domingo, 30 de setembro de 2012

ERRO 3  SOBRE A ESQUIZOFRENIA

Não escutar o esquizofrênico.
Causa:  concepção  médica que  prioriza o sintoma em detrimento  da vivência  do  paciente, o que  implica na  busca  da  exclusão do  primeiro.

A.M.

MICHAEL NYMAN - Memorial

DISCIPLINAR,  DISCIPLINAR

O poder disciplinar é com efeito um poder que, em vez de se apropriar e de retirar, tem como função maior "adestrar"; ou sem dúvida adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor. Ele não amarra as forças para reduzi-las; procura ligá-las para multiplicá-las e utilizá-las num todo. Em vez de dobrar uniformemente e por massa tudo o que lhe está submetido, separa, analisa, diferencia, leva seus processos de decomposição até às singularidades necessárias e suficientes.

M. Foucault - do livro Vigiar e punir

O LOBOTOMISTA

VIAGENS DE MIGUEL

Miguel aprendeu a dizer Lua, "lúuua". Por sinal, ontem, ela estava bem cheia num céu límpo. Clareava até idéias obscuras. Miguel olhava e dizia: "lúuua, lúuua".Me puxou pela mão. Balbuciava sílabas viajantes. E lá nos fomos pelos mares da lua. Objeto dos românticos de todos os rincões, a lua é um devir, devir-lua. Miguel observa que ela é branca e leitosa.  Derrama sua luz sensual sobre corpos em transe. No caso de Miguel, contudo, não é bem o  "em transe", mas uma viagem sem forma pela noite adentro. Noite-mistério dentro de mim. Miguel e a lua me fazem lunáticos na terra, ou terráqueos na lua, tanto faz. O que conta é o vôo no mesmo lugar, seu rosto girando ao redor do infinito sem deixar de ser a distância até a lua. Medidas astronômicas? Ora, estas são medidas humanas, por demais humanas. Trata-se de outra coisa, fluxo metafísico que Miguel  me desperta. Sem medidas. Fomos dormir e a lua não. Miguel sorriu pois não queria dormir...sem ela.

A.M.
De tarde o horizonte amolece meu olho.
Põe breu.
De manhã faço abluções com orvalho.

M. de Barros

sábado, 29 de setembro de 2012

THE BAD PLUS - Joined by Wendy Lewis

PSEUDO-EQUIPES


No trabalho da equipe técnica em saúde mental, a sobrevivência do organismo físico individual    (cada um por si...) é peça vital nesse agenciamento de forças. De todo modo, pseudo-equipes tendem a uma operação de maquiagem da psiquiatrização.  No fim ou no começo está a loucura. Como se sabe, a psiquiatria desconhece-a por não ser um conceito médico. No entanto, na prática continua “mandando” pois lida com remédios químicos. Aplaca, controla, utiliza, codifica e “pune” a loucura. Desemboca no ato médico como expressão concreta de poder. Os demais técnicos costumam referendar a psicofarmacoterapia na medida em que eles, em termos imaginários, se “automedicam  e medicam”  o paciente. A Saúde Mental se institui como discurso do Controle.

(...)
A.M. - do texto Grupo e caos  in Revista Veneta - nº 1

SALVADOR SEM DOR

Lagoa do Abaeté

INVENTAR CONCEITOS


(...) (...) Toda criação é singular, e o conceito como criação propriamente filosófica é sempre uma singularidade. O primeiro princípio da filosofia é que os Universais não explicam nada, eles próprias devem ser explicados.

(...)
G. Deleuze e F. Guattari - do livro O que é a filosofia?
ERRO 2 SOBRE A ESQUIZOFRENIA

Acreditar que  a origem  da  esquizofrenia   está  apenas  no cérebro. 
Causa: epistemologia psiquiátrica com visão tosca acerca da etiologia dos transtornos mentais, não  considerando  a  co-existência  de múltiplos  fatores  envolvidos.

A.M.

NOVOS BAIANOS - Mistério do planeta


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

POLÍTICA DO CORPO

O organismo não é o corpo. O desejo inscreve-se  diretamente no corpo.Ou melhor, o corpo é o próprio desejo. No entanto, o uso crônico, inadequado e/ou excessivo de psicofármacos institui a hegemonia do organismo sobre o corpo, de onde a psiquiatria biológica retira mais-valia de prestígio. Seria  a morte do desejo?

A.M.

DIEGO RIVERA

Os semeadores

ERRO 1 SOBRE A ESQUIZOFRENIA

Diagnosticar como  esquizofrênico quem não é.
Causas:  imprecisão    do conceito  de  esquizofrenia; extrema  variabilidade da sintomatologia clínica;  semelhança com outros  quadros  psiquiátricos, notadamente  os  psicóticos.

