A VIDA NA ROCINHA
"Acho que tem alguém mexendo na porta.” Grávida de cinco meses, Tatiane Paula cutucou o marido, Luiz Cláudio, a seu lado na cama. “Você está sonhando”, resmungou ele, que teria um dia longo na metalúrgica onde trabalha. Eram 5h55 da terça-feira, dia 19. No domingo anterior, perto daquele mesmo horário, a favela da Rocinha acordou com o barulho de mais de 50 traficantes disparando fuzis para todos os lados. As balas de calibres usados em guerras faziam de peneira uma porção de muros, paredes, portas, janelas e latarias de carros e motos, algumas delas pegavam fogo. Transformadores da rede elétrica explodiam. Foi assim nas intermináveis quatro horas de tiroteio. Tatiane, de 35 anos, nunca vira nada igual na comunidade onde vive desde que nasceu. Talvez apenas sonhasse mesmo àquela hora da manhã, mas agora Luiz Cláudio também ouvia o ranger da maçaneta. Pulou da cama para checar o que era. Mal abriu a porta e já estava com um fuzil apontado para a cabeça.
(...)
Hudson Correia, Época, 29/09/2017, 22:13 hs
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