas.

A.M.
LIRA ITABIRANA

I

O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.

II

Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!

III

A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.

IV

Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro? 


Carlos Drummond de Andrade

TERRORISMO


QUEM MATOU MAIS? DEUS OU O DIABO?

Na Bíblia, dá Deus, de goleada. De acordo com os relatos do livro, o Todo-Poderoso é responsável por exatas 2 270 365 mortes, enquanto o coisa-ruim ostenta em seu currículo de maldades apenas 10 eliminados. Esse surpreendente levantamento foi feito pelo blogueiro americano Steve Wells, editor do site Skeptic’s Annotated Bible (“A Bíblia Anotada do Cético”), skepticsannotatedbible.com, que reproduz a Bíblia em versão online e comentada. Depois de vasculhar todas as mortes narradas no livro, Steve publicou os dados na internet.
Segundo ele, mais de 99% das mortes em nome do Senhor estão no Velho Testamento – a maior matança foi quando Deus destruiu todas as cidades nos arredores de Gerara, na Palestina, tirando a vida de 1 milhão de pessoas. No Novo Testamento, só 3 pessoas foram mandadas desta para a melhor pelas mãos do Criador: o rei Herodes, Ananias e sua esposa, Safira. Já o Diabo é responsável pela morte dos 10 filhos de Jó. Steve diz ainda que a lista de vidas tiradas tanto por Deus quanto pelo Diabo pode ser muito maior. “Só no dilúvio, quando Ele pediu a Noé para construir a arca, cerca de 30 milhões de pessoas teriam sido varridas do mundo. Mas, como é um total difícil de estimar, só somei as mortes cujos números são especificamente citados na Bíblia”, diz ele.
Para quem acha que Steve é um ateu incendiário, uma surpresa: ele é mórmon e diz que não quis causar polêmicas com o levantamento. “Sou um cara religioso e temo a Deus. Principalmente agora.”

Rafael Tonon, Superinteressante, junho/2008

GRANDES ESCRITOS


O dinheiro não traz felicidade, mas provoca uma sensação tão parecida que é necessário um especialista para verificar a diferença...

Woody Allen
SEM SAÍDA

Por que há tão poucas pessoas interessantes? Em milhões, por que não há algumas? Devemos continuar a viver com esta espécie insípida e tediosa? O problema é que tenho de continuar a me relacionar com elas. Isto é, se eu quiser que as luzes continuem acesas, se eu quiser consertar este computador, se eu quiser dar descarga na privada, comprar um pneu novo, arrancar um dente ou abrir a minha barriga, tenho que continuar a me relacionar. Preciso dos desgraçados para as menores necessidades, mesmo que eles me causem horror. E horror é uma gentileza.
(...)
Charles Bukowski

WASSILY KANDINSKY


quinta-feira, 19 de novembro de 2015

SEM LUZ

Não tenhas medo, a escuridão em que estás metido aqui não é maior do que a que existe dentro do teu corpo; são duas escuridões separadas por uma pele, aposto que nunca tinhas pensado nisto. Transportas todo o tempo de um lado para outro uma escuridão, e isso não te assusta...
(...)
José Saramago
SAFENA

Sabe o que é um coração
amar ao máximo de seu sangue?
Bater até o auge de seu baticum?
Não, você não sabe de jeito nenhum.
Agora chega.
Reforma no meu peito!
Pedreiros, pintores, raspadores de mágoas
aproximem-se!
Rolos, rolas, tinta, tijolo
comecem a obra!
Por favor, mestre de Horas
Tempo, meu fiel carpinteiro
comece você primeiro passando verniz nos móveis
e vamos tudo de novo do novo começo.

Iansã, Oxum, Afrodite, Vênus e Nossa Senhora
apertem os cintos
Adeus ao sinto muito do meu jeito
Pitos ventres pernas
aticem as velas
que lá vou de novo na solteirice
exposta ao mar da mulatice
à honra das novas uniões

Vassouras, rodos, águas, flanelas e cercas
Protejam as beiras
lustrem as superfícies
aspirem os tapetes
Vai começar o banquete
de amar de novo
Gatos, heróis, artistas, príncipes e foliões
Façam todos suas inscrições.
Sim. Vestirei vermelho carmim escarlate

O homem que hoje me amar
Encontrará outro lá dentro.
Pois que o mate.