A.M.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

CARLA BLEY TRIO - The lone arranger

SEM SAÍDAS

As novas gerações tendem a aceitar o mundo do capital como o melhor dos mundos possíveis  e para o qual não há o fora, não há  fora do capitalismo. Trata-se de uma espécie de paralisia coletiva do pensamento... engendrada em manuais de subjetivação.

A.M. 

BICHO DE 7 CABEÇAS

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A MORAL IMPLÍCITA

(...) (...) Excetuando o anti-social e o borderline, os demais não constituem, em geral, uma ameaça à Ordem  Psiquiátrica. Ao contrário, a psiquiatria os mantém como referência semiológica para um diagnóstico definido ou a esclarecer.  Nos manuais psiquiátricos as descrições são redundantes, mas permanecem compondo um capítulo dos códigos dos transtornos mentais ( = doenças mentais). Mas, que doenças? Aquelas que menos se parecem com doenças. Neste sentido, o critério usado para um enquadramento patológico é moral. É onde a psiquiatria expõe os seus instrumentos de poder acoplados à moralidade vigente.A descrição dos tipos, comparando-se uns aos outros é rasa em argumentos conceituais e redundante como elucidação de métodos.
(...)
A. M. - do texto Transtornos da personalidade: problemas 

SILVIA MACHETE e NINA BECKER

terça-feira, 25 de setembro de 2012

ESQUIZO-MENTIRA

A esquizofrenia é definida de modo tão vago que, na realidade, trata-se de um termo frequentemente aplicado a quase toda e qualquer espécie de comportamento reprovado pelo locutor. Portanto, seria tão impossível rever a fenomenologia da esquizofrenia quanto recapitular a fenomenologia da heresia.
(...)
T. Szasz - do livro Esquizofrenia: o símbolo sagrado da psiquiatria

ROMEU FERREIRA


RESISTÊNCIA

Legiões  de psiquiatrizados de toda parte ajoelham-se no altar dos psicofármacos e dos cérebros  à mão. Tudo conspira a favor do consumo de pacotes cientificamente autorizados para ações lucrativas. No entanto, mesmo desbotada e segregada nos grilhões cidológicos, a diferença  resiste. A ética da potência  de  viver afirma-se como ética de poetas itinerantes.
(...)
A.M.

DJAVAN - Linha do Equador

CORPO SEM ÓRGÃOS

O corpo não é o organismo. Este é produto de várias instituições, entre elas, a medicina. Tentar compreender os processos subjetivos é iniciar pelo corpo, com o corpo, ou seja, pelas reações de forças que o constituem.

A.M.

DELEUZE e o desejo

SAÍDAS MÚLTIPLAS

A clínica da  diferença busca,  então, atuar  em linhas existenciais desprezadas pela  razão.  Lida com  o  incurável,  o imprestável,  e com  discursos submetidos às formações de poder. Requer um  desejo não apoiado na realidade objetiva pois o desejo é a própria realidade objetiva.No  universo sedutor-violento do capital, a  aposta num trabalho com  pacientes  graves  capta  o ritmo das  canções sem dono. Tudo é impessoal e coletivo. O Caps torna-se, então, a procura de saídas não  cadastradas pela psiquiatria canônica. A ótica  da  diferença é  o  novo.  A  ética  precede  a técnica.
(...)
A.M.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

ISSO FUNCIONA EM TODA PARTE

O desejo maquina entre os corpos e nos corpos. Exposto à luz do dia, mesmo à meia noite, ele  é produção incessante, formigamento nem sempre visível ; "o que não tem governo nem nunca terá". Por que a metamorfose? "Ir indo". Uma espécie de gratuidade desejante empurra a existência por e para linhas insólitas.A morte deixa de ser uma coisa, mas o  morrer, verbo infinito, ainda  que se fale de passados ressentidos  e/ou futuros impossíveis.Como desejar? Não é fácil, mesmo que pareça...
(...)

A.M.

VAN GOGH


domingo, 23 de setembro de 2012

A GRANDE MENTIRA

Não existe a esquizofrenia. Entendendo: não existe e ENTIDADE CLÍNICA esquizofrenia, exceto por necessidade e manobra política da psiquiatria ao se estabelecer como especialidade médica e paradigma técnico-científico.A esquizofrenia é, pois, uma farsa bem montada que convence a quase todos, súditos de uma era de subserviência consentida: a era do capital.

A.M.
MORTE DO DESEJO

O aumento da morbidade das depressões está relacionado a vários fatores. Destaquemos um: a dissolução das Crenças (em que acreditar?) em favor de um niilismo sócio-político devastador. No caso brasileiro, nunca se viu uma campanha eleitoral tão desanimada como a atual. Eleições deprimidas.

A.M.

O QUE É UM RIZOMA?

