sexta-feira, 10 de abril de 2015

O FIM  E  O  FIM  DO  DIAGNÓSTICO  PSIQUIÁTRICO  IV

Há uma relação "íntima" entre o diagnóstico psiquiátrico e o corpo. Outrora, poder-se-ia dizer que o diagnóstico se inscrevia no corpo do paciente. Hoje, não. O diagnóstico passa a ser o próprio corpo, na medida em que a forma-psiquiatria é agenciada como elemento-chave na Saúde Mental. Exemplo prático:  no trabalho clínico o enunciado ("sou bipolar") substitui o dispositivo propedêutico (o exame) pela fala simples e direta do paciente. Pode-se objetar que nem sempre o paciente sabe e/ou diz o "seu" diagnóstico. Não importa. O que está em jogo é o corpo-enunciado o qual é expresso mesmo que não se expresse. Um paradoxo em cena se resolve pelo recurso ao psicofármaco. Nada de muita conversa. Em pacientes que "não colaboram", os chamados negativistas, portadores de sintomas negativos no dizer psiquiátrico atual, o enunciado compõe um corpo "que não fala mesmo falando". Tal é a clínica do diagnóstico absoluto subjetivado como verdade, entregue ao psiquiatra e aos seus acólitos. A evoluir desse modo, o diagnóstico (não importa qual, nem mesmo se está correto...) dispensará o trabalho do psiquiatra, tornando-o peça decorativa e anacrônica de um esquemão sócio-político que o ultrapassa como modelo de normalidade implícita.

A.M.

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