domingo, 5 de julho de 2020

AMORES DUROS

Um mal incurável assola a civilização industrial. Possui nomes permutáveis conforme os  interesses em jogo. O portador de transtorno mental torna-se o protagonista da anticura. É etiquetado por diagnósticos extensos que se popularizam via mídia. O psiquiatra é chamado num programa de TV para sancionar veredictos que enchem o olho - telespectador. Ao fim, a verdade injetada publicamente em subjetividades em série constroe um plano de inserção da  clínica farmacológica. Tudo é muito natural e sensacional. Você assiste ao próprio eu se materializar em cores excitantes e sons maviosos. Como resistência (ato político) resta trair a psiquiatria e escapar do esquema pomposo das maquinarias engenhosas, inclusive o rosto da saúde perfeita. A cognição das formas sociais invasivas adota o feitio do controle consentido e incentivado. Controlo a mim, controlo a você. No interior dos hiper-laboratórios, o poder afunila seu ponto de aplicação mais visceral. A procura da alma dentro do cérebro é substituída pela procura do cérebro dentro da alma. Supõe-se certamente que ela exista desde sempre como a porção etérea não codificável. Chegou a vez de tratá-la como coisa séria, coisa de cientistas. O mais a psiquiatria divulga sem cessar. No entanto, resistir, resistir é traí-la sem retorno e virar pelo avesso as baterias do fármaco, até que o mundo caminhe sobre suas próprias pernas. Fazer arte, escutar o paciente. Simples: apague o diálogo interno. Castañeda, Reich, Drácula, Lovecraft, Bukowski, freaks, espaços lisos e libertários por toda parte.

A.M.

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