sexta-feira, 13 de abril de 2018


EXISTE O ESPÍRITO?


Antes de tudo, é preciso dizer que a palavra “espírito” aqui não tem o mesmo sentido que a religião usa. Nem  tampouco as doutrinas  espiritualistas em seus diversos matizes. “Espírito” é  a vida enquanto processo invisível, não mensurável e nem por isso menos concreto. Ultrapassando a  dimensão  do  sujeito individuado, o espírito é o coletivo. Ele se coloca antes da constituição das  identidades  expressas  em corpos biológicos. O espírito  é  pré-biológico  e  daí não-orgânico, não submetido às formas que a biologia consagra em suas pesquisas. Corresponde aos processos desejantes regidos pelas  leis do acaso. Processos da natureza imediatamente tornados máquinas pela presença/atuação do homem. São coletivos,  multiplicidades que  compõem o real em  sua  consistência  prática, subjetividades  atendendo  pelo  nome  de  uma  pessoa  ou  de  um cérebro. Mas são apenas nomes individualizados nas  tarefas  de  manutenção do cotidiano.  Na verdade, o espírito  é  o  desejo operando:  fluxos  nômades  em  intensidades  corporais. O corpo não se refere ao corpo biológico, ou  forma-corpo cadastrada pela  medicina, de onde ela extrai mais-valia de prestígio. É outra coisa. Trata-se do corpo sem  órgãos. “ O corpo sem órgãos é desejo, é por ele que se deseja.”. Não sendo  uma entidade etérea, pois se expressa como corpo-no-mundo, ou mais que isso, como corpo- mundo, o corpo é puro desejo como processo de  produção, usina, máquina, fábrica em circulação  ininterrupta.
(...)

A,M. in Trair a psiquiatria

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