NARCOCENÁRIO
O campo de batalha da guerra do crime no Brasil é a linha de fronteira, quase 17 mil km de rios, florestas, montanhas, pântanos e savanas pouco controlados pelo Estado nacional. O conflito envolve muito dinheiro; movimenta qualquer coisa como meio bilhão de dólares por ano, segundo as agências de inteligência e repressão aos narcotraficantes do governo dos EUA.
O que está em disputa pelas facções envolvidas, como o PCC e o Comando Vermelho, é o controle da circulação da cocaína. Os grandes centros produtores ainda estão instalados em Colômbia, Peru, Bolívia e, em menor escala, na Venezuela. Mas é apenas uma questão de tempo até que o País, usado como entreposto comercial pelo narcotráfico internacional, passe a ser também um importante fornecedor, acreditam analistas da PF e do Exército.
O crime organizado é uma ameaça à segurança e à defesa da América Latina e Caribe. Envolve o tráfico de drogas semiprocessadas, a receptação de fuzis e munições, o sequestro, a ação de piratas e de traficantes de pessoas. Segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Londres, o Brasil reage fortemente. Mantém as Forças Armadas mobilizadas e atua nas fronteiras. Está preparando uma grande blindagem tecnológica: o Sisfron, que deve fechar as fronteiras. O módulo inicial funciona em Dourados (MS), voltado para a Bolívia e o Paraguai. O conjunto completo, cobrindo 16.886 km, deveria ser entregue em 2023, a um custo de R$ 10 bilhões. Os recursos foram cortados nos últimos anos, e o sistema só deve ser concluído entre 2035 e 2037.
O inimigo cresce.
Um documento do Conselho Nacional de Inteligência dos EUA destaca: desde 2014, corporações criminosas como os Zetas, os Cavaleiros Templários II e o Cartel de Jalisco Nova Geração – de origem no México – se organizam em pelotões de 20 a 60 homens, ou em companhias de até 250 indivíduos. Combinados com o Mara Salvatrucha, de El Salvador, e o Comando Rojo, da Guatemala, operam cerca de 70 mil militantes. “Eles avançam rumo à América do Sul, trabalhando como empresários, mas devastando tudo como gafanhotos”, analisa o pesquisador Martin Rames, da Universidade Autônoma do México.
Roberto Godoy, O Estado de S. Paulo, 07/01/2016, 22:00 hs
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