Este blog busca problematizar a Realidade mediante a expressão de linhas múltiplas e signos dispersos.
quinta-feira, 30 de abril de 2015
quarta-feira, 29 de abril de 2015
Policiais se recusam...
A Polícia Militar de Curitiba informou que 17 policiais foram presos nesta quarta-feira (29) por se recusarem a participar do cerco aos professores que estavam nas proximidades da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) para acompanhar a votação do projeto que autoriza o governo estadual a mexer no fundo de previdência dos servidores do Estado. A Alep alegava ter recebido uma liminar da Justiça que garantia o veto a entrada de pessoas para acompanhar a votação.
Na tarde desta quarta-feira, um novo confronto entre a Polícia Militar e professores deixou cerca de 150 pessoas (a maioria professores) feridas, segundo o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Algumas delas estão em estado grave.
A Tropa de Choque fazia um cerco ao prédio Alep, quando o conflito começou e os manifestantes foram agredidos. Um dos líderes sindicais ligado aos professores disse que o projeto seria votado, independentemente dos protestos contrários e, então, a PM teria avançado em direção aos manifestantes. Tiros de bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo foram lançados. Lideranças que estavam sobre um caminhão, no Centro Cívico, passaram a pedir ambulâncias para cuidar das pessoas feridas.
Um professor identificado como Davi disse que levou três tiros de bala de borracha e outras pessoas, segundo ele, chegaram a levar até seis de tiros. Os feridos foram levados para o subsolo do prédio da Prefeitura de Curitiba, que foi transformado em uma espécie de "ambulatório".
Entre os feridos estão também o cinegrafista Rafael Passos da CATVE, que foi atingido por uma bala de borracha, e um cinegrafista da Band, atacado por cachorros dos policiais. O comando da polícia informou que 20 soldados se feriram e dez pessoas foram detidas, sendo sete líderes sindicais ligados aos professores.
(...)
Estadão,29/04/2015,20:09 hs
Final de Século
A coisa anda meio difícil
pra quem não dispensa uma alegria.
Até uma boa e sincera tristeza
anda cada vez mais rara
com essa moda de alto astral a qualquer preço.
Se alguém acha que este mundo
anda meio cafajeste, ou ainda mais,
não sou eu que vou contradizer.
Mas na verdade, tudo mudou
muito pouco.
Um ou outro mito,
aqui e ali um grito,
mais ou menos aflito.
O que varia mesmo é o som do apito
de acordo com o bairro, conforme o gueto.
Em alguns a polícia acode e sacode;
em outros se salva quem pode.
A carne continua fraca.
Mormente a da mucosa,
mais frágil, mais perigosa.
A lua tem seus caprichos.
Os poderosos mentem,
as filas aumentam,
a cerveja anda nojenta
e o rapaz da TV diz que vai ser mais eficaz
o combate ao tráfico de drogas.
Por mim, espero apenas
a passagem vertiginosa dos riscos voadores.
Eudoro Augusto
SEM COLEIRA
Ele fixara em Deus aquele olhar de esmeralda diluída, uma leve poeira de ouro no fundo. E não obedeceria porque gato não obedece. Às vezes, quando a ordem coincide com sua vontade, ele atende mas sem a instintiva humildade do cachorro, o gato não é humilde, traz viva a memória da sua liberdade sem coleira. Despreza o poder porque despreza a servidão. Nem servo de Deus. Nem servo do Diabo.
(...)
Lygia Fagundes Telles
terça-feira, 28 de abril de 2015
Antonio Abujamra diz " LOUCOS E SANTOS" de Oscar Wilde
RIO — O ator, diretor de teatro e apresentador Antonio Abujamra morreu na manhã desta terça-feira, aos 82 anos. A morte foi confirmada pela TV Cultura, canal onde ele apresentava o programa de entrevistas "Provocações", desde 2000. Abujamra morreu dormindo e o corpo foi encontrado na casa onde morava morava, em São Paulo. Ainda não há informações sobre a causa da morte, bem como detalhes sobre velório e sepultamento.
(...)
Por O Globo, 28/04/2015, 11:34 hs
INDÍGENAS NO CANADÁ
Rinelle, uma estudante canadense de 16 anos, tomava alguns drinques com os amigos, quando dois jovens a levaram a um lugar isolado embaixo de uma ponte.
Ali, a agrediram e estupraram.
Ela se lembra de estar em um rio, mas não sabe se estava ali porque conseguiu escapar ou porque os homens a atiraram lá.
Quando conseguiu sair da água, os dois a atacaram novamente até acreditarem que ela estava morta. Quando foi encontrada mais tarde, seminua e inconsciente, na beira do rio, não havia muitas esperanças de que ela pudesse sobreviver.
"A temperatura era muito baixa", disse à BBC o investigador encarregado do caso, John O'Donovan, da polícia de Winnipeg, capital da província de Manitoba, na região central do Canadá.
"Estava a ponto de morrer, mas o frio salvou a vida dela", explica, referindo-se ao fato de que baixas temperaturas desaceleram o metabolismo e permitem que o corpo inicie o processo de cicatrização.
