terça-feira, 8 de setembro de 2015

AURORA

Neste livro encontra-se agindo um ser “subterrâneo” que cava, perfura e corrói. Ver-se-á, desde que se tenha olhos para tal trabalho nas profundezas, como avança lentamente, com circunspecção e com uma suave inflexibilidade, sem que se perceba em demasia a angústia que acompanha a privação prolongada de ar e de luz; poder-se-ia até julgá-lo feliz por realizar esse trabalho obscuro. Não parece que alguma fé o guie, que alguma consolação o compense? Talvez queira ter para ele uma longa obscuridade, coisas que lhe sejam próprias, coisas incompreensíveis, secretas, enigmáticas, porque sabe o que terá em troca: sua manhã só para ele, sua redenção, sua aurora?... Certamente voltará: não lhe perguntem o que procura lá em baixo; ele mesmo o dirá, esse Trofônio, esse ser de aparência subterrânea, uma vez que de novo se tenha “tornado homem”. Costuma-se esquecer inteiramente o silêncio quando se esteve soterrado tanto tempo como ele, só tanto tempo como ele.
(...)
F. Nietzsche in Aurora (prefácio)  

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