Elisa Lucinda

VALE DA LAMA: O ASSASSINATO DO RIO DOCE

Itapína, distrito de Colatina, ES

SERVIDÃO VOLUNTÁRIA

Não basta que as condições de trabalho apareçam num pólo como capital e no outro pólo, pessoas que nada tem para vender a não ser sua força de trabalho. Não basta também forçarem-nas a se venderem vonlutariamente. Na evolução da produção capitalista, desenvolve-se uma classe de trabalhadores que, por educação, tradição, costume, reconhece as exigências daquele modo de produção como leis naturais evidentes.
(...)
Karl Marx

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

JOÃO BOSCO - Agnus Sei


Na infância... Bastava sol lá fora e o resto se resolvia.

Fabrício Carpinejar
TEOLOGIA/ 1

O catecismo me ensinou, na infância, a fazer o bem por interesse e não fazer o mal por medo. Deus me oferecia castigos e recompensas, me ameaçava com o inferno e me prometia o céu; e eu temia e acreditava.
Passaram-se os anos. Eu já não temo nem creio. E, em todo caso – penso – se mereço ser assado cozido no caldeirão do inferno, condenado ao fogo lento e eterno, que assim seja. Assim me salvarei do purgatório, que está cheio de horríveis turistas da classe média; e no final das contas, se fará justiça.
Sinceramente: merecer, mereço. Nunca matei ninguém, é verdade, mas por falta de coragem ou de tempo, e não por falta de querer. Não vou à missa aos domingos, nem nos dias de guarda. Cobicei quase todas as mulheres de meus próximos, exceto as feias, e assim violei, pelo menos em intenção, a propriedade privada que Deus pessoalmente sacramentou nas tábuas de Moisés: Não cobiçarás a mulher de teu próximo nem seu touro, nem seu asno... E como se fosse pouco, com premeditação e deslealdade cometi o ato do amor sem o nobre propósito de reproduzir a mão-de-obra. Sei muito bem que o pecado carnal não é bem visto no céu; mas desconfio que Deus condena o que ignora. 
(...)
Eduardo Galeano

terça-feira, 17 de novembro de 2015

MAIS TERROR - 2

SAMARCO ADMITE QUE BARRAGENS AINDA PODEM ROMPER EM MARIANA

(...) A barragem de Santarém, que represa parte dos rejeitos da barragem do Fundão, que rompeu e causa a onda de lama que matou várias pessoas e segue pelo rio Doce,  pode também romper já que foi danificada após o desastre de Mariana (MG). A barragem de Germano, mais distante de ambos, também corre riscos.
(...)
Do UOL (Rayder Bragon) Belo Horizinte,17/11/2015, 17:18 hs

HIERONYMUS BOSCH


VERDADE?

O Estado é o mais frio de todos os monstros frios; mente friamente e eis a mentira que escorrega da sua boca: ‘ Eu, o Estado, sou o Povo".
(...)
Nietzsche

MAIS TERROR

Rússia diz que bomba derrubou avião no Egito e afirma que ato foi terrorista

O Serviço de Segurança Federal da Rússia (FSB) disse nesta terça-feira (16) que a queda do avião russo sobre o Sinai, no Egito, em outubro foi resultado de um ato terrorista, causado por uma bomba que explodiu a bordo.
Segundo a FSB, traços de explosivos foram encontrados nos destroços da aeronave. O avião da companhia áerea russa KogalimAvia, mais conhecida como Metrojet, caiu no dia 31 de outubro pouco após decolar do litoral do Egito com destino a São Petersburgo, na Rússia.
As 224 pessoas a bordo morreram. O Estado Islâmico reivindicou a queda, mas sem explicar como teria executado o ataque.
(...)
Da Globo.com, 17/11/2015,atualizado em 05:58 hs

