domingo, 27 de agosto de 2017

GRÁVIDA NO TRABALHO

Ana Carolina Gaspar, de 34 anos, tinha um cargo de gerência em uma multinacional do setor de varejo quando engravidou de Júlia. Estava havia tempo suficiente na empresa para perceber alguns sinais do machismo cotidiano, como ter que levar água e café para o chefe, a pedido dele, que acreditava que a única mulher da equipe era quem deveria desempenhar a função, conta ela. Mas, logo na primeira dificuldade da gestação, ela afirma ter percebido que a situação de desigualdade na empresa era mais grave do que imaginava. Assim como muitas mulheres que engravidam, passou a ser apartada das funções e a sentir-se assediada, diz.

"Estava com quase três meses de gestação quando tive um diagnóstico de descolamento da placenta e tive que ficar de repouso absoluto. Quando fui autorizada pelo médico a voltar, descobri que eles haviam retirado a minha equipe de mim. Não recebia e-mails, fui mandada para outro andar e fiquei sem função, a ponto de pedir trabalho escondido para os colegas. Ia todos os dias para a empresa chorando, pensando no erro que eu tinha cometido para ser tratada assim. Mas não cometi nenhum erro, eu só gerei uma vida", conta ela. A situação chegou ao limite, diz, quando o bônus da empresa foi distribuído. "Eles falaram que eu havia atingido as metas, que todos estavam felizes com a minha gerência, mas que eu tinha perdido a energia porque tinha engravidado. E, por isso, não merecia receber", relembra. Diante da situação, e da dificuldade em engordar devido ao estresse, Ana Carolina acabou, novamente, afastada pelo médico. No dia em que cumpriu os cinco meses de estabilidade que a lei determina para as gestantes foi demitida, sem sequer poder se despedir dos colegas, afirma.
(...)

Talita Benidelli, El País, São Paulo, 26/08/2017, 22:00 hs

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