TRÊS PERGUNTAS
P-O que causa os transtornos mentais?
R- A etiologia é sempre multifatorial, mesmo que pareça se referir a um só fator, como por exemplo o orgânico. Este é mais visível e até certo ponto mais “fácil” de ser identificado, pesquisado. Contudo, há muito mais... Os múltiplos fatores são eles próprios divididos em arranjos transdisciplinares. Isso quer dizer que não há fronteiras entre as disciplinas, nem sequer existem disciplinas, se pensarmos e trabalharmos numa ótica verdadeiramente transdisciplinar. Entramos num universo sub-representativo. Tudo passa a ser mistura. Desabam as especialidades e os especialismos.
P- O que é universo “sub-representativo”?
R- Trata-se do mundo que escapa à Identidade do conceito, (sustentada pelo verbo Ser), como quando se diz “ser-doente-mental”ou “ser-psiquiatra”. Ele está aquém da “representação do real”, ou seja, fora das coordenadas estáveis da razão e da consciência, para além da relação do conceito com a coisa. O grande desafio é o de descolar o conceito da coisa, fazer o conceito delirar.É um mundo constituído por processos, movimentos, devires, nomadismos, singularidades, velocidades infinitas. Enfim, é o campo social das multiplicidades, campo dos afetos, campo que se opõe aos dualismos estabelecidos, como doente/sadio, corpo/mente, racional/irracional,etc.
P- Este seria o universo da diferença?
R-Sim, mas pela natureza do seu funcionamento prático, é um mundo a se fazer, a se construir. Mundo arriscado e insólito. Mundo de Edgar Allan Poe. Ou Kafka. Ou Beckett. Ou de tantos outros. Nada está dado de uma vez por todas. Neste sentido, a Saúde Mental, considerada como instituição, passa a ser questionada em suas bases histórico-sociais e epistemológicas.Pergunta-se-ia : a quem serve a psicopatologia clínica? para que serve? São perguntas que se desdobram em muitas outras. Elas se unem na busca de uma ética pela vida, enfim, pelo acontecimento como o que ainda vai passar e pelo que já passou: o tempo irreversível.
A.M.
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