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

ELBA RAMALHO, ZÉ RAMALHO, GERALDO AZEVEDO - Taxi Lunar


Alma e Realidade, Duas Paisagens Sobrepostas

1 - Em todo o momento de atividade mental acontece em nós um duplo fenômeno de percepção: ao mesmo tempo que temos consciência de um estado de alma, temos diante de nós, impressionando-nos os sentidos que estão virados para o exterior, uma paisagem qualquer, entendendo por paisagem, para conveniência de frases, tudo o que forma o mundo exterior num determinado momento da nossa percepção.
2 - Todo o estado de alma é uma passagem. Isto é, todo o estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. Há em nós um espaço interior onde a matéria da nossa vida física se agita. Assim uma tristeza é um lago morto dentro de nós, uma alegria um dia de sol no nosso espírito. E - mesmo que se não queira admitir que todo o estado de alma é uma paisagem - pode ao menos admitir-se que todo o estado de alma se pode representar por uma paisagem. Se eu disser "Há sol nos meus pensamentos", ninguém compreenderá que os meus pensamentos são tristes.
3 - Assim, tendo nós, ao mesmo tempo, consciência do exterior e do nosso espírito, e sendo o nosso espírito uma paisagem, temos ao mesmo tempo consciência de duas paisagens. Ora, essas paisagens fundem-se, interpenetram-se, de modo que o nosso estado de alma, seja ele qual for, sofre um pouco da paisagem que estamos vendo - num dia de sol uma alma triste não pode estar tão triste como num dia de chuva - e, também, a paisagem exterior sofre do nosso estado de alma - é de todos os tempos dizer-se, sobretudo em verso, coisas como que «na ausência da amada o sol não brilha», e outras coisas assim. De maneira que a arte que queira representar bem a realidade terá de a dar através duma representação simultânea da paisagem interior e da paisagem exterior. Resulta que terá de tentar dar uma intersecção de duas paisagens. Têm de ser duas paisagens, mas pode ser - não se querendo admitir que um estado de alma é uma paisagem - que se queira simplesmente interseccionar um estado de alma (puro e simples sentimento) com a paisagem exterior. [...]

Fernando Pessoa

domingo, 15 de novembro de 2015

O FUTURO, HOJE

Para além e aquém das análises (opiniões?) ideológicas dualísticas do tipo " o Bem contra o Mal" e centenas de simplismos políticos ancorados na espetacularização midiática, o Terror em Paris na recente sexta-feira, 13, trouxe uma questão filosófica, imediatamente prática, sobre o futuro do planeta. Assim, na contra-mão da angústia espiritualista que indaga "haverá morte após a vida?", tormou-se urgentíssima e atual a inversão da pergunta: "haverá vida antes da morte?" .Ou, parafraseando Primo Levi, "é isso, a vida?"

A.M.
NÃO PRECISA
 

Não precisa me acordar

Eu acordo sozinho.

Primeiro olho o mundo torto

depois me enrosco na manhã da manhã.


Eudoro Augusto

PAUL VIRILIO - Pensar a Velocidade


Qual seria a sua idade se você não soubesse quantos anos você tem?

Confúcio
DESONRA AO MÉRITO


Nada ilustra melhor a cultura da conciliação – melhor seria dizer da cumplicidade – que a tentativa da Câmara dos Deputados de conferir ao juiz Sérgio Moro a medalha do Mérito Legislativo, no exato momento em que a instituição está sob forte crivo judicial.

Sérgio Moro, claro, não aceitou. E não escondeu os motivos: “No presente momento, havendo parlamentares federais denunciados em decorrência da Operação Lava Jato, também não me sentiria confortável em receber o aludido prêmio, o que poderia ser mal interpretado ou gerar constrangimentos desnecessários.”

Desnecessária também a explicação, que só seria imperativa se, inversamente, ele tivesse aceitado. Nesse caso, estaria jogando ao lixo todo o esforço até aqui empreendido para quebrar o ciclo histórico da impunidade, que marca a vida pública no Brasil.

Imaginem a cena: Eduardo Cunha, presidente da Câmara, à frente da sessão solene, colando a medalha ao peito do juiz de uma operação que investiga atos ilícitos de umas cinco dezenas de parlamentares, inclusive dele próprio, Eduardo Cunha.

Os réus condecorando o juiz.

Conciliação, em si, não é ruim. Depende das bases em que se firma. Se o conflito se funda em questões meramente doutrinárias ou ideológicas, há mérito em se buscar um denominador comum, que leve à convivência civilizada.

