terça-feira, 17 de abril de 2018

TRÊS PERGUNTAS

P-O que  causa  os transtornos  mentais?

R- A  etiologia  é  sempre  multifatorial, mesmo que  pareça se  referir  a um só  fator, como por  exemplo  o orgânico. Este é  mais  visível e até  certo ponto mais  “fácil” de ser identificado, pesquisado.  Contudo, há  muito mais... Os  múltiplos fatores são eles próprios divididos em arranjos transdisciplinares. Isso quer dizer  que não  há fronteiras entre as disciplinas, nem sequer existem disciplinas, se pensarmos e trabalharmos numa ótica verdadeiramente transdisciplinar. Entramos num universo sub-representativo. Tudo passa a ser mistura. Desabam  as  especialidades e  os  especialismos.

P- O que é universo   “sub-representativo”?

R-  Trata-se do mundo que escapa à Identidade do conceito,  (sustentada pelo verbo Ser),  como quando se diz “ser-doente-mental”ou “ser-psiquiatra”. Ele está aquém da  “representação do real”, ou seja, fora das coordenadas estáveis da razão e da consciência, para além da relação do conceito com a  coisa. O  grande  desafio é o  de descolar o conceito da coisa, fazer o conceito delirar.É um mundo constituído por processos, movimentos, devires, nomadismos, singularidades, velocidades infinitas. Enfim, é o campo social das multiplicidades, campo dos afetos, campo que se opõe aos dualismos estabelecidos, como doente/sadio, corpo/mente, racional/irracional,etc.

P- Este  seria o  universo  da  diferença?

R-Sim, mas pela natureza do seu  funcionamento prático, é um mundo a se fazer, a se construir. Mundo arriscado e insólito. Mundo de Edgar Allan Poe. Ou Kafka. Ou Beckett. Ou de tantos outros. Nada está dado de uma vez por todas. Neste sentido, a Saúde Mental, considerada como instituição, passa a ser questionada em suas bases histórico-sociais e epistemológicas.Pergunta-se-ia : a  quem serve a psicopatologia clínica? para  que  serve? São perguntas que se desdobram em  muitas  outras.  Elas se unem na busca de uma ética pela vida, enfim, pelo acontecimento como o que ainda vai passar e pelo que já passou: o tempo irreversível. 


A.M.

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