domingo, 30 de setembro de 2012

VIAGENS DE MIGUEL

Miguel aprendeu a dizer Lua, "lúuua". Por sinal, ontem, ela estava bem cheia num céu límpo. Clareava até idéias obscuras. Miguel olhava e dizia: "lúuua, lúuua".Me puxou pela mão. Balbuciava sílabas viajantes. E lá nos fomos pelos mares da lua. Objeto dos românticos de todos os rincões, a lua é um devir, devir-lua. Miguel observa que ela é branca e leitosa.  Derrama sua luz sensual sobre corpos em transe. No caso de Miguel, contudo, não é bem o  "em transe", mas uma viagem sem forma pela noite adentro. Noite-mistério dentro de mim. Miguel e a lua me fazem lunáticos na terra, ou terráqueos na lua, tanto faz. O que conta é o vôo no mesmo lugar, seu rosto girando ao redor do infinito sem deixar de ser a distância até a lua. Medidas astronômicas? Ora, estas são medidas humanas, por demais humanas. Trata-se de outra coisa, fluxo metafísico que Miguel  me desperta. Sem medidas. Fomos dormir e a lua não. Miguel sorriu pois não queria dormir...sem ela.

A.M.

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