SEM ESCUTA
O psiquiatra - em geral - não escuta o paciente. Não por mal, mas é que ele faz o que a escola de medicina ensinou: buscar sintomas. Ao contrário, numa psiquiatria do desejo, o sintoma é o próprio paciente, sintoma de uma sociedade que odeia a diferença. A profunda divisão de classes (denúncia marxiana) insere-se numa "couraça muscular" de ressentimento (rechaço) à diferença, e por extensão, aos devires. Desse modo, a psiquiatria oficial e seus acólitos (não só psiquiatras) encastela-se numa versão moderna do positivismo científico: as neurociências. Em suas briosas pesquisas sinápticas acabam por caucionar as violências psiquiátricas às subjetividades estranhas, bizarras, esquisitas, inconformes, desviantes, revolucionárias, lunáticas, não-diagnosticáveis. A era do controle tecnológico quase total já preenche psicotidianos em suas zonas crônicas de conforto e cérebro normal. Se o psiquiatra em geral não escuta (porque não suporta) a diferença, a moral vigente sim, sustenta a percepção de subjetividades dispostas em série. Tudo igual convive numa sopa subjetiva.
A.M.
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