DEPRESSÕES NO PEDAÇO

Há um consenso de que o aumento da morbidade das depressões é um fenômeno dos tempos atuais. Quais as origens disso? 

A.M.

O PENSADOR SELVAGEM



DEPRESSÃO E SUBJETIVIDADE


A  subjetividade  é  fabricada no registro  do  “fora”  , mesmo que  seja sentida  por  “dentro”.Assim ,  alguém   é  passível  de  deprimir  sem querer deprimir.   São  fluxos  (processos)  de  toda  ordem que  determinam o  humor sem que  o eu  participe  das  decisões.  O  eu é  uma  instituição.  Está    encarregado  de  apaziguar as coisas.   É  um moderador, um negociador. Mas,  às  vezes,     há  algo inegociável. O inconsciente  não  negocia.   A  serotonina  é    convocada, o  organismo   capitula.  Depressão.     A  química    costuma   socorrer.     Os  sintomas ficam atenuados (ou  somem) e as  transmissões  neuro-químicas  se  refazem  em prol de  uma  vida, digamos, mais  animada.  E  sem mania, pois     há  sempre    fármacos à  mão.  Esse é  o universo das  sinapses e das   medidas  exatas, das   bipolaridades,  ainda  que   no  humano  tudo   seja  inexato  e  múltiplo.
É que   há  outras   origens  e  maneiras (clínicas)   do  deprimir. (Atenção: deprimir não  é  angustiar-se, ainda  que   tais    sintomas  possam  vir  juntos,  tão   colados   que  se  fundem  à  observação  grosseira.  Depressão   é   perda  da vontade  de viver, ainda  que  esse  afeto  possa    estar   oculto  ou     encolhido  nas  dobras  da  alma). Pois  são as   dobras (ou  singularizações)  que  compõem o ser  subjetivo. Elas  traçam o  nexo   entre   o cérebro  e  o  espírito e eliminam  esse  dualismo milenar.  A   serotonina  é  um efeito, ou uma  causa, a depender das  circunstâncias. As  origens   da  depressão  são  secundárias   ao contexto e  não  o contrário.  Elas   estão  na  história do  paciente e  na  história  da humanidade. Antes que  edipiano, o inconsciente  é  histórico.  Está  aberto   a  mil  determinações, muitas   delas invisíveis.Observamos  que pacientes  deprimem após  as mais  diversas  situações. Ou mesmo  sem motivo;   deprimem  do  nada, céu  azul.    Não  é    tristeza.  É  qualitativamente  outro   afeto.  Podemos  dizer, então,  que  em todas  as  patologias  mentais  a  depressão   poderá   se  insinuar  como  um sintoma  a mais.    E  sempre   inscrevendo-se   no   corpo.  São   órgãos que  se  negam  a  funcionar,  sistemas  de  defesa  que  fraquejam.   A  questão   da   anamnese   passa  a ser :  está  deprimido há  quanto  tempo? A partir  de  que? Há  outros  sintomas? Como estão    o sono  e  a  alimentação? Há  outras  doenças? E as  relações  sociais?  O trabalho,  o   dinheiro, o prazer, o sexo?  Enfim, o tempo.  Para    além do  princípio dos    biopoderes    cerebrais (o cérebro que a medicina  produz como objeto de  pesquisa),  a  depressão é  signo de impotência  subjetiva.   Este é  o ponto   de contato da  clínica  psicopatológica  com a  vida. O paciente  deprimido  é  redutível ao corpo com órgãos. “Doe  tudo”, diz  um paciente. Mas  para  entrar  em contato  com a sua  dor, dor  de  existir,  é  preciso   considerar  a subjetividade  como processo existencial  abortado  num  corpo  de intensidades  destrutivas.  “Tudo  vai  mal”.  Neste  sentido, as  depressões  são  síndromes ao  invés  de sintomas:   a  vitalidade  se  esvai  numa  deriva  louca  em direção ao  suicídio. Claro  que  o suicídio  nem  sempre  acontece. Ainda  bem.  Mas  a  depressão  é  a  expressão  clínica  do desejo de  morrer. Um desejo que se  tece  às  vezes  nas falas mais  normais.  Daí, podemos considerar  que  também  existe  uma  depressão  sub-clínica  que  só   se  mostra por  linhas  enviesadas.Depressão  é  tema  complexo. Tão  complexo  que  convém não  ouvir  apenas   a  psiquiatria. É preciso  ir  mais longe.   Tal  fato  advém  de  uma  condição  não-humana e   vital que  atravessa  o estar  deprimido.  Enunciamos   essa  condição:  apesar  de  todas  as  adversidades (mesmo e principalmente naqueles  seres  marcados pela  privação,   oprimidos  de  todos  os  matizes) por  que  a  vida  se  afirma  como  alegria  radical? Alegria  sem motivo ou  o motivo  é apenas    o  de  estar  vivo?  O “estar  deprimido”  talvez   não  seja  uma  doença, mas a  substituição  da  vida pela morte  que  se instala sorrateira com máscaras  variadas:  perdas irremediáveis, serotonina,  narcisismo,  doenças  físicas,  condições insalubres de trabalho, desemprego, violência, dissolução de  valores , o fim das  utopias,  o capitalismo  mundial integrado, etc, etc.

