NA CONTRA-CORRENTE
A psiquiatria é um aparelho de poder filhote e subproduto da medicina, por sua vez uma megamáquína em escala planetária que produz, entre outras coisas, a medicalização da vida social. É preciso sempre mais doentes! Tal medicalização implica, antes de tudo, na fabricação de afetos coletivos"baixos" tais como a reverência à figura do médico, o medo à vida (no que se inclui a doença), a crença acrítica nos métodos e na palavra deificada da medicina, e no caso psiquiátrico, a fobia à loucura e à perda do controle sobre si. Assim, o que está em jogo, nas duas formas sociais citadas, é o empreendimento capitalístico voraz de controle massivo sobre corpos e mentes, aplicado pelas vias e veias do inconsciente-fábrica ( importante: a consciência vigil só recolhe os efeitos imediatos das formas de soberania política) a desejar o modo de vida contemporâneo. Ou seja, o capitalismo não apenas como pauperização econômica "natural" eterna e brutal de milhões de pessoas, mas como capital ("simples" relação social) instalado na alma: a servidão imunda.Tudo isso é invisivelmente explícito na vitrine internética e escancarado aos milhões numa sutil fabricação de indiferença e o ressurgir do leito esplêndido para um dualismo esgotado (esquerda versus direita) como é o caso do Brasil atual. De todo modo, voltando ao início desse texto menor, é possível dizer que a psiquiatria e seus psiquiatrizados, a medicina e seus medicalizados, compõem a superfície encantada do apoliticismo hegemônico e a sua correlata substituição pela tecnologia das virtualidades deliciantes.
A.M.
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