Rinelle viveu para contar o que aconteceu com ela, uma oportunidade que outras dezenas de mulheres e garotas, assassinadas ou desaparecidas em anos recentes nessa cidade perto da fronteira com os Estados Unidos, não tiveram.
Como Rinelle, a grande maioria das vítimas pertence à população indígena do país, que segundo um relatório publicado no ano passado pela polícia canadense, tem uma possibilidade quatro vezes maior de ser assassinada ou sequestrada. E é possível que esses números oficiais ainda estejam bem abaixo da realidade.
De acordo com o relatório, entre 1980 e 2012, cerca de 1.200 mulheres e garotas indígenas foram assassinadas ou desapareceram. O número é consideravelmente alto, tendo em vista que a população indígena equivale a menos de 5% da população de 35 milhões de habitantes do Canadá.
(...)
Joana Joly, BBC News,27/04/2015, 05:58 hs
segunda-feira, 27 de abril de 2015
AQUI, O INFINITO
O resultado final que os xamãs como dom Juan buscavam para seus discípulos era uma compreensão que, pela sua simplicidade, é extremamente difícil de obter: a compreensão de que nós somos de fato seres que vão morrer. Portanto, a verdadeira luta do homem não é com seus companheiros humanos, mas com o infinito, e nem se trata de fato de uma luta; ela é, na essência, uma aceitação. Nós devemos voluntariamente aceitar o infinito. Na descrição dos feiticeiros, nossas vidas se originam no infinito e terminam onde começam: no infinito.
(...)
Carlos Castaneda
Alma e Realidade, Duas Paisagens Sobrepostas
1 - Em todo o momento de atividade mental acontece em nós um duplo fenômeno de percepção: ao mesmo tempo que temos consciência de um estado de alma, temos diante de nós, impressionando-nos os sentidos que estão virados para o exterior, uma paisagem qualquer, entendendo por paisagem, para conveniência de frases, tudo o que forma o mundo exterior num determinado momento da nossa percepção.
2 - Todo o estado de alma é uma passagem. Isto é, todo o estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. Há em nós um espaço interior onde a matéria da nossa vida física se agita. Assim uma tristeza é um lago morto dentro de nós, uma alegria um dia de sol no nosso espírito. E - mesmo que se não queira admitir que todo o estado de alma é uma paisagem - pode ao menos admitir-se que todo o estado de alma se pode representar por uma paisagem. Se eu disser "Há sol nos meus pensamentos", ninguém compreenderá que os meus pensamentos são tristes.
3 - Assim, tendo nós, ao mesmo tempo, consciência do exterior e do nosso espírito, e sendo o nosso espírito uma paisagem, temos ao mesmo tempo consciência de duas paisagens. Ora, essas paisagens fundem-se, interpenetram-se, de modo que o nosso estado de alma, seja ele qual for, sofre um pouco da paisagem que estamos vendo - num dia de sol uma alma triste não pode estar tão triste como num dia de chuva - e, também, a paisagem exterior sofre do nosso estado de alma - é de todos os tempos dizer-se, sobretudo em verso, coisas como que «na ausência da amada o sol não brilha», e outras coisas assim. De maneira que a arte que queira representar bem a realidade terá de a dar através duma representação simultânea da paisagem interior e da paisagem exterior. Resulta que terá de tentar dar uma intersecção de duas paisagens. Têm de ser duas paisagens, mas pode ser - não se querendo admitir que um estado de alma é uma paisagem - que se queira simplesmente interseccionar um estado de alma (puro e simples sentimento) com a paisagem exterior. [...]
Fernando Pessoa
domingo, 26 de abril de 2015
A DROGA
O verdadeiro Amor como qualquer outra droga forte que cause dependência, não tem graça. Assim que a fase do encontro e descoberta se encerra, os beijos se tornam surrados e as carícias cansativas... exceto, é claro, para aqueles que compartilham os beijos, que dão e recebem as carícias enquanto cada som e cada cor do mundo parecem se aprofundar e brilhar em volta deles.
Como acontece com qualquer outra droga forte, o primeiro amor verdadeiro só é realmente interessante para aqueles que se tornam seus prisioneiros. E como acontece com qualquer outra droga forte que cause dependência, o primeiro amor verdadeiro é perigoso. Os que estão sob o domínio de uma droga forte - heroína, erva-do-diabo, verdadeiro amor - frequentemente se veem tentando manter um precário equilíbrio entre discrição e êxtase, enquanto avançam na corda bamba de suas vidas. Manter o equilíbrio numa corda bamba é difícil até mesmo no estado mais sóbrio; fazer isso num estado de delírio é praticamente impossível. A longo prazo, é completamente impossível
(...)
Stephen King
NÃO SE QUEIXE DA VIDA
Um novo terremoto de magnitude 6,7 atingiu o Nepal na manha deste domingo (26), divulgou o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês), provocando avalanches no Himalaia. O tremor, com epicentro a leste de Katmandu, e mais perto da fronteira com a China que o anterior, foi registrado a 10 km da superfície. A réplica também foi sentida em Nova Déli (Índia).