A.M.

MICHAEL NYMAN - Deep sleep playing

sábado, 22 de setembro de 2012

DOMÍNIO


As próteses da era industrial ainda são externas, exotécnicas; as que conhecemos se ramificaram e interiorizaram: são esotécnicas. Estamos na era das tecnologias suaves, software  genético e mental.
(...)
J. Baudrillard - do livro A transparência do mal - ensaio sobre os fenômenos extremos
O QUE  É  O  ESPAÇO  LISO?

O espaço liso é ocupado por acontecimentos ou hecceidades, muito mais do que por coisas formadas e percebidas. É um espaço de afetos, mais do que de propriedades.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari - do livro Mil platôs

JOÃO GILBERTO - Da cor do pecado

O QUE É UMA MÁQUINA DE GUERRA? 

Definimos a máquina de guerra como um agenciamento linear construído sobre linha de fuga. Nesse sentido, a máquina de guerra não tem, de forma alguma, a guerra como objeto; tem como objeto um espaço muito especial, espaço liso, que ela compõe, ocupa e propaga. O nomadismo é perfeitamente essa combinação máquina de guerra-espaço liso.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari - do livro Mil platôs

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

CINCO MÁQUINAS DE GUERRA

História da loucura - M. Foucault
O capital - K. Marx
A nova aliança - I. Prigogine e I. Stengers
O alienista - M. de Assis
Mil Platôs - G. Deleuze e F. Guattari

ABUJAMRA DIZ OSCAR WILDE

NÃO PENSAR


As neurociências possuem trabalhos metodologicamente impecáveis. Depois a psiquiatria utiliza -os com a intenção de materializar a "sua" verdade. A verdade da psiquiatria se torna a verdade do paciente. E qual seria ela? Ora, a verdade do mundo atual, mundo regido pela tecnologia irrecusável e assentado pelo capitalismo aparentemente vencedor. Proibido pensar.


A.M.
Formiga não tem dor nas costas.

M. de Barros
ISSO FUNCIONA EM TODA PARTE

O desejo maquina entre os corpos e nos corpos. Exposto à luz do dia, mesmo à meia noite, ele  é produção incessante, formigamento nem sempre visível ; "o que não tem governo nem nunca terá". Uma criança. Por que a metamorfose? Não há porque, não há de que, aí onde a gratuidade empurra a existência por e para linhas insólitas.A morte é o morrer, verbo infinito, mesmo que à volta se fale de passados ressentidos  e/ou futuros impossíveis.Como, então, desejar?

A.M. - do texto A morte do desejo (em elaboração)

MILTON SANTOS - excerto do Documentário

O QUE É UM GRUPO?

(...) (...) Nosso   problema  é, pois,  o trabalho da   equipe técnica em seu cotidiano e na  produção de uma reflexão sobre o mesmo. Teríamos as questões:  1-Trata-se de fato de  um grupo? 2-A  que interesses atende? 3-Que concepções sobre a loucura norteiam  o seu  trabalho?  4-Como se dá a comunicação entre os segmentos técnicos  em relação ao paciente? 5-Qual o lugar da ética e da política nas ações práticas? Nossa hipótese de base: apesar do ideário da reforma psiquiátrica, a psiquiatria é um modo de subjetivação que ainda domina e controla os que lidam com o paciente. Significa dizer que não há  reforma psiquiátrica na clínica. Ao contrário, o grupo técnico trabalha   sob a transcendência psiquiátrica.  
(...)
A.M. - do texto Grupo e caos - Revista Veneta

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

JOAQUIM BARBOSA

MÁQUINA MORTÍFERA

Não menos que o aparelho burocrático ou militar, a psicanálise é um mecanismo de absorção da mais-valia; e ela não o é do exterior extrinsecamente, mas sua própria forma e sua própria finalidade estão marcadas por essa função social.Não é o perverso, nem mesmo o autista, que escapam à psicanálise, é toda a psicanálise que é uma gigantesca perversão,uma droga,um corte radical com a realidade, a começar pela realidade do desejo,um narcisismo, um autismo monstruoso: o autismo próprio e a perversão intrínseca da máquina do capital.
(...)
G. Deleuze e F.Guattari - do livro O anti-édipo

FRIDA KHALO


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O TRABALHO COLETIVO EM SAÚDE MENTAL

