domingo, 5 de abril de 2015

O  FIM  E O FIM  DO DIAGNÓSTICO  PSIQUIÁTRICO  III

Um diagnóstico médico típico: a tuberculose pulmonar. Quadro clínico, anamnese, exame físico, exames de laboratório, etiologia, tratamento e prognóstico, tudo encadeado numa série compacta de dados clínicos observáveis e comprováveis. Tal não acontece na psiquiatria, mesmo naquelas patologias ditas de origem orgânica, como as demências. É que ela trabalha com determinantes psicossociais tratados (mesmo sem o ser dito) como inferiores (epistemologicamente) aos determinantes somáticos: a psiquiatria ainda está à procura de um corpo! Mais: ela usa vetores somáticos (com destaque especial para o cérebro) que reduzem a complexidade do funcionamento mental a conexões neuroquímicas, ou dito de maneira mais ampla, a processos físico-químicos que compõem um organismo. O diagnóstico psiquiátrico insiste na Clínica como fóssil nosológico voltado a afirmação de uma pseudo-cientificidade, caucionando um status de prestígio sócio-acadêmico, poder e dinheiro. Em termos terapêuticos (o que fazer pelo paciente?) o diagnóstico se revela não só inútil, mas deletério à saúde mental e produtor de "doenças mentais" fictícias. Estas, acopladas ao circuito de produção-consumo-produção (entranhas do capital mercantil ) demandam o uso indiscriminado de psico-remédios químicos como solução para sintomas que por um passe de mágica se tornam doenças do organismo (por. ex., o pânico...). O fim do diagnóstico, que era de origem moral e disciplinadora, torna-se, pois, o fim como declínio do diagnóstico, tal a produção de subjetividades apassivadas em série. Psicoses, histeria, demência, pânico, depressões, TOC, fobias sociais, etc, tanto faz, transtornos diferentes para os mesmos remédios.

A.M.

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