Pessoas correram desesperadas pelas ruas em direção a espaços abertos. Gritos e o som de uma avalanche puderam ser ouvidos enquanto um montanhista indiano era entrevistado por telefone perto do Everest pela agência de notícias Reuters.
A região do vale do Katmandu, mais povoada do Nepal, ainda se recuperava do tremor de magnitude 7,8 que deixou mais de 2.263 mortos no país - pelo menos 700 deles na capital - e cerca de 4.700 feridos, segundo o ministério do Interior. Ao menos 51 pessoas morreram na Índia e outras 17 morreram na China (com os avalanches no monte Everest).
A destruição e o número de mortes faz deste terremoto o mais mortífero no país em 81 anos. A estimativa é de que o número de vítimas seja ainda maior, devido à devastação na região da capital, Katmandu. O forte tremor destruiu milhares de casas e prédios históricos, e desde a manhã de sábado, quando aconteceu o tremor principal, o país já sofreu pelo menos 35 réplicas de entre 4 e 6,7 graus.
(...)
Do UOL em São Paulo, 26/04/2015, 08:05 hs
O sentido normal das palavras não faz bem ao poema.
Há que se dar um gosto incasto aos termos.
Haver com eles um relacionamento voluptuoso.
Talvez corrompê-los até a quimera.
Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los.
Não existir mais reis nem regências.
Uma certa liberdade com a luxúria convém.
Manoel de Barros
Ah, É? (ministórias)
01
Domingo inteiro em pijama, coça o umbigo. Diverte-se com os pequenos anúncios. Em sossego na poltrona, entende as borbulhas do gelo no copo de bebida. Uma velhice tranqüila, regando suas malvas à janela, em manga de camisa. Única dúvida: ganhará o concurso de palavras cruzadas?
Dalton Trevisan
sábado, 25 de abril de 2015
O FIM E O FIM DO DIAGNÓSTICO PSIQUIÁTRICO - VIII
"Há somente o desejo e o social e nada mais". Tal afirmação de Deleuze-Guattari, extraída do "delírio" do Anti-Édipo, transmuta-se numa prática ética (que potências?) e política (que poderes?) que animam uma psiquiatria inserida na produção desejante e reprodução sociais. O desejo da psiquiatria passa, assim, a ser agenciado como clínica trágica. Isto significa encontrar e "garimpar"as multiplicidades que compõem o paciente, e nem por isso, ou talvez por isso, não são percebidas e daí, não trabalhadas. A forma-diagnóstico, terrível megamáquina dos homens de branco, neste ponto é desprezada em prol de algo não nomeado, os devires, aquilo que faz mover as linhas singulares da existência. Usamos, pois, o diagnóstico por hábito, como quando se diz "está chovendo". O diagnóstico psiquiátrico continua existindo, mas deixa de ter importância no ato de considerá-lo peça de uma clínica do encontro ou das multiplicidades. Sabemos que essa é uma postura semi-opaca ao entendimento dos psiquiatrões da atualidade, sempre empenhados em cadastrar os sintomas em entidades fixas, bem como de impor verdades "baixas" do senso comum, lastreadas num dualismo pétreo: "você é o doente, eu sou o médico". Portanto, não há possibilidade de diálogo com a "Grande" psiquiatria, magarefe de almas, já que a ético-política do Encontro prioriza as linhas finas da subjetividade.
A.M.
ASSEPSIA POLÍTICA
Os banqueiros da grande bancaria do mundo, que praticam o terrorismo do dinheiro, podem mais que os reis e os marechais e mais que o próprio Papa de Roma. Eles jamais sujam as mãos. Não matam ninguém: se limitam a aplaudir o espetáculo.
Seus funcionários, os tecnocratas internacionais, mandam em nossos países: eles não são presidentes, nem ministros, nem foram eleitos em nenhuma eleição, mas decidem o nível dos salários e do gasto público, os investimentos e desinvestimentos, os preços, os impostos, os lucros, os subsídios, a hora do nascer do sol e a freqüência das chuvas.
Não cuidam, em troca, dos cárceres, nem das câmaras de tormento, nem dos campos de concentração, nem dos centros de extermínio, embora nesses lugares ocorram as inevitáveis conseqüências de seus atos.
Os tecnocratas reivindicam o privilegio da irresponsabilidade:
— Somos neutros — dizem.
(...)
Eduardo Galeano
A MATANÇA
Aos que trazem muita coragem a este mundo, o mundo quebra a cada um deles e alguns ficam mais fortes nos lugares quebrados. Mas aos que não se deixam quebrar, o mundo os mata. Mata os muito bons, os muito meigos, os muito bravos – indiferentemente.
Se não pertenceis a nenhuma dessas categorias morrereis da mesma maneira, mas então não haverá pressa alguma em matá-lo.
(...)
Ernest Hemingway in Adeus às Armas
AH, A RELIGIÃO
As pessoas dirão que, sem os consolos da religião, elas seriam intoleravelmente infelizes. Tanto quanto este argumento é verdadeiro, também é covarde. Ninguém senão um covarde escolheria conscientemente viver no paraíso dos tolos. Quando um homem suspeita da infidelidade de sua esposa, não lhe dizem que é melhor fechar os olhos à evidência. Não consigo ver a razão pela qual ignorar as evidências deveria ser desprezível em um caso e admirável no outro.
