terça-feira, 29 de setembro de 2015

PALAVRAS QUE CURAM

A psiquiatria clínica e a psicologia clínica, em grande parte, vivem às custas, no encontro com o paciente, do Senso Comum, bem assessorado pelo Bom Senso, duas poderosas instituições sociais que trabalham no silêncio que fala. Dir-se-ia: "não fique desse jeito, criatura, assim desanimado; você tem tantas virtudes!". Ou "se eu fosse você, já teria feito alguma coisa, já teria me mandado". Mais: "eu sei o que você está passando, mas a vida é assim mesmo". E mais:" Você tem que buscar o equilíbrio; aí sim as coisas melhoram". E muito mais: "não se importe com o que as pessoas dizem sobre você; cuide da sua auto-estima". Ainda: "o país funciona e sempre funcionou desse jeito, você precisa aceitar as coisas como são". Tanto mais costumo ouvir relatos selvagens de gente que chega de todas as partes. Nem é preciso dizer, já dizendo, dos intoxicados crônicos pela psicoquímica das indústrias cinzentas. São zumbis que vagueiam em si mesmos, rodopiam sobre o abismo. E dos intoxicados ávidos pela palavra que "cura", a palavra do bom senso, a palavra do sacerdote travestido de técnico em saúde mental. Mas o que é isso, saúde mental? 

A.M.

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