É essa na realidade a finalidade da política, degrau evolutivo da humanidade, ao criar alternativa pacífica à guerra, única via inicial de solução para as divergências, que adiante reapareciam, ainda mais cruentas, ainda mais insensatas.

Aristóteles considerava a política, nos termos originais em que foi concebida, como a mais elevada criação humana, se observados os seus princípios éticos. Desnecessário dizer que não foram – e não são. Desde Maquiavel, o quadro se agravou; a hipocrisia cedeu lugar ao escracho e a trapaça tornou-se a arma de preservação do poder.

Os conselhos que, entre os séculos 15 e 16, Maquiavel dava ao príncipe – o governante de plantão - prescindiam da moral e buscavam tão somente a eficácia no manejo do poder. Antônio Gramsci, fundador do Partido Comunista italiano, viu, no início do século passado, que o príncipe contemporâneo era o próprio partido – e sofisticou os conselhos. A Era PT levou-os ao paroxismo.

No caso presente, as bases de conciliação são podres, já que o que separa os lados não é um conflito, mas um crime – vários crimes, na verdade. Não há conciliação acima da lei.

O que se buscou, ainda que não tenha sido essa a intenção do deputado que propôs a comenda, Rubens Bueno (PPS-PR), foi constranger o juiz. Um suborno moral. O deputado Bueno não está na Lava Jato e integra um partido que tem estimulado as investigações. Não agiu de má fé.

Mas foi no mínimo ingênuo em supor que a Câmara dos Deputados, fosse, neste momento, instância adequada para esse tipo de homenagem. A mesma Câmara, que acaba de aprovar a repatriação de dinheiro ilícito depositado no exterior, para ser legitimado (isto é, lavado), mediante pagamento de imposto – e que servirá para livrar da cadeia gente já condenada pelo juiz Sérgio Moro -, incide com essa proposta de homenagem em crime (ainda que não previsto no Código Penal) de cara-de-pau.

Embora ninguém possa tirar do Executivo o protagonismo pela diarreia cívica por que passa o país, não há dúvida de que Legislativo e Judiciário contribuem com considerável taxa de toxina moral para o vexame em curso.

Sérgio Moro já deu mostras de que não é bobo – e, ao ser confundido como tal, mostra que a bobeira, sim, se apossou do próprio Congresso, que ainda não percebeu a responsabilidade moral e histórica que lhe pesa neste momento.

O vaivém do impeachment, submetido às mais abjetas negociações políticas, em confronto explícito com a vontade da sociedade, que deveria estar ali representada, é uma mácula que atravessará gerações. Como não quer se livrar da corrupção pela única via disponível – a aplicação da lei -, tenta a Câmara estendê-la a quem se incumbe de fazê-lo, arrostando todos os revezes que daí resultam. Oferecer tal comenda, nessas circunstâncias, configura desonra ao mérito, que o juiz fez muito bem em rejeitar.

Honra e mérito, afinal, não lhe faltam – e o que tem feito até aqui dispensa medalhas, discursos e solenidades. 

Ruy Fabiano,  do blog do Noblat, 14/11/2015, 01:10 hs

GRUPO CORPO - Triz


sábado, 14 de novembro de 2015

O ESTADO SUBJETIVO

O Estado proporciona ao pensamento uma forma de interioridade, mas o pensamento proporciona a essa interioridade uma forma de universalidade: "a finalidade da organização mundial é a satisfação dos indivíduos racionais no interior de Estados particulares livres". É uma curiosa troca que se produz entre o Estado e a razão, mas essa troca é igualmente uma proposição analítica, visto que a razão realizada se confunde com o Estado de direito, assim como o Estado de fato é o devir da razão. Na filosofia dita moderna e no Estado dito moderno ou racional, tudo gira em torno do legislador e do sujeito. É preciso que o Estado realize a distinção entre o legislador e o sujeito em condições formais tais que o pensamento, de seu lado, possa pensar sua identidade. Obedece sempre, pois quanto mais obedeceres, mais serás senhor, visto que só obedecerás à razão pura, isto é, a ti mesmo... Desde que a filosofia se atribuiu ao papel de fundamento, não parou de bendizer os poderes estabelecidos, e decalcar sua doutrina das faculdades dos órgãos de poder do Estado.
(...)
G.Deleuze e F. Guattari in Mil Platôs, vol. 5
ÁRVORE

Um passarinho pediu a meu irmão para ser sua árvore.
Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de
sol, de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo
mais do que os padres lhes ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus.
Seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor o azul.
E descobriu que uma casca vazia de cigarra esquecida
no tronco das árvores só serve pra poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores são vaidosas.
Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se transformara,
envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pássaros
E tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos brejos.
Meu irmão agradecia a Deus aquela permanência em árvore
porque fez amizade com muitas borboletas.

