terça-feira, 22 de agosto de 2017

PARA ENCONTRAR AS CRIANÇAS

(...)
Melanie Klein, partindo de obras freudianas, toma como principal ponto de enfoque das fantasias sua dimensão imaginária. Para a autora, a atividade fantasmática está presente na vida desde o nascimento — embora as fantasias primitivas sejam processos altamente desconexos, instáveis e contraditórios. Qualquer estímulo sentido pela criança é um potencial eliciador de fantasias, tanto os agressivos – os quais acarretam fantasias agressivas — quanto os prazerosos – os quais, por sua vez, são causadores de fantasias calcadas no prazer.

O primeiro alvo das fantasias da criança é o corpo da mãe, já que ela é o principal objeto com o qual a criança se relaciona em seus primeiros dias de vida. As fantasias acerca da exploração do corpo materno são de extrema importância para a descoberta do mundo externo pela criança. A pulsão de exploração, fundamental para os trabalhos artísticos e científicos, tem sua base nestas fantasias (Klein, 1996).

De acordo com a teorização kleniana, as principais atividades que podemos concluir como sendo as funções da fantasia são: a realização de desejos; a negação de fatos dolorosos; a segurança em relação aos fatos aterrorizadores do mundo externo; o controle onipotente – já que a criança, em fantasia, não apenas deseja um acontecimento como realmente acredita fazer com que ele aconteça –; a reparação, dentre outras.

O funcionamento inicial da criança é através da vida de fantasia, a qual, progressivamente, através das relações objetais, cederá lugar às emoções mais complexas e aos processos cognitivos. Pode–se dizer que a criança de tenra idade suplementa a lógica pela vida fantasmática, na qual estão sempre presentes tanto fatores biológicos quanto ambientais, o que determina que as fantasias, embora obedeçam a certos padrões, sejam infinitamente variáveis. A vida de fantasia é, portanto: "o terreno donde jorram a mente e a personalidade individuais" 

A liberação da vida fantasmática ocorre, principalmente, através da atividade lúdica, uma vez que esta é a principal atividade da criança pequena. Ela ainda não expressa seus sentimentos e desejos subjetivos por meio de palavras. Desta forma, é preciso estimular a brincadeira das crianças, já que dando rédea solta à atividade lúdica ela está, consequentemente, liberando suas fantasias inconscientes. Estas brincadeiras podem ser de qualquer tipo: brinquedos, desenhos, jogos, bolas, bonecas, etc.
(...)

Marcella Pereira de Oliveira in Melanie Klein e as fantasias inconscientes,Universidade Paulista, 2007

Nenhum comentário:

Postar um comentário