O QUE EXISTE
A subjetividade não existe. Ou melhor, não existe como Coisa, mesmo a mais valiosa. Isto quer dizer que ela não é redutível a um objeto sólido, visível, que obedece à construção de uma forma estável e eterna. Tampouco é detentora de uma natureza ou de uma essência última que traria a raiz-mãe dos seus segredos, como se estes fossem revelados à medida em que se adentrasse às linhas de expressão objetiva. Tais considerações conceituais remetem a uma concepção positivista, a qual, lastreada pelo progresso científico, aponta aos pesquisadores da clínica psicopatológica o alvorecer de uma verdade intocável. É o sonho delirante parido do casório do cristianismo com a ciência (a pessoa humana+o comportamento) que desemboca em nossos dias na face cruel da angústia encarnada na dor de existir: a depressão. Esta é anestesiada por remédios não apenas químicos (há milhões...) no consumo sedutoramente apavorante do circuito do capital. No fim, ao contrário do que dissemos ao início, a subjetividade é, isto sim, uma Coisa codificada segundo o enquadre teórico que a concebe. No entanto, bem mais ou bem menos que tal dado, que importam as teorias, as doutrinas, os dispositivos conceituais, as escolas científico-filosóficas, se ela é apenas uma peça bem azeitada às linhas de montagem nas indústrias da alma?
A.M.
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