Manoel de Barros

ZDZISLAW BEKSINSKI


GOVERNAMENTALIDADE E TERRORISMO DE ESTADO


O domínio da filosofia política é o que tem sido verdadeiramente desafiado a responder a questões difíceis levantadas pela violência política, pelas guerras, pelos campos de concentração, pelos campos de extermínio e pelos assassinatos indiretos causados pela gestão burocrática da economia e da vida das pessoas. As duas guerras mundiais, as continuadas guerras imperialistas, as perseguições políticas em todo o mundo, inclusive na América Latina e no Brasil, as práticas de eliminação de grupos sociais, o descaso no suporte e auxílio a doentes, pobres e necessitados, são alguns exemplos em uma lista extensa de desmandos e excessos de poder.
No mundo contemporâneo, razão científica e tecnológica podem conviver com a irracionalidade política, o que não deixa de ser um fato paradoxal, uma vez que a ciência e a tecnologia trouxeram também benefícios e contribuições positivas para a vida de muitas pessoas. Por este motivo, Michel Foucault procurou analisar as diversas técnicas de poder que foram sucessivamente praticadas no mundo ocidental nos últimos séculos. As técnicas de poder que Foucault analisou resultaram no que o filósofo denominou de “governamentalidade”: um conjunto de técnicas de gestão da população e dos agentes econômicos que resultam em contextos de poder propriamente contemporâneos, não podendo ser confundida com a soberania que preocupa-se, sobretudo, com o controle e manutenção do poder do soberano sobre o povo ou cidadãos.
O poder na modernidade é realizado por várias instituições e muitos conhecimentos e saberes. Foucault tem a percepção de que a explicação do poder somente pelo papel do Estado e de seus departamentos não pode dar conta de todos os campos reais e efetivos nos quais o poder acontece. O poder tem tal alcance e está tão disseminado nos múltiplos lugares da vida social que, em certos casos, pode levar a possíveis abusos e a possíveis patologias do poder que estão conectadas ou sintonizadas com segmentos importantes do mundo social e político, tão extensos, de dimensão capilar e disseminados no mundo social que não se restringem nem poderiam estar limitados ao campo circunscrito da esfera estatal. A prática efetiva do poder, desde o começo do século 20, não se limita ao âmbito do Estado; antes disto, está articulado a uma série de parceiros e instituições que compartilham, em uma gigantesca rede, de todo um domínio de poder e de intervenção social que vai das grandes instituições até os pequenos acontecimentos e relações interpessoais.
Quando o que está em questão são os excessos de poder, não trata-se de uma influência ideológica nem mesmo de um fato histórico particular e localizado, como o nazismo e stalinismo; temos diante de nós, isto sim, uma tecnologia de poder nascida em meados do século 18, e que tem por alvo a regulação da população, que Foucault denomina de biopolítica da espécie humana. Este novo poder funcionaria diferentemente do poder de soberania, que consiste em fazer viver e deixar morrer. Michel Foucault no curso “Em defesa da sociedade”, demonstra sua indignação com o fato de que o Estado moderno tenha passado a eliminar sua própria população, o que contraria seus objetivos e sua razão de ser, pois como um poder que tem por objetivo fazer viver pode deixar morrer? A prática do poder, assim, leva a objetivos que contrariam seus desígnios iniciais.
Para Foucault, o fascismo e o stalinismo utilizaram e alargaram mecanismos já existentes na maioria das outras sociedades. Estes sistemas políticos utilizaram as ideias e os procedimentos de nossa racionalidade política. A racionalidade política, acompanhada dos conhecimentos técnicos e científicos, tem realizado as mais diversas modalidades de crimes e assassinatos em massa, em distintas escalas, em práticas que vão da guerra ao descaso com os não cobertos pela seguridade social, de maneira a que tal articulação se passe nos mais diversos campos de intervenção social, tais como os campos jurídicos, médicos, militares, pouco importa, desde que funcione algum modo de controle, de exclusão, de eliminação.
