domingo, 8 de novembro de 2015

POLÍTICA DA HISTERIA

A psicopatologia do século XXI assiste à histeria não mais como uma entidade clínica, ao estilo dos tempos freudianos. Bem mais, o que hoje observamos são sintomas histéricos esparsos inscritos em corpos-organismos que a psiquiatria e saberes correlatos instituiram e instituem sem cessar. Depressões, psicoses, manias, somatoses, anorexias e outras síndromes inomináveis, traçam um mosaico de sintomas que faz por estabelecer e preparar um campo nosológico "ideal" para o uso de psicofármacos. Trata-se de um máquina clínica funcionando na consciência do sofrimento psíquico, não só do paciente, mas dos que estão em torno (familiares, amigos, colegas, etc). A histeria não deixa dúvidas: o corpo que "não aguenta mais" (cf  David Lapoujade) é o corpo dos supliciados pela culpa, pelo ressentimento e pela vingança. Nesse mister a forma-religião cumpre um papel milenar, a essa altura da História em aliança plena com as relações sociais capitalísticas. A política, distanciada e relegada às funções do Estado opressor, desaparece e reaparece como dor de existir em cada cidadão, mesmo e principalmente quando ele não o admite e prossegue o consumo de imagens-clichês nas telas do horror consentido e desejado.

A.M.

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