sexta-feira, 3 de abril de 2015

O  FIM  E O FIM  DO  DIAGNÓSTICO  PSIQUIÁTRICO

O diagnóstico psiquiátrico corresponde a um enunciado médico (por ex., "...é esquizofrenia") que se organizou a partir do século XIX, na Europa, o chamado "século dos manicômios". Desse modo, ele reproduz a visão manicomial da época. Inicialmente, claro, um diagnóstico moral e sem corpo, pois este resumia-se ao comportamento louco, não a um organismo lesionado. Só em fins do século XIX, com os escritos de Kraeplin, é que se estabeleceu o "corpo neurológico" que é, como diz Foucault, o organismo físico-químico a ser designado como "orgânico". Organicidade tornou-se um conceito que significa a origem (etiologia) dos transtornos mentais sendo no cérebro. Hoje, sabemos, é um conceito em desuso. Voltaremos ao tema. Entrementes, é possível lembrar o que em fins do século XIX a clínica da histeria mostrou: alguém pode ficar louco sem que haja qualquer lesão e/ou disfunção cerebral. Assim, a psiquiatria, desde o seu nascedouro, vive dilemas (no mínimo 2) no coração da sua prática: 1-o que é "mente"? e o que é "corpo"?; 2- quem parece ser louco às vezes não é; e quem não parece ser louco, às vezes é. Em resumo, trazemos a questão do diagnóstico da loucura ("este homem está louco"?) para expor a munição teórica que mantém e faz proliferar dispositivos de controle sócio-desejantes da psiquiatria. Ora, esta especialidade médica empreende, nos dias atuais, um aniquilamento da psicopatologia.

A.M.

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