DEVIR SEMPRE
O que conta em um caminho, o que conta em uma linha é sempre o
meio e não o início nem o fim. Sempre se está no meio do caminho, no meio
de alguma coisa. O enfadonho nas questões e nas respostas, nas
entrevistas, nas conversas, é que se trata, na maioria das vezes, de fazer um
balanço: o passado e o presente, o presente e o futuro. Por isso mesmo, é
sempre possível dizer a um autor que sua primeira obra já continha tudo,
ou, ao contrário, que ele está sempre se renovando ou transformando. De
qualquer modo, é o tema do embrião que evolui, seja a partir de uma pré-
formação no germe, seja em função de estruturações sucessivas. Mas o
embrião, a evolução, não são boas coisas. O devir não passa por aí. No
devir não há passado, nem futuro, e sequer presente; não há história. Trata-se,
antes, no devir, de involuir: não é nem regredir, nem progredir. Devir é
tornar-se cada vez mais sóbrio, cada vez mais simples, tornar-se cada vez
mais deserto e, assim, mais povoado. É isso que é difícil de explicar: a que
ponto involuir é, evidentemente, o contrário de evoluir, mas, também, o
contrário de regredir, retornar à infância ou a um mundo primitivo.
Involuir é ter um andar cada vez mais simples, econômico, sóbrio.
(...)
G. Deleuze e C. Parnet in Diálogos
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