A IMAGEM SOBERANA
Impossível negar: a nível planetário, uma tecnologia da imagem veio para ficar. Ela compõe talvez a face mais concreta das "conquistas"da modernidade. Tudo é imagem. Um universo imagético torna-se a própria subjetividade. Não a entidade-do-eu, não a consciência, não a racionalidade, mas o processo da subjetivação veloz e incessante que nos afeta e nos constitui. O real é cada dia mais artificial. A sensação subjetiva ("eu existo, eu penso") e a correlata certeza de quem sou, são hoje sustentadas pela realidade da imagem, pela verdade da imagem, pela concretude da abstração, enfim. Tal verdade, sem que eu perceba, passa a ser a minha verdade, mesmo a mais íntima. Devastação do pensamento e até do inconsciente representativo (freudiano). Caminhamos para o fim da divisão mundo interno-mundo externo.Nesse ponto, a referência à esquizofrenia é inevitável: há um estilhaçamento da subjetividade na esteira de uma profunda erosão do sentido. Aniquilamento da linguagem verbal, dissolução de crenças e valores, convite ao fascismo (via apologia aos arcaísmos) e demonização da mídia (via ideação paranóica) mesmo nas ditas esquerdas. Em que ou em quem acreditar? Um gigantesco buraco ontológico compõe o reino encantado das imagens verídicas: telefone fixo, internet, rede social, celular, zap, televisão, cinema, vídeo, videogame, fotografia, etc, tanto faz. Imagens, imagens, tão só imagens devoram tudo, arrastam tudo, designam tudo, significam tudo, inclusive eu aqui escrevendo e você lendo o artigo agora. No entanto, tal estado de coisas não é um mal em si. Pois, se somos dominados "por dentro" no mais fundo da interioridade psíquica, algo se anuncia naquilo que Nietzsche chama "a transvaloração dos valores". A alma em revolta pela criação de uma nova terra.
A.M.
Obs. texto revisado e republicado.
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