Esquerda e Direita não remetem as essências. Elas são (ou deveriam ser) apenas linhas para um balizamento político. O que mudar? Por que mudar? Como mudar? Para que mudar? Mudar para quem? São questões amplas para problemas concretos. Todos (não só os políticos) falam em mudanças. Ninguém deixa de falar em mudanças, mormente num país com graves problemas sociais como o Brasil. Então, seguindo um pensamento das multiplicidades existenciais, é possível falar em muitas esquerdas e muitas direitas. Tudo vai depender de uma análise das instituições (formas sociais) em jogo. Seja um indivíduo: ele pode ter linhas de esquerda e direita misturadas, entrelaçadas, ao ponto de não ser possível distingui-las. Então, será preciso obter um conceito que abranja um desejo de mudança atravessando modos de subjetivação. Não indagando "quem sou?" (uma identidade) mas, à medida em que o tempo passa, em quem me torno? Ora, se o tempo passa é porque tudo muda, queiramos ou não. Assim, o conceito de "irreversibilidade do tempo" é o que nos serve para pensar a esquerda e a direita para além ou aquém das essências ou formas imutáveis. O cidadão que pensa encarnar em si mesmo a esquerda ou a direita vive da fabricação de um imaginário narcísico e paranóico. Somos simultaneamente esquerda e direita postos sob um solo de incessante mudança, ainda que imperceptível. E para lidar com a vertigem do tempo e a antinomia esquerda~direita que busca tamponar o devir, a arte é a linha afirmativa, não a monumental ou a mercantil, mas a arte como invenção de vida, de alegria. Ora, ainda que às custas de demolições e sofrimentos inomináveis, desponta a utopia revolucionária. Que tudo mude! Resumindo, em meio ao dualismo político que assola o país, o processo revolucionário ressurge em toda a necessidade e potência, atravessa o desejo e a sociedade como o que existe de mais digno (existencialmente) para sair do buraco ético em que nos metemos.
P.S. - texto republicado
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