(...)
Bertrand Russell
ENCONTRO
A princípio foi esse olhar um simples encontro; mas dentro de alguns instantes era alguma coisa mais. Era a primeira revelação tácita, mas consciente, do sentimento que os ligava. Nenhum deles procurara esse contato de suas almas, mas nenhum fugiu. O que eles disseram um ao outro, com os simples olhos, não se escreve no papel, não se pode repetir ao ouvido; confissão misteriosa e secreta, feita de um a outro coração, que só ao céu cabia ouvir, porque não eram vozes da terra, nem para a terra as diziam eles. As mãos, de impulso próprio, uniram-se como os olhares; nenhuma vergonha, nenhum receio, nenhuma consideração deteve essa fusão de duas criaturas nascidas para formar uma existência única.
(...)
Machado de Assis
sexta-feira, 24 de abril de 2015
quinta-feira, 23 de abril de 2015
TÁ DESCULPADO
Bendine pede desculpas pelos “malfeitos” ocorridos na Petrobras
Balanço auditado de 2014, divulgado na última quarta-feira, mostrou que a estatal teve um prejuízo total de R$ 21,6 bilhões
Rio - O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, pediu desculpas, em nome dos empregados da estatal, pelas irregularidades ocorridas na companhia. O balanço auditado de 2014, divulgado na última quarta-feira, mostrou que a estatal teve um prejuízo total de R$ 21,6 bilhões, sendo R$ 6,2 bilhões com perdas referentes à corrupção. Bendine falou durante entrevista à imprensa na sede da empresa, no centro do Rio.
(...)
Agência Brasil, 23/04/2015, 09:01 hs
O FIM E O FIM DO DIAGNÓSTICO PSIQUIÁTRICO VII
O declínio do diagnóstico psiquiátrico refere-se à sua função terapêutica, e não à sua função de controle. Na prática da diferença, de nada adianta enunciá-lo se o desejo não for o de encontrar o paciente, e assim, poder ajudá-lo. A psiquiatria oficial não quer isso, não funciona assim, ela é a psiquiatria do Mercado, portanto, comércio de almas aflitas. Trabalhamos com grandes síndromes (coleção de sinais e sintomas - as síndromes depressivas, por ex.) mas sempre na perspectiva do Encontro, enquanto a técnica vem depois, virá depois, sempre depois... Um olhar ético-estético e político precede o Encontro. Assim, a crítica ao diagnóstico psiquiátrico (declínio e extinção progressiva) não é algo dito e assumido de fora da prática psicopatológica. Ao contrário, brota de dentro da relação com o paciente, de dentro do real atualizado em signos dispersos e intrigantes. Que é isso? O que se passa? Uma perplexidade se instala. Enfim, há quase extinção do diagnóstico porque espoucam por toda parte mil diagnósticos que se equivalem como função de controle homogeneizante (milhões de bipolares...) dos modos de subjetivação não cadastrados. Ainda.
A.M.
ANA C
Outra vez nos braços do amor perdido.
Sempre o declive. Sempre a vertigem.
Ás vezes o abismo.
Posso inflar
as velas de outra imagem
e assim navegar teus canais azulados,
minha lúcida amiga.
No céu-da-boca desta manhã
fica apenas um risco:
relâmpago longo como o olhar.
Luz. Outra luz. Louca luz.
O mesmo anjo que beija tua orelha fina
invade o cinema como um vento fictício
e rabisca cicatrizes bem legíveis
no coração deserto do meio-dia.
Eudoro Augusto
quarta-feira, 22 de abril de 2015
SAÚDE NO BRASIL
Menino aspira prego e aguarda procedimento para retirada há mais de uma semana
RIO - Uma família de São João de Meriti está vivendo dias de tensão. Róger Conceição, de 8 anos, aspirou um prego na segunda-feira passada, dia 13 de abril, e há uma semana aguarda para fazer um procedimento de retirada do objeto, que está alojado em seu pulmão. Segundo relato do leitor Cléber Nascimento, que é parente do menino, a criança vem sendo encaminhada de um hospital para outro, sem maiores esclarecimentos.
- O Róger tem passado todos esses dias deitado. O corpo está todo inchado, a febre não para e a pele está ficando meio escamada - relatou Cléber em denúncia enviada pelo WhatsApp do GLOBO (tel: 21 99999-9110).
De acordo com a avó de Roger, Glória Basílio, os sintomas começaram como uma gripe forte e a família levou o menino para um posto de saúde no bairro do Éden, em São João de Meriti. Após um raio-X, médicos diagnosticaram que Róger teria um caso raro de vermes dentro do pulmão, e deveria ser encaminhado para outra clínica, em Queimados.
- Só na sexta-feira, dia 17, descobrimos sobre o prego dentro do pulmão do Róger, graças a uma tomografia - contou a avó.
