sábado, 2 de setembro de 2017

QUEM SÃO OS HERÓIS

Foi em uma escola pública convencional de São Paulo, há mais de 20 anos, que o índio guarani Jurandir Augusto Martim descobriu como o “jurua” (homem branco, na língua guarani mbya) contava a história dos bandeirantes. Os sertanistas que a partir do século XVI exploravam o interior do país à caça de indígenas para escravização, riquezas minerais e destruição de quilombos, eram apresentados como os nobres heróis nacionais, os desbravadores, responsáveis por levar a civilização aos rincões do Brasil e delimitar suas fronteiras. Ensinamentos muito diferentes daqueles que Martim aprendeu em casa por meio da tradição oral indígena.

“Fiquei impressionado quando vi pela primeira vez a estátua em homenagem ao Borba Gato [1649 – 1718], em Santo Amaro, um homem responsável por mortes, estupros e incêndios em aldeias indígenas”, conta o hoje professor da Escola Estadual Indígena Djekupe Amba Arandu, das aldeias Tekoá Pyau e Tekoá Ytu, ponto de resistência guarani na região do Parque Estadual do Jaraguá. “Essa é a parte  mais difícil do ensino de história: explicar para crianças por que homens que foram responsáveis por massacres e escravidão de indígenas ainda serem homenageados em todas as partes”, afirma  Martim. 
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Regiane Oliveira, El País, São Paulo, 02/09/2017, 13:59 hs

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