Então, partir da psiquiatria como  “proprietária” do paciente é admitir que tudo, em termos de equipe e tratamento, gira em torno do significante hegemônico “psiquiatria”como centro de significação clínica. E por extensão o seu objeto, o paciente. Parece  que estamos girando num círculo de redundâncias. Como então constituir um grupo se um  sujeito (a psiquiatria) instituiu  há muito o seu objeto (o paciente) ? A produção criadora de clínicas só pode ser tentada se houver  uma des-hierarquização das relações intra-grupais. Um mesmo plano de trabalho e de afetos. Todos são iguais em suas  diferenças.
(...)
A.M. - do texto Grupo e caos - revista Veneta

UM MÉTODO PERIGOSO

CIÊNCIA DA INSTABILIDADE


(...)(...)No mundo que é o nosso, descobrimos em todos os níveis flutuações,bifurcações,instabilidades.Os sistemas estáveis que levam a certezas correspondem a idealizações,a aproximações.
(...)
I. Prigogine - do livro O fim das certezas - tempo,caos e as leis da natureza
O QUE É CRIAR EM SAÚDE MENTAL?


Não acreditamos na crítica  como ato que   propicie  uma criação.  A  criação é que   propicia uma crítica. A criação vem primeiro. Saúde éum conceito nominal. Aparelho engendrado por  tecnocratas do Estado,  vive  para a  idéia, o imaginário, a transcendência e as boas  intenções humanísticas. Com o conceito de "mental" ocorre o mesmo. Criar nada tem a ver com essa   ladainha político-conceitual. A arte de  criar conceitos, como diz  Deleuze, é a aventura do novo. Em saúde mental, criar é despersonalizar-se sem culpa, ressentimento ou nostalgias egóicas. Começa  pela ausência de títulos e pompas.  Uma gratuidade.  

(...)
A.M.

BRAD MEHLDAU - Paranoid Android

terça-feira, 18 de setembro de 2012

VIAGENS DE MIGUEL

Continuo tentando acompanhar Miguel, aprender-Miguel. Cada vez mais falante, ele  inaugura as manhãs. Isso não é uma metáfora. Ele é, sim, uma manhã com todo o brilho da existência pousado em seus olhinhos inquietos. Vamos de novo, novamente, outra vez, que a velocidade do tempo nos carrega. Perguntou a minha idade. Disse-lhe que tentasse advinhar. Não aceitou o desafio. Explicou apenas que ele era um feiticeiro nascido há um ano e meio. E o que lhe importava? Ora, o tempo não medido, o tempo-jogo, o tempo-criança. Sentou-se defronte dos meus livros e falou que nada daquilo interessava, exceto se encharcado de espírito e dança.Para meu espanto, Miguel tornou-se a minha pele tocada por fluxos de uma realidade mutante. Então, um cheiro de acácia inundou de amarelo as colinas perdidas do meu pensamento. À minha frente, Miguel continuava saltitante, como que bombeando o coração do mundo. Disse-lhe que ficasse só um pouquinho ao meu lado, enquanto durasse o encantamento dos deuses.

A.M.
"VERDADE" COMO MERCADORIA

A produção de verdade compõe o âmago das práticas psi. O caso da psiquiatria talvez seja o mais explícito, mas por certo não funcionaria sem os demais. E vice-versa. Referimo-nos à psicologia e seus congêneres. Uma vontade positivista e mercadológica se instala (sem cerimônia) em superfícies assépticas.

A.M.

LA EDUCACION PROHIBIDA -

A CIÊNCIA TAMBÉM OCULTA...

O  psiquiatra é médico, eis um truísmo útil.  Por  quê? Porque, na psiquiatria, um a priori  de poder funciona na  relação com o paciente e impõe uma tecnologia  de controle.  Apesar disso, a  história da psiquiatria oficial construiu a díade do atendimento sob o manto apaziguador  da Ciência. A relação tornou-se, pois, vazada  por  uma violência implícita, daí  não percebida pelo senso  comum.
(...)
A.M.
O USO DA FILOSOFIA

O risco do discurso totalitário é uma presença constante na filosofia.Não creio que os filósofos se sintam tentados pelo totalitarismo: apesar de tudo,existe neles uma idéia fundamental, a de liberdade.Razão e liberdade devem caminhar lado a lado.Mas é verdade que a filosofia entre as mãos de políticos que visam o totalitarismo é um instrumento temível.
(...)
F.Châtelet -do  livro Uma história da razão

F.GABEIRA - maio de 2011 - sem romantismos

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

SOBRE VENETA

(...) (...) Veneta é uma força repentina, uma surpresa.Nem sempre agradável,intensa toda vez.Tem o dom do intempestivo,é prodigiosa,pródiga.O repente lhe é comum na rapidez,na euforia e no gênio.Veneta é a alma do avesso.É a borda do que sabemos sobre nós mesmos e sobre os outros.É a beira do mundo. Estamira.Versa pelas artes do encontro,do choque,do contágio.Veneta é disparate.É disparo.Fere rente.