CRIANÇA ESTÁ NO HOSPITAL SOUZA AGUIAR
O menino deveria passar por uma broncoscopia, procedimento que não pode ser realizado no Hospital de Queimados. Róger então passou pelo Hospital Infantil da Posse e foi encaminhado para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio, onde até esta terça-feira não havia passado pelo procedimento.
- Em todos os hospitais, os médicos falam que não têm o equipamento necessário. Não é possível que meu neto precise sofrer mais até nos encaminharem para um hospital especializado - afirma Glória.
(...)
Darlan de Azavedo, Gobo.com, 22/04/2015, 02:05 hs
terça-feira, 21 de abril de 2015
DUAS BRASÍLIAS
A Capital da República completa 55 anos nesta terça-feira (21). E a melhor homenagem que se pode render à cidade é a proclamação da existência de duas brasílias. Existe Brasília, o lugar, e existe “Brasília”, a entidade supra-geográfica. Conheço ambas por dentro. E posso assegurar: Brasília não se confunde com “Brasília”. Sem aspas, é coletivo majestático. Com aspas, é coletivo pejorativo. “Brasília” dá a Brasília uma péssima e imerecida fama (...)
(...)
Para os servidores públicos arrancados da orla marítima do Rio, Brasília era o inferno banhado por um oceano de poeira. Para o peão que içou a família dos fundões medonhos de São Paulo, a cidade era um mar de oportunidades. Impressionavam-me mais as boas escolas públicas do que o pó vermelho.
Foi graças a essas escolas que pude perceber Brasília como parte de um Brasil fervilhante, em que o stalinismo de Niemeyer se misturava ao reacionarismo de Nelson Rodrigues, ao gênio de Guimarães Rosa, à Bossa Nova, ao Cinema Novo, à poesia concreta… Hoje, imagino que fantástica unidade estilística teria o Brasil se a ditadura militar não tivesse atrapalhado esse surto redentor.
Só na adolescência tive consciência plena da existência da outra “Brasília”, espécie de marco das desilusões nacionais. Ali nasceram, por exemplo, o país da inflação crônica e a nação refém das empreiteiras. Jovem jornalista, comecei a percorrer as entranhas obscuras do poder exercido nessa cidade com aspas.
Já estava tudo lá: o “quanto eu levo nisso?'' como estilo de vida, o lobby como regime de governo, o patrimonialismo como programa de ação, a licitação mutretada como método de enriquecimento… A diferença é que, hoje, todas essas mazelas são praticadas em escala industrial.
Diz-se que uma cidade nascida de um imenso canteiro de obras plantado no meio do nada, com máquinas pesadas movimentando-se sobre a lama, não poderia dar em outra coisa. Tolice. Se alguém ainda tinha alguma dúvida, a Lava Jato está aí para demonstrar que as grandes obras públicas terminam em falta de escrúpulos em qualquer outro lugar do Brasil.
Aliás, a “Brasília” aética é uma eterna forasteira em Brasília. Ela vem de todos os lugares do Brasil, rouba (ops!) a cena de terça a quinta-feira, e volta às origens. Deixa para trás uma Brasília habitada por duas gerações de pessoas que sonham com a chegada do dia em que poderão festejar o aniversário de sua cidade sem o incômodo das aspas.
Blog do Josias de Souza, 1/04/2013, 05:59 hs
segunda-feira, 20 de abril de 2015
É PERIGOSO PENSAR...
Pensar suscita a indiferença geral. E todavia não é falso dizer que é um exercício perigoso.É somente quando os perigos se tornam evidentes que a indiferença cessa, mas eles permanecem frequentemente escondidos, pouco perceptíveis, inerentes à empresa. Precisamente porque o plano de imanência é pré-filosófico, e já não opera com conceitos, ele implica uma espécie de experimentação tateante, e seu traçado recorre a meios pouco confessáveis, pouco racionais e razoáveis. São meios da ordem do sonho, dos processos patológicos, das experiências esotéricas, da embriaguês ou do excesso.Corremos em direção do horizonte, sobre o plano de imanência; retornamos dele com olhos vermelhos, mesmo se são os olhos do espírito. Mesmo Descartes tem seu sonho. Pensar é sempre seguir a linha de fuga do vôo da bruxa.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in O que é a filosofia?
domingo, 19 de abril de 2015
Cidadezinha cheia de graça
Cidadezinha cheia de graça…
Tão pequenina que até causa dó!
Com seus burricos a pastar na praça…
Sua igrejinha de uma torre só.
Nuvens que venham, nuvens e asas,
Não param nunca, nem um segundo…
E fica a torre sobre as velhas casas,
Fica cismando como é vasto o mundo!…
Eu que de longe venho perdido,
Sem pouso fixo ( que triste sina!)
Ah, quem me dera ter lá nascido!
Lá toda a vida poder morar!
