sábado, 8 de outubro de 2016

NEUROMANIA: UMA DROGA

Por que estamos tentando explicar tudo pela neurociência?
Em parte por causa dos extraordinários avanços da área depois de mais pesquisadores terem acesso a equipamentos de ressonância magnética funcional [que tira “fotografias” da atividade do cérebro]. Eu mesmo fiz minhas contribuições para a neurociência. Só que essa evolução no entendimento do cérebro faz com que as pessoas confundam o fato de a atividade cerebral ser uma condição necessária para a consciência com a noção de que ela em si seria a própria consciência. É o que chamo de neuromania: achar que tudo que somos se deve ao cérebro e que a neuroatividade é a mesma coisa que nossa consciência.

Estamos enxergando a nossa mente como uma simples máquina?
Exatamente. Se passamos a achar que a consciência é apenas fruto de um conjunto de atividades cerebrais, basta compreender esses mecanismos para fazer nós mesmos funcionarmos melhor. Quem tem esse tipo de pensamento acha que a neurociência pode ser usada para fazer políticas sociais. Agora, dizem que não deveríamos nos preocupar com ideologia da direita ou da esquerda, mas com o que o hemisfério direito faz, ou com o que o hemisfério esquerdo coordena.

Mas há cientistas estudando drogas para mudar o comportamento, como a oxitocina.
Só posso rir ao ouvir isso. Quando era estudante, a oxitocina era a substância responsável por fazer o útero contrair. Agora, as pessoas viram que ela tem efeito, em alguns roedores, de fazer eles ficarem mais fiéis aos outros. Mas não há a possibilidade de administrar essa droga e transformar todo mundo numa espécie de zumbi moral, isso é bobagem. Se parar para pensar, há um problema maior nas formas mais tradicionais de manipular a mente humana, como o álcool..
(...)
Raymmond Tallis, entrevista em 04/11/2011, site "Discursos e Entrevistas"

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