sábado, 19 de setembro de 2015

DISCURSO

nada existe, celebremos 
a alegria. 
o nascer e o morrer 
não nos acontece. 
só para os outros 
somos espetáculo. 
há vento em excesso 
pelos buracos da linguagem. 
um jardim muito espesso 
labirinto de idéias 
flocos de imagens sobre natais de fumaça. 
nada existe, celebremos 
aventura. 
tudo se instala 
o sentido esvaziou-se do oceano 
praias da totalidade. 
o que não existe 
celebra a concretude. 
é grave a pedra 
a pele desgarrada 
o esqueleto do silêncio. 
lábios se tocam em alegria 
beijo seco 
jardim de séculos. 
quase nenhuma fala 
ninguém 
mas os caminhos. 
recordemos: 
infância veloz 
olfato de espantos 
estátua ardente arfando 
no sonho. 
apenas não há 
ninguém 
mas os espaços 
(apenas o já nascido 
previamente ido). 
infinito buraco sem tempo 
celebração. 


Afonso Henriques Neto

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