sexta-feira, 17 de junho de 2016

A MEDICINA CURA? (IV)

Os dois eixos de análise da Medicina aqui tratados (o epistemológico e o institucional) se conjugam na fabricação de um modo subjetivo de ser: o médico. Neste caso não está em jogo a chamada pessoa ("ele é uma boa pessoa"), mas modos de subjetivação encaixados no funcionamento social e técnico onde a relação médico-paciente se alimenta de um suposto poder sobre a vida (e a morte), e perante o qual o paciente se dobra qual um cordeiro à espera da salvação. Ou do abate. Este fenômeno é melhor observado, sobretudo no Brasil, na realidade dos serviços públicos de saúde e em suas longas filas de espera e desesperos. Mas não só: na medicina privada, planos de saúde, atendimentos particulares e outros indesignáveis, também se vê o desamparo existencial a que o chamado paciente faz jus em seu epíteto de paciente. Paciente demais, submisso demais: como diria o hino, o organismo brasileiro deita-se no berço esplêndido da medicina.

A.M.

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