domingo, 2 de outubro de 2016

ETERNO RETORNO DO MESMO

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Quando me lembro do entusiasmo de algumas eleições passadas, sinto uma certa nostalgia do tempo em que havia esperança. Alguns acham que a esperança deveria voltar, como se fosse algo que pudéssemos fabricar a qualquer momento. Quem tem esperança nesse processo político merece respeito, mas está distante da realidade. Quantas vezes não ouviu essas promessas eleitorais? Quantas vezes não viu candidato dizendo que ele, sim, pode resolver os problemas da cidade?
O desgaste do processo político é um fenômeno de alcance mundial. Mas cada país o vive de acordo com sua trajetória histórica. Estamos sustentando um sistema apodrecido. Não é exato dizer que as pessoas que se afastam dele sejam alienadas. Se entendemos alienação como distância da realidade, é o sistema que se alienou, encastelando-se no próprio atraso, enquanto a sociedade avançava na aspereza cotidiana.
Quando examinamos simulações de segundo turno em alguns lugares, as coisas ficam muito claras. O índice de voto nulo é impressionante. Nem um nem outro. Esse nem um nem outro é uma espécie de mantra que ronda o sistema político brasileiro. Quase ninguém se sente representado.
Os movimentos moralizadores no Brasil, desde o tenentismo e algumas variáveis de esquerda, deram com os burros n’água. É uma ilusão, creio eu, pensar que apenas a entrada de pessoas honestas vai purificar o sistema. Desde Shakespeare, as pessoas são essencialmente as mesmas, com suas grandezas e misérias.
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Fernando Gabeira, 02/10/2016

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