Cidadezinha… Tão pequenina
Que toda cabe num só olhar…
Mario Quintana
GUERRAS PACÍFICAS
A guerra é considerada um flagelo da humanidade. Trata-se de uma evidência. Contudo, há outra "evidência" em geral não revelada, qual seja a de que estamos em guerra o tempo todo, em qualquer lugar, a qualquer hora. A Guerra, a guerra histórica, a "verdadeira" guerra não é, pois, uma exceção à linha existencial do Destino que nos atravessa. Ao contrário, ela é a continuação por outros meios, explícitamente violentos, do chamado mundo da paz. Tanto é verdade que há teóricos da guerra que usam o argumento: "preparar-se para a guerra para ficar em paz". Registrar a indistinção desses mundos, Guerra e Paz, é essencial. Só desse modo revela-se uma espécie de truque humanista que consiste em evitar perguntar, como fez Primo Levi, ao escrever sobre o holocausto: "É isso um homem?"
A.M.
sábado, 18 de abril de 2015
A FORÇA
Que vale mais: realizar-se na ordem literária ou na ordem espiritual, ter talento ou força interior? Parece a segunda fórmula a preferível, pois mais rara e enriquecedora. O talento destina-se ao olvido, em contrapartida a força interior aumenta com os anos, podendo atingir seu apogeu no momento em que a pessoa expira.
(...)
Emil Cioran
sexta-feira, 17 de abril de 2015
QUEM SOU?
Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)...
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta
traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada (?),
por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço."
Fernando Pessoa
quinta-feira, 16 de abril de 2015
ESQUIZO
Me canso fácil dos preciosos intelectos que precisam cuspir diamantes toda vez que abrem as suas bocas. Eu me canso de ficar batalhando por cada espaço de ar para o espirito. É por isso que me afasto das pessoas por tanto tempo, e agora que estou encontrando as pessoas, descubro que preciso voltar para a minha caverna.
(...)
Charles Bukowski
quarta-feira, 15 de abril de 2015
Vaccari desviava dinheiro para o PT havia dez anos, segundo investigação
Preso nesta quarta-feira (15), Vaccari prestou depoimento à CPI da Petrobras na semana passada
Investigação do MPF (Ministério Público Federal) e da PF (Polícia Federal) aponta que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, desviava recursos para o partido desde 2004. Vaccari foi preso na manhã desta quarta-feira (15) em São Paulo em nova etapa da Operação Lava Jato.
"Já sabíamos que doações oficiais na verdade escondiam operações de lavagem de dinheiro. Nós verificamos que Vaccari tem uma trajetória desse tipo de operação desde 2004", afirmou o procurador de Justiça Carlos Fernandes Santos Lima, em entrevista coletiva em Curitiba na manhã de hoje.
(...)
Do UOL, em São Paulo, 15/04/2015, 11:16 hs
O FIM E O FIM DO DIAGNÓSTICO PSIQUIÁTRICO VI
Quando a psiquiatria buscava o diagnóstico absoluto, como diz Foucault, ela queria saber, em cada caso clínico, se se tratava de loucura ou não. O diagnóstico diferencial vinha depois e nem era importante. Isto se consolidou na segunda metade do século XIX, na Europa, com os trabalhos de E. Kraepelin. Hoje, as coisas mudaram e não mudaram. Seguinte: a identificação da loucura é cada vez menos necessária, na medida em que a medicalização "cidológica" encontrou a sociedade de controle e considera a existência de loucos, doentes a priori, todos nós. Assim, ao invés de um, muitos loucos, milhares, milhões deles diagnosticados ou em vias de se tornarem e serem "efetivamente" loucos. É que a dissolução do Sentido, o estilhaçamento da subjetividade (quem sou?) é um fenômeno planetário que se reproduz "localmente" nas culturas mais diversas. No fundo, só há uma Subjetividade, a capitalística, a burguesa, a classe tornada Única, a terrível classe dos homens cinzentos, pelo menos até agora. Sob tais condições como fazer uma clínica da diferença? Como fazer a Diferença num mundo indiferenciado?
A.M.
LUTAS
Eu lutei contra a dominação branca, e eu lutei contra a dominação negra. Eu nutri o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal que espero viver para alcançar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer.
(...)
Nelson Mandela
LINHAS: QUAIS?
As linhas se inscrevem em um Corpo sem órgãos, no qual tudo se traça
e foge, ele mesmo uma linha abstrata, sem figuras imaginárias nem funções
simbólicas: o real do CsO. A esquizoanálise não tem outro objeto prático:
qual é o seu corpo sem órgãos? quais são suas próprias linhas, qual mapa
você está fazendo e remanejando, qual linha abstrata você traçará, e a que
preço, para você e para os outros? Sua própria linha de fuga? Seu CsO que
se confunde com ela? Você racha? Você rachará? Você se desterritorializa?
Qual linha você interrompe, qual você prolonga ou retoma, sem figuras
nem símbolos? A esquizoanálise não incide em elementos nem em
conjuntos, nem em sujeitos, relacionamentos e estruturas. Ela só incide em
lineamentos, que atravessam tanto os grupos quanto os indivíduos. Análise
do desejo, a esquizoanálise é imediatamente prática, imediatamente
política, quer se trate de um indivíduo, de um grupo ou de uma sociedade.