Do Editorial da Revista Veneta - n° 1 - Vitória da Conquista

PORTINARI

PSEUDO-EQUIPE EM SAÚDE MENTAL

Uma pseudo-equipe técnica se reconhece num contexto de dominação consentida. As  contingências do seu funcionamento  passam a ser previsíveis.  Neste sentido, o psiquiatra é o sujeito empírico das equipes. Por que? Porque ele  é a Medicina em pessoa. Quem cuida  de  doentes  mentais é o psiquiatra. Deste modo, o grupo trabalha com a transcendência psiquiátrica norteando ações. Pouco importa se lugares de comando são preenchidos por não-psiquiatras. A subjetividade psiquiátrica  se compõe de linhas existenciais  traduzidas em papéis sociais diversos, a depender do contexto prático. Um técnico não psiquiatra poderá pensar, perceber, sentir e atuar tanto quanto um psiquiatra na relação com a loucura, e por extensão, com o paciente. Um técnico não-psiquiatra pode ser até “mais psiquiatra” que o psiquiatra.
(...)
A.M. - do texto Grupo e caos, Revista Veneta, n° 1

domingo, 16 de setembro de 2012

AFINAL...

O QUE SIGNIFICA PENSAR?

(...) (...) Outras  realidades  só  serão percebidas  (ou criadas)  com o  uso  de  novos  conceitos. Os velhos estão colados a instituições como as do eu, do indivíduo, do especialista e claro, da Saúde Mental. São estéreis; servem ao empreendimento burguês de usar a racionalidade como base do progresso tecnológico e científico. Portanto, abrir  os conceitos, mesmo os antigos, é  rearranjá-los em territórios subjetivos. A forma saúde-mental não deixará de existir nesse tipo de estratégia, mas a sua força diminuirá.O que o paciente costuma querer é o que  quer a Saúde Mental: o controle e o auto-controle, se possível. A prerrogativa vem  da instituição psiquiátrica, o que  não significa pôr a psiquiatria como alvo único da crítica. Até porque a psiquiatria não traz problema algum ao trabalho conceitual que lhe seja adverso.  Ela desconhece o conceito e por isso não pensa,  só representa.   
(...)
A.M.

WALLY SALOMÃO - Nomadismo


Uma coisa que o homem descobre de tanto seu
encosto no chão é o êxtase do nada.

M. de Barros
DE VENETA

(...) (...) Escrevemos por uma Psicologia que se faça, enfim,desnecessária.Que a morta-viva de 50 anos sacuda seus velhos trajes importados e os reinvente à costura tropical, que ela encarne sua condição tupi-nagô-africana-quilomba-acarejezista com a malemolência que lhe cabe. Para que seus maquinistas aprendam a conspirar novos sentidos em função do acontecimento, sempre tão imprevisível,que redesenhe seus próprios espaços, sua própria cultura,que saiba ser digna de sua própria pobreza, mas também de sua riqueza,das potências éticas, estéticas e políticas que a constituem; para que tenhamos,enfim,uma psicologia menos piedosa, tal qual a serpente de Paul Valéry, que se devora pela cauda, recriando o pensamento como forma de liberdade.
(...)
Cecília Barros-Cairo e Eder Amaral - da revista Veneta, n° 1.

PHILIP GLASS - The poet acts - Bernadino Beggio (piano)

sábado, 15 de setembro de 2012

UM NOVA TERRA

Fala-se em "espiritualidade" (quem?) como de "algo bom". Cabe a pergunta: o que é mesmo a "espiritualidade" ? Quais as relações que ela (seja lá o que for) mantém com a ética, com a política, enfim, com as práticas sociais? O mundo atual é um mundo esgotado de potências de transformação, e daí, um mundo descrente de si mesmo, mundo niilista. Nietzsche vive. Talvez seja necessário acelerar esse niilismo em busca de uma nova terra...

A.M.

G. DELEUZE e a Esquerda

Revelações feitas por Marcos Valério à VEJA (15 de setembro/2012):

"O BANCO IA EMPRESTAR DINHEIRO PARA UMA AGÊNCIA QUEBRADA?" - Os ministros do STF já consideram fraudulentos os empréstimos concedidos pelo Banco Rural às agências de publicidade que abasteceram o mensalão. Para Valério, a decisão do Rural de liberar o dinheiro - com garantias fajutas e José Genoino e Delúbio Soares como fiadores - não foi um favor a ele, mas ao governo Lula. "Você acha que chegou lá o Marcos Valério com duas agências quebradas e pediu: 'Me empresta aí 30 milhões de reais para eu dar pro PT'? O que o dono de um banco ia responder?"
Valério se lembra sempre de José Augusto Dumont, então presidente do Rural. "O Zé Augusto, que não era bobo, falou assim: 'Pra você eu não empresto'. Eu respondi: 'Vai lá e conversa com o Delúbio'. A partir daí a solução foi encaminhada. Os empréstimos, diz Valério, não existiriam sem o aval de Lula e Dirceu. "Se você é um banqueiro. você nega um pedido do presidente da República?"
POLÍTICA DA ARTE

