IRREVERSÍVEIS
Devires são o conteúdo do desejo, linhas de potência que atravessam meios, ritmos e as horas do mundo. Nem sempre ou quase nunca perceptíveis, produzem efeitos de sentido inseridos na passagem das coisas: o tempo. Não se vê o tempo, é verdade, mas existiria maior certeza de que ele existe? O tempo é desejo. Desse modo, devires são modos de existência que captam nuances do tempo. Não como uma temporalidade ao modo fenomenológico, mas como subjetivações a-subjetivas, ou seja, descoladas da organização da consciência. Tarefa árdua esta a de ser devires, na medida que uma cultura planetária, hoje capitalística (o axioma financeiro), odeia os devires, identificando-os com a desordem e o caos.Como diz Deleuze, o que assombra as sociedades (espécie de insulto ao senso comum) é a dissolução, a descodificação dos fluxos do desejo, o estranhamento (o que é isso? do que se trata? o que se passa? quem é você? onde estamos? etc). Assim, de uma escala social ampla (coisas do Estado, guerras) a uma escala estreita ( relações entre pessoas), passando por mil universos da diferença, os devires circulam e avançam implacáveis, desmedidos, inomináveis, irreversíveis, furtando-se à vontade individual. No entanto, a organização delirante e o controle milimétrico implementado pela sociedade industrial atestam a vontade de estancar os devires, projeto condenado de antemão à entronização do ressentimento e da culpa. Nada de novo, pois, debaixo do sol.
A.M.
INFINITO INDIVISÍVEL
ResponderExcluirtempo onde
a dinâmica decomposição
invisível aos olhos
mas sensível ao vento
é a mesma que constrói
veloz-mente
o pensamento