O HOLOCAUSTO DA AMAZÔNIA
Quando a noite caiu sobre a cidade de São Paulo, às 3 da tarde, sendo uma de suas possíveis causas o encontro da frente fria com a fumaça das queimadas, muita gente se assustou com o que parecia um anúncio do fim dos tempos. Era algo parecido, se recuperarmos o sentido original da palavra holocausto: tudo queimado, no sacrifício dos tempos antigos entre os hebreus. Com duas diferenças: uma, que a holah do sacrifício judaico tinha o sentido de reparação, visava uma expiação geral dos pecados; outra, que depois do nazismo sacrificar milhões de judeus, a palavra ganhou um significado mais sinistro, e passou a ser tomada como qualquer grande e sistemática destruição —sem importar a causa— até o extermínio. Eis o que acontece hoje: o holocausto da Amazônia.
Desde muito jovem me dediquei a pensar o significado da floresta, para além da economia e das dimensões materiais. Em 15 de julho de 2008, retornando ao Senado logo após deixar o Ministério do Meio Ambiente, publiquei um artigo intitulado Atrás de uma borboleta azul em que lembrei minha identificação irredutível com as milhões de pessoas que nascem e vivem na floresta. Dizia: “florestas não são apenas estatísticas. Nem apenas objeto de negociações, de disputa política, de teses, de ambições, de pranto. Antes de mais nada, são florestas, um sistema de vida complexo e criativo. Têm cultura, espiritualidade, economia, infraestrutura, povos, leis, ciência e tecnologia. É uma identidade tão forte que permanece como uma espécie de radar impregnado nas percepções, no olhar, nos sentimentos, por mais longe que se vá, por mais que se aprenda, conheça e admire as coisas do resto do mundo.” Passou-se mais uma década, mas mantenho o sentimento.
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Marina Silva, El País, 21/08/2019, 21:46 hs
Triste ver tudo isso acontece no Brasil e estamos sem forças para reverter esse quadro!
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