A PSIQUIATRIA E A DIFERENÇA
Na medida em que o Caps “herda” o modelo hospitalocêntrico, mesmo que anuncie o inverso, o “fenótipo institucional” tem uma aparência antimanicomial, ou busca isso, até para justificar a sua existência. A psiquiatria científico-acadêmica adentra ao serviço como uma espécie de cisto benigno para, entre outras coisas, afrouxar as tensões em torno da suposta periculosidade e estranheza do louco. Mas não estamos nessa. O anti-modelo da psiquiatria materialista ( ou da diferença) compreende “outra” psiquiatria, onde os fluxos de saberes e práticas (não necessariamente científicas) impulsionam linhas de desejo para uma operação de desmontagem da clínica hegemônica. Uma semiótica do Encontro. que é a própria semiótica da loucura.Isso leva a considerar a “loucura” como produção de sentidos múltiplos, ou mais precisamente, de multiplicidades clínicas. Algo que precede o transtorno mental e com ele se mistura. A função da psiquiatria clínico-hegemônica (atualmente a famigerada versão neurobiológica) se reduz a um equipamento técnico, no caso, o psicofármaco, indicado em situações pontuais, como na chamada “crise”. Ao contrário, introduzir o desejo na produção e a produção no desejo (Deleuze-Guattari) torna-se a operação de conectar a clínica psicopatológica aos fluxos coletivos que chegam de fora, mas que estão dentro do serviço como sua consistência prática: o real-cruel-concreto-empírico. Este é um corpo sem órgãos (composto por signos desejantes, devires inauditos, singularizações móveis, fluxos nômades, linhas de potência, territórios de vida e suas conexões ao infinito) a ser experimentado. No entanto, quem suporta tamanho estilhaçamento de sentido?
A.M.
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