TEMPO E LIBERDADE
A espécie humana burla a si mesma.
E quando o faz, é em função daquilo que chama de progresso.
Se há uma linha que nos perpassa a todos, ou seja, se houver alguma essência humana, ela reside na liberdade. Daí,
podemos dizer que o homem é fatalmente livre, pois que suas ações se direcionam
à conquista da alforria plena. Aqui, é possível observar a concepção das
instituições penais e da pena privativa de liberdade, como a desumanização
institucionalizada do sujeito; a assunção da possibilidade de termos amputada nossa
elementar característica de seres livres, pelo Estado, que, a priori, já se
punha a balizar nosso direito de ir, ver e vir.
Os aprisionamentos de agora ultrapassam
os muros dos manicômios, prisões ou conventos, chegando em qualquer corpo que
goza diariamente sua vida tranquila enquanto contribuinte ou fiel dizimista.
Quando não estamos enjaulados no tempo futuro, na busca de algo que não
chegará, debruçamo-nos sobre o passado, de maneira pouco reflexiva, lamuriante
e lamentável. Estamos imobilizados, ensimesmados na bolha do ego, e com vontade
de vencer na vida, mirando a
liberdade.
É preciso perceber que a liberdade não está lá. Liberdade já é.
O ser humano moderno, através da sua inteligência ,
por meio de verdades cientificamente construídas e desenhos muito bem
elaborados, criou procedimentos e percebeu necessidades que, quando
satisfeitas, causam (ou causarão) uma catástrofe global. Forjamos a ideia de
progresso negligenciando o fato de que os recursos são limitados e a
resiliência do planeta não é tão rápida quanto a nossa capacidade de depredá-lo.
Trágico é perceber que todos, em
algum tempo, sofrem as consequências deste esquema (apesar de alguns poucos
indivíduos e corporações enxergarem benefício na acumulação predatória de
dinheiro e exploração desmedida de toda e qualquer fonte produtiva ) e que,
mesmo sabendo e sentindo, permanecem correndo sem tempo em volta do próprio
eixo
ou rabo
(somos uma sociedade de cães correndo atrás de seus próprios rabos )
retroalimentando
o que lhes mortifica.
Diante de tudo, nos cabe ultrapassar o
progresso , superá-lo, abandonando-o.
Os descaminhos desta inteligência humana nos faz preferir a
trilha do instinto selvagem : Harmônico e perene, dinamicamente instável
e realmente caótico. Repleto, abundante, desnecessitado e livre .
Não há como ou por quê progredir nessa liberdade selvagem, pois ela é e existe,
mais do que está.
A liberdade comprada tem dono, cria assujeitamentos por intertextos confusos, e
ilude quem a ambiciona.
A expropriação da liberdade crua
pela estrutura que nos asfixia, é o verdadeiro crime não tipificado sobre o
qual devemos nos prevenir e reagir. O tempo que nos foi tomado é o azeite da
máquina de moer gente e o palco do aniquilamento de toda tentativa de fuga por
nós desenhada.
Precisamos de tempo para ver,
contemplar, pensar, duvidar, pensar a dúvida e fazer o movimento que nos moverá
para outro lugar, a ser descoberto. Tempo para sermos livres.
Autor desconhecido
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