Vale a pena ressaltar que duas ideias importante apresentadas no curso “Segurança, território, população”, a saber, a governamentalidade e o golpe de Estado não são antagônicos. Na governamentalidade, o mundo democrático, construído a partir da decisão popular e amparado nas leis seria, segundo Foucault, um mundo da gestão dos interesses da população, considerada enquanto categoria abstrata e sem carne e sangue. Tudo seria normal se não entrasse em jogo a ideia de golpe de Estado, ou seja, a ideia de que a governamentalidade traz em si mesma um aspecto absolutamente inusitado, em certas condições excepcionais, pelas quais as regras do jogo político passam a ser ameaçados e são anuladas. É neste ponto limítrofe que se inicia o golpe de Estado, entendido enquanto iniciativa e ação feitos pelo próprio Estado. Neste caso, temos de deixar claro que a noção de golpe de Estado, em Foucault, é sinônimo de Estado de sítio ou Estado de exceção, situação que se desencadeia por dispositivos constitucionais e que é realizado pelo próprio Estado, em caso de ameaça (real ou fictícia) externa ou interna. A noção tradicional de golpe de Estado, por sua vez, seria o objeto da análise do filósofo. Através dele torna-se perfeitamente cabível que façamos a associação entre golpe de Estado e terrorismo de Estado.
Segundo o filósofo francês, que se apóia em um teórico pouco conhecido do século 17, Naudé, o golpe de Estado é uma suspensão das leis e da legalidade que excede o direito comum. O Estado abandona o exercício racional e gestor da vida socioeconômica, de caráter administrativo, para ter um desempenho completamente diferente, pois a razão de Estado pode converter-se em golpe de Estado, e passa a ser violento. Violento é levado a sacrificar, a despedaçar, a fazer o mal, passando a ser injusto e assassino. Tal violência, ademais, é e deve ser teatral, não somente para impactar, mas também para mostrar que sua intervenção deverá ser durável ou irreversível. Finalmente, o Estado, neste processo, leva muito longe o desejo de reparação no golpe de Estado, justificando, em muitos casos, o teatro político, a exibição de poderio policial ou militar. Nesta condição, não existe antinomia, no que concerne ao Estado, entre razão e violência. É possível afirmar, inclusive, que a violência de Estado, nada mais é do que a manifestação impactante de sua própria razão. O golpe de Estado é inerente ao Estado, e a partir dele surge a expressão terrorismo de Estado, que é a manifestação da violência do Estado face à sua população e ao sistema legal.
Em consequência, a oposição entre governamentalidade (gestão) e golpe de Estado (violência) é meramente retórica, e traz a grande lição de que a política, na modernidade, aceita violências como sendo a forma mais pura da razão e da razão de Estado. Na raiz e no cerne da racionalidade política está a violência, a tendência ao genocídio e ao extermínio, fato irrefutável do presente histórico. O Estado e o crime de Estado, o terrorismo de Estado, são manifestações da própria razão de ser do Estado. Eles coabitam na paradoxal interface entre legalidade e violência. Todavia, há que se manter a fé nas lutas de resistência e pelos direitos das populações, pois os crimes perpetrados pelos Estados não podem ser nem duráveis nem constantes. O Estado de exceção, o Estado de sítio é uma possibilidade política e jurídica ocasional, que ocorre às vezes em um determinado país, em certas condições, em um período de tempo. Nunca houve, na história, um Estado de exceção, um terrorismo de Estado que durasse séculos, devido às constantes lutas agonísticas das populações e da sociedade organizada contrárias a um exercício de poder unívoco. Neste sentido, a hipótese de Giorgio Agambem sobre a constância do Estado de exceção na modernidade é muito questionável e não se sustenta, pois desmerece o poder das fortes lutas de resistência e por direitos políticos realizados por grupos humanos, em muitas partes do planeta.
