quarta-feira, 1 de março de 2017

O INEXPLICÁVEL

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A Nigéria é, hoje em dia, a maior economia da África e um país dividido em dois. O Sul é cristão, ocidentalizado em suas áreas urbanas e com recursos naturais e industriais. O Norte é muçulmano, a lei vigente é a sharia, a lei islámica, solo desértico sem recursos e taxas de pobreza, analfabetismo e desemprego à altura das regiões mais pobres da África. Um dos Estados mais castigados é Borno. E foi em Borno que nasceu o Boko Haram, que pode ser traduzido como “A educação ocidental é pecado”.
Foi no ano de 2002 em Maiduguri, sua capital, uma cidade de um milhão de habitantes de ruas sem asfalto, crianças descalças mendigando e mercados abarrotados ao lado de desmanches improvisados onde se amontoam caminhões e carros abandonados. Maiduguri é cinza e negra, coberta de areia e pó.
A maior parte do território do Estado de Borno encontra-se hoje sob o controle de Boko Haram. Só as 28 principais cidades e povoados do Estado permanecem dominadas pelo Exército
Originalmente, o Boko Haram foi um movimento islâmico radical dedicado à assistência social, doutrinamento e protestos constantes contra o Governo central, que era criticado pela corrupção, abandono e os desmandos do Exército. “Em cidades de Borno como Gowle, 80% dos moradores há poucos anos se mostravam partidários do Boko Haram. Em Maiduguri quase um terço simpatizava”. Quem conta é o chefe de segurança de uma ONG presente na região.
Ustaz Mohammed Yusuf era o líder à época e em 2009 decidiu pegar em armas contra o Governo. Terminaria esse ano executado pela polícia em um beco de Maiduguri. O cetro foi herdado por Abubakar Shekau, atual líder e quem, em 2011, mudou o rumo do grupo em direção ao inexplicável. Em direção à violência extrema. A guerra começou.
Durante o conflito, o Boko Haram jurou lealdade ao grupo terrorista Al Qaeda e se tornou mundialmente conhecido em 2014 pelo sequestro de 200 meninas em uma escola de Chibok (povoado de Borno a 100 quilômetros de Maiduguri) que ocasionou o #bringbackourgirls (a maioria daquelas meninas jamais voltou e representa uma ínfima parte das 10.000 mulheres e garotas que, de acordo com o Governo nigeriano, foram sequestradas pelo Boko Haram desde o começo da guerra). Por fim, em 2015, o grupo se declarou filial do Estado Islâmico.
Desde que Shekau tomou o controle e o conflito começou, o Boko Haram deixou de prestar assistência, de doutrinar e de protestar contra o Governo. As ações se reduzem agora a manterem-se ativos na batalha: atacam aldeias e povoados para conseguir víveres, sequestram homens para torná-los combatentes e mulheres para escravizar, atacam comboios militares para conseguir armas e matam todo aquele que não segue sua forma de pensar. Seu objetivo final é instaurar um califado.
O conflito está midiaticamente ofuscado pela tragédia da Síria, mas continua duro e sem trégua no norte da Nigéria. Afeta também os outros países da bacia do lago Chade: Níger, Chade e Camarões, onde os ataques ocorrem.
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Nacho Carretero, EL PAÍS, 28/02/2017, 20:31 hs

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