A arte permanece como um dos raros domínios no qual o indivíduo pode teoricamente oferecer sua plena dimensão, quaisquer que sejam a época, a história ou a geografia. Através dela ficam os vestígios da luta com armas iguais com o tempo, se não com aquilo que perdura em longínquos impulsos, nos subsolos onde se preparam as vitalidades futuras. Ora, todos os regimes, todos os poderes políticos conhecem esse local estratégico e o querem confinar, dominar,limitar, conter, até controlar radicalmente. 
(...)
M. Onfray - do livro A política do rebelde - tratado de resistência e insubmissão

LANÇAMENTO DA REVISTA "VENETA"


NÃO SE TRATA A EXISTÊNCIA

Desde 1952 nos acostumamos a ver o paciente mental sob o efeito de algum remédio químico. Este se tornou peça indispensável, não só para o tratamento, mas na constituição de uma  subjetividade enferma. Na década de 90 os fármacos avançam e substituem a psicopatologia.  Torna-se um hábito ver o paciente mental como expressão-efeito  da química.  A indústria  produz  o pensar medicamentoso como campo por excelência do desejo. O objetivo maior é o de     manejar os sintomas. Como tudo é sintoma, ou passou a sê-lo, incluindo  o paciente,  o objetivo  de  passar  remédio  tornou-se o de excluir  o pensamento e a  existência.

A.M.
                                  

DALI

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O QUE  É UM GRUPO?

(...) (...)Trata-se, efetivamente,  de um grupo? Ora, considerando as práticas “capsianas”  em   seus  aspectos gerais, não é um grupo. Desse modo, se a proposta do trabalho é  multidisciplinar, a equipe técnica é um pseudo-grupo. Um grupo trabalha sobre si numa auto-análise incessante enquanto se produz para fora num processo-ato (autogestão). São essas as condições básicas para um conjunto de indivíduos (ou pessoas) se intitular grupo. Portanto, quando falamos em grupo  não falamos de uma organização nem tampouco de um dispositivo técnico (equipe) dentro da organização. Todo grupo compõe um corpo não visível, corpo em intensidade, corpo liso que se liga a outros corpos. A consistência  grupal torna-se o conjunto das linhas subjetivas que confluem na produção de algo. No caso da equipe técnica, é uma produção de práticas singulares que  irão servir ao paciente. Fora  desse “projeto” não é grupo, e sim, evento serial  de indivíduos. Tal entidade faz com que a equipe técnica dissolva-se. O que fica é uma forma espectral (uma sombra)  esperando ordens.  
(...)
A.M. - do texto Grupo e caos - incluído no 1º número da revista VENETA, a ser lançada em 15/09/2012 - Vitória da Conquista.

JOSÉ MALHOA

Primavera

o mensalão
arruína a flor genética 
saída da ética

deixa uma geração cínica
rindo de si mesma

A.M.

GLÁUBER ROCHA - Abertura na TV

FALA, ANTONIN ARTAUD

(...) (...) Nós não estamos no mundo, oh Papa confinado no mundo; nem a terra nem Deus falam de você. O mundo é o abismo da alma. Papa caquético, Papa alheio à alma, deixe-nos nadar em nossos corpos, deixe nossas almas em nossas almas, não precisamos do teu facão de claridades.
(...)
A.Artaud - do texto Carta ao Papa
O DIREITO AO DELÍRIO
 
A avaliação  do delírio unicamente como sintoma, dificulta a obtenção  de  um diagnóstico  preciso. O sintoma é secundário à vivência. Através  da vivência é que o paciente organiza as suas  crenças. Vivência  diz  respeito ao significado da realidade e aos afetos  postos  nesse  significado. Crença e afetividade são elementos-chave para adentrar aos modos de subjetivação. Estes elementos compõem “processos de singularização”.  Daí o delírio se constitui  como um território existencial que se  expressa  por  singularidades.  
(...)
A.M. 
PSEUDO-EQUIPE EM SAÚDE MENTAL

(..) (...) O ideário da reforma psiquiátrica cunhou o rechaço ao hospital psiquiátrico e a valorização do usuário como ser humano. No entanto, este  humanismo  não  foi  suficientemente forte para levar a clínica (ou seja, o encontro com o usuário) para formas descoladas  dos  antigos clichês do  hospício. Entre estes, persiste a submissão  ao poder psiquiátrico como representante autorizado da Ciência. Tal submissão produz efeitos sobre o paciente, reduzindo-o a um cérebro que consome remédios químicos. É uma constatação já denunciada por segmentos sociais interessados na qualidade da assistência prestada aos portadores de transtorno mental. 
(...)
A.M. - do texto Grupo e caos, incluído na revista VENETA, a ser lançada amanhã, 15 de setembro, às 16 hs, em Vitória da Conquista.

