EXISTE O ESPÍRITO?
Antes de tudo, é preciso dizer que a palavra “espírito” aqui não tem o mesmo sentido que a religião usa. Nem tampouco as doutrinas espiritualistas em seus diversos matizes. “Espírito” é a vida enquanto processo invisível, não mensurável e nem por isso menos concreto. Ultrapassando a dimensão do sujeito individuado, o espírito é o coletivo. Ele se coloca antes da constituição das identidades expressas em corpos biológicos. O espírito é pré-biológico e daí não-orgânico, não submetido às formas que a biologia consagra em suas pesquisas. Corresponde aos processos desejantes regidos pelas leis do acaso. Processos da natureza imediatamente tornados máquinas pela presença/atuação do homem. São coletivos, multiplicidades que compõem o real em sua consistência prática, subjetividades atendendo pelo nome de uma pessoa ou de um cérebro. Mas são apenas nomes individualizados nas tarefas de manutenção do cotidiano. Na verdade, o espírito é o desejo operando: fluxos nômades em intensidades corporais. O corpo não se refere ao corpo biológico, ou forma-corpo cadastrada pela medicina, de onde ela extrai mais-valia de prestígio. É outra coisa. Trata-se do corpo sem órgãos. “ O corpo sem órgãos é desejo, é por ele que se deseja.”. Não sendo uma entidade etérea, pois se expressa como corpo-no-mundo, ou mais que isso, como corpo- mundo, o corpo é puro desejo como processo de produção, usina, máquina, fábrica em circulação ininterrupta.
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A,M. in Trair a psiquiatria
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