Certamente, o ápice do terrorismo de Estado não está na eliminação dos indesejáveis, de parcelas da população que foram ou podem passar a ser indesejáveis e elimináveis. Um exemplo marcante: em entrevista ao jornalista Ceverino Reato, o general Jorge Videla revelou que em decretos privados, os chefes militares na ditadura Argentina, entre 1976 e 1981, foram liberados para utilizar a sigla D.F. para que alguém fosse eliminado. Tal sigla, na gíria militar argentina, disposicíon final, dizia respeito aos uniformes ou botas que não servem mais. Neste período a sigla foi aplicada, sobretudo, àqueles que foram assassinados por motivos políticos. O próprio Videla afirmou ter escrito a sigla várias vezes em vários documentos e calculou que foram eliminadas perto de nove mil pessoas apenas com tal procedimento.
O maior poder de eliminação, do qual quase ninguém fala e Foucault insiste neste ponto, está no paradoxal caráter suicida do Estado: o poder atômico passa a ser uma espécie de paradoxo difícil de contornar, ou mesmo absolutamente incontornável, é o fato de que, no poder de fabricar e de utilizar a bomba atômica, pôs-se em cena um poder que é o de eliminar a vida, e de se auto-suprimir como poder de manter a vida. Por outro lado, se pensarmos no estoque de bombas de hidrogênio e do potencial de destruição absoluta de toda e qualquer forma de vida da vida no planeta, temos que reconhecer que o limiar do Estado, seu ponto máximo, é seu poder de destruição total, de caráter totalmente suicida. Foucault lembra que o caráter suicida do Estado chega a seu ápice paradoxal na fabricação de vírus incontroláveis e universalmente destruidores.
As decisões burocráticas, por outro lado, podem levar as pessoas a condições de extrema fragilidade e impotência, e a viverem um estado de constante temor. Fazer com que certas pessoas ou grupos sociais passem a não ter mais direito a certos benefícios – ou, o que é mais terrível, a não ter mais direito a um determinado atendimento médico quando eventualmente necessitar –, eis uma situação que pode acontecer. Tal processo intimidador pode levar muitas pessoas a um estado de submissão em nome de uma possível segurança (que por sinal nunca se mostra categórica), dependentes que são dos sistemas de seguridade social. O modo de vida das pessoas passa a ser cerceado e vigiado, pessoas cada vez mais dependentes e assujeitadas são postas e dispostas pelas sutis tecnologias de poder existentes na era do controle e da governamentalidade. As pessoas passam a ser responsabilizadas pelos efeitos médicos e legais da vida que levaram ou ainda levam – se contrárias ao padrão desejável – e podem ser excluídas caso não se adaptem às regras do jogo burocrático e político.
Por outro lado, a imigração e expatriação podem tornar-se um modo terrível de elisão, de desaparição. A percepção de Foucault é sutil, porque não acarreta somente na morte de forma direta, mas também no que poderia ser assassinato indireto, ao fato de expor pessoas à morte política, econômica, cultural. A multidão dos ameaçados pela fome nos países periféricos, os que abandonam suas casas e países às vezes sem poder levar nada, os grandes contingentes populacionais que vão em busca de uma vida melhor (ainda que seja uma vida humilhada), são milhões. A rota de acesso para a entrada nos países “ricos” é difícil, milhares de pessoas morrem à míngua em meios de transportes inapropriados, ou são eliminados por contrabandistas de carga humana. Por outro lado, em terras estrangeiras, muitas vezes sem qualquer amparo legal, uma multidão de pessoas, em busca tão somente de uma vida melhor, vivem excluídas do convívio social e dos direitos formais. Convertem-se em trabalhadores com pouco custo trabalhista. Os exilados são a mão de obra barata do capitalismo, descartáveis e hostilizados. A grande massa da exclusão, constituída pelos estrangeiros, pelos estranhos, pelos apátridas, a muito custo chegam a uma conquista social semelhante às suas aspirações.
Para concluir: se o Estado tem na sua raiz a violência, a resistência ao poder deve visar à eliminação do próprio Estado, os excessos de poder e o terrorismo de Estado. A resistência ao poder, todavia, não é só política: tem por objetivo a preservação da vida.

Guilherme Castelo Branco, Revista Cult, publicado em 08/08/2014