Pois, antes do ser, há a política.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil platôs, vol 3
terça-feira, 14 de abril de 2015
segunda-feira, 13 de abril de 2015
A VIDA NÃO MORRE
Morreu na manhã desta segunda-feira (13), o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, 74. A informação foi confirmada pela sua editora ao jornal "El País". Ele estava internado em um hospital em em Montevidéu desde sexta-feira e não resistiu a complicações decorrentes de um câncer no pulmão, diagnosticado em 2007.
Referência do pensamento de esquerda na América Latina, Galeano publicou em 1971 sua obra mais conhecida, "As Veias Abertas da América Latina", em que analisa a História do continente, desde o período colonial, argumentando contra o que considerava exploração econômica e política do povo latino-americano pela Europa e pelos Estados Unidos. O livro tornou-se um clássico entre os intelectuais de esquerda latino-americanos e o forçou a se exilar na Argentina após o golpe militar no Uruguai, em 1973.
Combinando análise política com jornalismo e ficção, Galeano desvendou a alma da América Latina em obras como "Memória do Fogo", trilogia em que dissecava as principais figuras históricas no período colonial do continente, o que lhe rendeu comparações a John Dos Passos e Gabriel García Marquez. A trilogia foi premiada pelo Ministério da Cultura do Uruguai e recebeu o American Book Award (Washington University, EUA) em 1989.
(...) Do UOL, São Paulo, 13/04/2015
domingo, 12 de abril de 2015
sábado, 11 de abril de 2015
O FIM E O FIM DO DIAGNÓSTICO PSIQUIÁTRICO V
A ênfase que damos ao estudo do diagnóstico psiquiátrico prende-se a um dado simples: é através dêle que se chega ao CONHECIMENTO da doença e de suas possíveis causas (etiologia). O "melhor" diagnóstico, portanto, seria o diagnóstico etiológico. O exemplo das doenças infecciosas é emblemático: a identificação do agente infeccioso. Ainda que haja outros fatores em jogo, certamente são de menor importância. No caso da psiquiatria, tudo muda. Em primeiro lugar, porque não há um consenso sobre o que seria uma "doença mental", ou mais modernamente falando,o que é um "transtorno mental". Em segundo lugar, se não se sabe definir com clareza uma entidade clínica (existe a esquizofrenia? respondo: claro que existe, sim, bem entendido, a experiência esquizofrênica...) como saber a causa do que não se sabe com certeza o que é? Em terceiro lugar, se o diagnóstico é o lugar do conhecimento, ele é (ou deveria ser) o lugar do pensamento, o ato de PENSAR sobre os chamados transtornos mentais, e por extensão, sobre a saúde mental. Em quarto lugar, como o diagnóstico psiquiátrico surge no século XIX mediado pela moral ("ele está se comportando bem?"), atende a uma vontade de dominar, disciplinar, como bem mostrou Foucault. Daí o poder funciona de modo intrínseco ao enunciado psiquiátrico, sendo impossível escapar dos seus efeitos.
A.M.
COM HUMOR
Será o humor – e sei que aprecia o de John Updike e o do seu amigo Martin Amis – uma fuga à mediocridade? Mesmo neste livro (A Balada de Adam Henry), que não é propriamente “divertido”, introduz momentos fugazes de grande ironia.
Não, este livro não é divertido mas admito que esses momentos são importantes. Quando faço leituras públicas apercebo-me de que, em determinadas alturas, as pessoas riem-se e há uma certa tensão que se solta, um alívio, ainda que momentâneo. Aliás, tenho uma teoria: quem escreve bem é, fundamentalmente, um humorista. Por exemplo, os autores que mencionou são escritores excelentes e basta reler Shakespeare, que é o que tenho andado a fazer, para chegar à mesma conclusão: as frases e as palavras são tão belas, de um rigor tão extraordinário, que me fazem sorrir. Não vejo como a vida, ou a escrita, podem evitar o humor.
(...)
Ian McEwan, extraído da entrevista com Helena Vasconcelos, 09/04/2015.
sexta-feira, 10 de abril de 2015
O FIM E O FIM DO DIAGNÓSTICO PSIQUIÁTRICO IV
Há uma relação "íntima" entre o diagnóstico psiquiátrico e o corpo. Outrora, poder-se-ia dizer que o diagnóstico se inscrevia no corpo do paciente. Hoje, não. O diagnóstico passa a ser o próprio corpo, na medida em que a forma-psiquiatria é agenciada como elemento-chave na Saúde Mental. Exemplo prático: no trabalho clínico o enunciado ("sou bipolar") substitui o dispositivo propedêutico (o exame) pela fala simples e direta do paciente. Pode-se objetar que nem sempre o paciente sabe e/ou diz o "seu" diagnóstico. Não importa. O que está em jogo é o corpo-enunciado o qual é expresso mesmo que não se expresse. Um paradoxo em cena se resolve pelo recurso ao psicofármaco. Nada de muita conversa. Em pacientes que "não colaboram", os chamados negativistas, portadores de sintomas negativos no dizer psiquiátrico atual, o enunciado compõe um corpo "que não fala mesmo falando". Tal é a clínica do diagnóstico absoluto subjetivado como verdade, entregue ao psiquiatra e aos seus acólitos. A evoluir desse modo, o diagnóstico (não importa qual, nem mesmo se está correto...) dispensará o trabalho do psiquiatra, tornando-o peça decorativa e anacrônica de um esquemão sócio-político que o ultrapassa como modelo de normalidade implícita.
