domingo, 6 de setembro de 2015

POEMA

A paisagem não vale a pena. 
Pesa dizê-lo assim tão duramente, 
mas o que posso fazer contra os mascarados 
que penetraram os altos muros 
e agora coabitam os aposentos desolados? 
Já não vale a pena a manhã. 
Os embuçados chegaram em surdina 
e foram destroçando todos os pilares, 
todas as primaveras, as lúcidas esperanças, 
vultos tão horrendos que paralisaram o dia. 
A noite não significa mais nada. 
As casas dormem e não significam nada. 
O vento cortou-se em mil fatias de desespero. 
Que dimensão canta além da treva, 
a face repousada, os olhos claros?


Afonso Henriques Neto

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