segunda-feira, 27 de junho de 2016

UM DEUS NÃO CRISTÃO

Numa visão  espinosiana,  crer no Deus cristão é reproduzir a relação dirigente-comandado,   governante-governado, rei-súdito, patrão-empregado, senhor-escravo, pai-filho etc;  assim,   o pensamento moderno se mantém prisioneiro de uma relação entre seres humanos, interumana, ou,  dito de um modo cristão, numa relação entre pessoas.  Deus seria uma pessoa, teria uma forma, a forma-homem. No entanto, basta considerar a existência do Infinito (tempo-espaço) para ser possível jogar por terra essa bobagem humanística, versão antropocêntrica da realidade. Não há dimensão orgânica, psíquica, existencial, espiritual, que compare em grandeza a finitude humana com o cosmos. Até porque não é uma questão de grandeza, mas de opacidade da experiência humana aos limites definidos da percepção da realidade, à cognição da realidade, esta uma produção do homem, versão utilitarista dos tempos do capital. Tudo é manipulável. Daí, nessa matéria as atitudes mais sensíveis seriam a do agnóstico, do materialista, do  ateu e  do trágico. O agnóstico admite a impossibilidade do acesso à realidade chamada divina. O materialista concebe o real como matéria (não a matéria grosseira, visível, mas a matéria como energéticas, fluxos, pulsações). O ateu se põe como o sem-Deus, admitindo o desemparo radical ante o cosmos. Por último, o trágico: este se encontra na posição dos afetos que infundem incessantemente (como na criança) linhas múltiplas do viver. A questão de Deus passa a ser "secundária". Portanto, a pergunta sobre a Sua existência ou não revela-se sem sentido, um pseudo-problema. Voltando à concepção cristã de Deus, trata-se, pois, de uma assertiva pouco inteligente mas que produz subjetividades atoladas no medo e na servidão voluntária aos poderes estabelecidos. Por que?

A.M.

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