A.M.
quinta-feira, 9 de abril de 2015
MITO DA NATUREZA FEMININA
Não acredito que existam qualidades, valores, modos de vida especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como mulher, mas de se tornar um ser humano na sua integridade.
(...)
Simone de Beauvoir
A BUSCA
Eu percebo onde eu posso encontrar o meu navio novamente, as minhas viagens: só no sonho, nas drogas, na criação e na perversidade. Eu decidi ser imprudente, para fazer e tentar de tudo, porque nada me detém sobre a terra, e eu não tenho medo de morrer.
Vou viver a minha febre, intoxicar-me com as pessoas, a vida, o barulho, movimento, trabalho, criação, e tudo o que, de saber e sentir, vou tentar.
(...)
Anaïs Nin
quarta-feira, 8 de abril de 2015
terça-feira, 7 de abril de 2015
CONTROLES OCULTOS
O "corpo-organismo" é fabricado pela medicina psiquiátrica, logo ela que não tem um corpo (" ora veja, falta serotonina no cérebro...") e por tantas outras formas sociais: a escola,o direito, o estado, a religião, a família, a mídia, etc, todas interessadas no controle e na obtenção de uma mais-valia de prestígio; "não deixarão você experimentar no seu canto". Assim, o organismo substitui o corpo das intensidades, o corpo do desejo, em prol de semióticas (linguagens) adaptadas e cooptadas aos axiomas (princípios de valor indemonstráveis) do capital e prontas a intervir como modelo de virtude às normas do mercado, dependuradas num regime de escravidão consentida. Toda essa engrenagem invisível (embora seus efeitos sejam visíveis ) não passa pelos escrúpulos do eu e da consciência. Ao contrário, é ela que produz o eu e a consciência enquanto paradigmas da normalidade vigente. Torna-se difícil, quase impossível, quase delirante, quase insano, sob tais condições da vida social, falar em seu próprio nome ao invés de recitar e rezar a ladainha dos neurônios do baixo clero intoxicados por imagens-clichês.
A.M.
segunda-feira, 6 de abril de 2015
ESCREVENDO
Mas lá vou eu me adiantando de novo. O leitor vai me desculpar. É que, assim que me ponho a escrever todas as coisas que eu tenho para contar se amontam correndo na ponta dos dedos, cada uma querendo chegar à frente das outras, e às vezes é difícil manter o pelotão de palavras em ordem.
(...)
Machado de Assis
domingo, 5 de abril de 2015
DEUSES
O único grande mérito dos deuses (além de amedrontar os pássaros e os ‘pecadores’ e às vezes consolar os miseráveis), consiste nisto: erguidos sobre estacas, temos de levantar a cabeça para vê-los. ‘Quando alguém olha para cima, mesmo que seja para procurar um deus, não pode deixar de ver o céu que está além. E que é o Céu? Simples dispersão de ar e de luz’
(...)
Aldous Huxley
O FIM E O FIM DO DIAGNÓSTICO PSIQUIÁTRICO III
Um diagnóstico médico típico: a tuberculose pulmonar. Quadro clínico, anamnese, exame físico, exames de laboratório, etiologia, tratamento e prognóstico, tudo encadeado numa série compacta de dados clínicos observáveis e comprováveis. Tal não acontece na psiquiatria, mesmo naquelas patologias ditas de origem orgânica, como as demências. É que ela trabalha com determinantes psicossociais tratados (mesmo sem o ser dito) como inferiores (epistemologicamente) aos determinantes somáticos: a psiquiatria ainda está à procura de um corpo! Mais: ela usa vetores somáticos (com destaque especial para o cérebro) que reduzem a complexidade do funcionamento mental a conexões neuroquímicas, ou dito de maneira mais ampla, a processos físico-químicos que compõem um organismo. O diagnóstico psiquiátrico insiste na Clínica como fóssil nosológico voltado a afirmação de uma pseudo-cientificidade, caucionando um status de prestígio sócio-acadêmico, poder e dinheiro. Em termos terapêuticos (o que fazer pelo paciente?) o diagnóstico se revela não só inútil, mas deletério à saúde mental e produtor de "doenças mentais" fictícias. Estas, acopladas ao circuito de produção-consumo-produção (entranhas do capital mercantil ) demandam o uso indiscriminado de psico-remédios químicos como solução para sintomas que por um passe de mágica se tornam doenças do organismo (por. ex., o pânico...). O fim do diagnóstico, que era de origem moral e disciplinadora, torna-se, pois, o fim como declínio do diagnóstico, tal a produção de subjetividades apassivadas em série. Psicoses, histeria, demência, pânico, depressões, TOC, fobias sociais, etc, tanto faz, transtornos diferentes para os mesmos remédios.
A.M.
Assinar:
Postagens (Atom)