domingo, 23 de outubro de 2016

ESQUERDA?

As urnas deram uma sova no Partido dos Trabalhadores. O PT despencou de 644 prefeituras para 256 – sem contar as sete que ainda vão disputar no segundo turno. Há quatro anos, a sigla conseguiu 17,2 milhões de votos; agora, foram apenas 6,8 milhões, o que representa uma quebra de 60%. É um baque gigantesco, não só para o PT, mas para toda a esquerda brasileira.

Você pode dizer que a tragédia não foi completa. Entre as 256 prefeituras ainda sob a estrela vermelha figuram algumas poucas cidades de algum peso, como a capital do Acre, Rio Branco. Você poderá dizer também que, fora do partido de Lula, o PSOL tem Marcelo Freixo no segundo turno do Rio de Janeiro. A essa altura, Freixo representa um alento para os que alimentam esperanças em bandeiras igualitárias e humanistas para o Brasil. Mas, mesmo assim, mesmo que a tragédia não seja completa, estamos falando de uma catástrofe.

O PT sai disso com sua identidade em crise. Em tempo: o PT é de esquerda? Os governos conduzidos por Lula e depois por Dilma abasteceram uma turma de empreiteiras (e grupos empresariais agregados) que representam a mentalidade mais retrógrada do capitalismo pátrio, baseada no compadrio, na aversão à concorrência de mercado e na proteção governamental. Os dutos de corrupção fartamente comprovados atestam que, no âmago desses governos, vigeu um modelo de rapina que exauriu empresas públicas e vitimou a população mais pobre. Isso lá é política de esquerda?

Chega a ser apavorante que alguns tenham considerado, por tanto tempo, que dava para ser de esquerda e, ao mesmo tempo, jurar obediência à ética do coronelismo parasitário. Os líderes dessa escola diziam que podiam instrumentalizar as oligarquias endinheiradas em favor de “transformações radicais” na sociedade. Incrível como enganaram tanta gente. Na verdade, eles instrumentalizaram o discurso das tais “transformações radicais” em favor dos cofres dos plutocratas primitivos – e dos seus próprios, é claro. Alegando “usar” os setores “reacionários” do capitalismo brasileiro em favor dos “pobres” e dos “oprimidos”, usaram os “pobres” para financiar o atraso.

E então? O PT é de esquerda? A conferir.
(...)

Eugênio Bucci, Época,21/10/2016, 17:35 hs

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