A psicose e a neurose grave são indicações para o Caps. Mas, do que se trata? Como entidades clínicas fixas não existem. Nem A psicose nem A neurose. Nada de essências. Tudo é processo existencial, portanto social. Caps significa "centro de atenção psicossocial", mesmo que o Ministério da Saúde tente extingui-lo. Ou talvez por isso. Impossível evitar o naufrágio do cuidado em saúde mental apoiando-se em transcendências (abstrações ocas) clínicas. Nada há além da prática. Mesmo a prática teórica. Os transtornos da CID-10 não são mais que entidades tecnoburocráticas fincadas no solo infértil da psiquiatria conservadora. No universo da diferença há mil, cem mil psicoses e neuroses a cada hora, em toda a parte. Acontece que o Caps costuma receber as psicoses e as neuroses de antemão biologizadas, encaixotadas em gravidade e rechaço. Eis o doente! Tal demanda traz o sobrepeso dos corpos desejantes da miséria social planejada como Destino. Sofrimento naturalizado, o mundo em fiapos semióticos, a dor invisível, a matéria bruta do psiquismo. Importante: psicoses e neuroses são variações clínicas do mesmo tom subjetivo das relações sociais. Elas expressam um sentido existencial. Isso é o que lhes preenche como errância e incapacidade subjetiva de produzir a si mesmo. Psicoses: delírio, alucinação, fim de mundo, apocalipse. Neuroses: angústia, vivência sem forma, sem foto, sem imagem, sem exame de laboratório, o ir não indo, o ser não sendo. No acolhimento, para tratar, avalie delírio e angústia como estilhaçamentos do sentido. Cada qual a seu modo. Em ambos, a natureza dos signos é a mesma, ou seja, o real-social non sense oculto na construção delirante e/ou angustiante. Alguém acode? Alguém cuida? Alguém responde? Alguém aí?
A.M.
Nenhum comentário:
Postar um comentário