quarta-feira, 21 de agosto de 2019

ANTI-RECEITA EM SAÚDE MENTAL

Não demonizar a psiquiatria. Não desenvolver com ela uma relação persecutória. Não lhe fazer uma crítica piedosa, reativa, ressentida.Não se dobrar ao poder psiquiátrico, mas tampouco  reproduzi-lo. Não personalizar a crítica, não focá-la no psiquiatra, na sua pessoa. Não cair no jogo das identidades profissionais. Não se nivelar éticamente, políticamente, estéticamente, clinicamente, à psiquiatria. Sequer falar da psiquiatria, não comentar nem mesmo a sua  monumental ignorância teórica. Para além e aquém, fazer um trabalho talvez invisível., mas profícuo. Com os pacientes. Experimentar no seu canto o silêncio dos afetos. Sobretudo não atacar a psiquiatria, mesmo que ela ataque a vida, o corpo e seus devires. Expulsar o Crescêncio dentro de nós. Ser o técnico (o mais sóbrio e o delicado) em saúde mental. Despsiquiatrizar o universo, o mundo, os corações. Sabemos que há mais o que fazer, muito o que fazer. Produzir outras coisas, fazer a diferença... num mundo indiferenciado.E não esperar reconhecimento, prestígio e poder. Estas são visões da consciência e do euzinho privado, signos de um capitalismo subjetivo. Quem trabalha com saúde mental é outra coisa. Trata-se de uma invenção de mundos e de si. Poucos suportam.


A.M.

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