sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

A TRAGÉDIA VENEZUELANA

Os preparativos na fronteira do Brasil para enviar ajuda humanitária à Venezuela estão avançando com o baixo perfil que tem caracterizado o envolvimento do Governo de Jair Bolsonaro na operação. O clima é bem diferente do existente em Cúcuta (Colômbia). Apesar da discrição das autoridades brasileiras, horas depois que o líder chavista Nicolás Maduro fechou, na quinta-feira, a única passagem fronteiriça entre os dois países, ali perto, do lado venezuelano, ocorreu o primeiro incidente violento relacionado à ajuda humanitária. Soldados venezuelanos abriram fogo contra compatriotas indígenas em Kumarakapay, a 80 quilômetros da passagem de Pacaraima. Dois civis morreram e pelo menos 12 ficaram feridos, confirmaram líderes indígenas à agência Reuters.

O incidente entre soldados venezuelanos e indígenas ocorreu no lado venezuelano da fronteira com o Brasil. O venezuelano Salomón Pérez, de 45 anos, chegou nesta sexta-feira ao hospital de Boa Vista na mesma ambulância em que transferiram seu irmão Alfredo, de 48 anos, ferido de bala. Dois de seus sobrinhos, de vinte e poucos anos, também são admitidos junto com seis outros indígenas Pemón-Taurepan. O incidente ocorreu no início da manhã em sua comunidade, Kumarakapay, a cerca de 80 km da fronteira. "O Exército, a Guarda Nacional, chegou para proteger a fronteira. Os indígenas saíram na estrada para conversar com o general e começaram a atirar ", explica este membro da comunidade indígena. Os feridos conseguiram atravessar a fronteira de ambulância, embora a Venezuela tenha decretado o fechamento na quinta-feira.

O Governo de Bolsonaro está armazenando alimentos e remédios em uma base aérea de Boa Vista, capital de Roraima, um dos Estados mais pobres do país. Lá aterrissou nesta sexta-feira um avião de carga C-767 da Força Aérea Brasileira carregado de arroz, açúcar e leite em pó doados pela Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid, na sigla em inglês), informou ali mesmo seu representante no Brasil, Michael Eddy. O carregamento também incluía várias caixas de medicamentos entregues pelo Governo do Brasil. Segundo o representante norte-americano, até este sábado devem chegar a Boa Vista 178 toneladas de ajuda humanitária. O Governo não detalhou qual será sua contribuição total. Também é uma incógnita quando e por quem os suprimentos serão transportados para o território venezuelano.
(...)

Naiara Galarraga Cortázar, El País, Boa Vista, 22/02/2019, 17:30 hs


Nenhum comentário:

Postar um comentário