DIANA KRALL - Route 66

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

NINGUÉM SERÁ SALVO

A medicalização da vida social é um fenômeno atual e óbvio. Até associações médicas reconhecem...No entanto, o buraco é muito mais fundo. Diz respeito ao positivismo da modernidade técnica: a Ciência como salvação e fé.

A.M.

LANÇAMENTO

MÁQUINAS DO DESEJO

(...) (...) Freud não chegou a ver que a angústia, fenômeno biológico, não pode aparecer no ego a menos que seja preparada, primeiro, na profundeza biológica. Isso era um golpe duro para o meu trabalho sobre o problema da angústia. Eu acabara justamente de dar um grande passo à frente no rumo da distinção entre angústia como causa e angústia como resultado da repressão. Daí em diante, seria mais difícil provar a opinião de que a angústia estásica resultava da estase sexual porque as formulações de Freud eram, naturalmente, portadoras de autoridade considerável. Não era muito fácil sustentar uma opinião diferente: com certeza, não em assunto de tamanha importância. No meu livro sobre o orgasmo, transpus a dificuldade com uma inofensiva nota de rodapé; concorda-se geralmente,assinalei, em que na neurose a angústia é a causa da repressão sexual. Ao mesmo tempo, sustentei a minha própria opinião de que a angústia é o resultado da estase sexual. E isso Freud liquidou.
(...)
W.Reich - do livro A função do orgasmo

MILTON NASCIMENTO - Nada será como antes


QUAL EQUIPE?

(...) (...) A  “equipe técnica em saúde mental”  recita os discursos   em que o Estado – de modo implícito – comanda. O Estado é o Senhor. A clínica dos  transtornos mentais é, assim, retalhada  por linhas   institucionais que a destroem, ou  no mínimo, a desfiguram. São fluxos de poderio invadindo mentes e corpos desautorizados a  desejar
(...)
A.M. - do texto Grupo e caos, a ser publicado.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

FRANCIS BACON

TODOS DELIRAM

 (...) (...) Ao  desconfiar que  alguém delira, não julgue. Pense  primeiro “ o que estará sentindo  o suposto  delirante?”. Quem delira pode  não estar delirando, ou seja, pode estar  apenas pensando em voz  alta.  Afinal, como seres do pensamento, deliramos. Uma barreira colocada entre nós e o dito mundo  real impede que o delírio se torne um  problema.  Sim, torna-se um problema  quando a ordem “natural” das coisas é rompida a nível da conduta. Para o bom senso isso é  insuportável, ou  quase  insuportável. Parece claro. Há uma ordem racional  do mundo que instituiu e institui valores, normas e códigos. Isso em toda  parte. Uma necessidade de ordem e bom comportamento parece fazer as coisas andarem. O binômio ordem/desordem vem daí, alimenta-se de possíveis  desvios que  o confirmam. 
(...)
A.M. - do livro Trair a psiquiatria



Mulher tenta invadir Planalto dizendo-se 'marido' da presidente

Luiza Damé, O Globo

A Polícia Militar e o Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) informaram na noite desta terça-feira que Edmeire Celestino Silva, 29 anos, é mulher. Ela tentou invadir o Palácio do Planalto, subindo a rampa e entrando em confronto com o soldado do Batalhão da Guarda Presidencial, que chegou a fazer dois disparos com balas de borracha.

Identificada como um homem a princípio, Edmeire estava visivelmente perturbado, dizia ser “marido” da presidente Dilma Rousseff e fez declarações de amor a ela. Durante a tentativa de invasão, Dilma estava no Palácio, conduzindo uma reunião sobre portos.

- Eu sou marido da Dilma Vana Rousseff. Eu gosto dela - disse, ainda deitada no chão, depois de ser contida pelos soldados e pelos seguranças da Presidência. 

 

 


METAMORFOSES

(...) (...) É claro que há lobishomens, vampiros, dizê-mo-lo de todo coração, mas não procure aí a semelhança ou a analogia com o animal, pois trata-se do devir-animal em ato, trata-se da produção do animal molecular (enquanto que o animal "real" é tomado em sua forma e sua subjetividade molares) (...) (...) Sim, todos os devires são moleculares; o animal, a flor ou a pedra em que nos tornamos são coletividades moleculares...
(...)
G. Deleuze e F.Guattari - do livro Mil platôs

terça-feira, 11 de setembro de 2012

CAETANO VELOSO - