terça-feira, 18 de setembro de 2012

VIAGENS DE MIGUEL

Continuo tentando acompanhar Miguel, aprender-Miguel. Cada vez mais falante, ele  inaugura as manhãs. Isso não é uma metáfora. Ele é, sim, uma manhã com todo o brilho da existência pousado em seus olhinhos inquietos. Vamos de novo, novamente, outra vez, que a velocidade do tempo nos carrega. Perguntou a minha idade. Disse-lhe que tentasse advinhar. Não aceitou o desafio. Explicou apenas que ele era um feiticeiro nascido há um ano e meio. E o que lhe importava? Ora, o tempo não medido, o tempo-jogo, o tempo-criança. Sentou-se defronte dos meus livros e falou que nada daquilo interessava, exceto se encharcado de espírito e dança.Para meu espanto, Miguel tornou-se a minha pele tocada por fluxos de uma realidade mutante. Então, um cheiro de acácia inundou de amarelo as colinas perdidas do meu pensamento. À minha frente, Miguel continuava saltitante, como que bombeando o coração do mundo. Disse-lhe que ficasse só um pouquinho ao meu lado, enquanto durasse o encantamento dos deuses.

A.M.

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