domingo, 2 de outubro de 2016

A PSIQUIATRIA BIOLÓGICA E SEUS LIMITES

Os diagnósticos psiquiátricos "transtorno do humor" e "esquizofrenia" foram estabelecidos de acordo com uma ótica biomédica, ou seja, considerando-se o estado de saúde do organismo físico-químico, o que, óbvio, inclui o senhor cérebro. Isso não é um erro, mas tão só uma limitação do método, tanto a nível de pesquisa acadêmica quanto na intervenção terapêutica (clínica) sobre o paciente. Desconsiderar os processos subjetivos e tudo o que consiste de efeitos da cultura-em-nós faz da psiquiatria uma máquina institucional de diagnosticar/medicar atrelada a um espírito conservador em relação ao devir-social. Uma extra-territorialidade política justificada pela deusa-ciência. Tal premissa nos ajuda a pensar com clareza crítica reportagens midiáticas como a mais recente (30/09/2016) publicada em "Isto É" sobre diagnóstico laboratorial em casos de transtorno bipolar e esquizofrenia. Diferentes grupos de lipídios estariam presentes no sangue de pacientes associados a essas enfermidades. (cf. Unicamp/Unifesp). Como não bastasse tal assertiva escancaradamente biologicista, na Inglaterra, cientistas da University College of London trabalham em um exame capaz de apontar o risco de uma criança se tornar bipolar na vida adulta; (como assim?!). O recurso mede a concentração da interleucina-6, composto produzido pelo corpo para induzir uma resposta inflamatória depois de uma infecção ou trauma. Ora, é desagradável ter que repetir coisas tão elementares: não existe o transtorno bipolar ou a esquizofrenia. Existe, sim, a experiência bipolar ou a experiência esquizofrênica com toda a multiplicidade de vetores etiológicos (sociais, econômicos, familiares, culturais, religiosos, etc) que as constituem.

A.M.

Nenhum comentário:

Postar um comentário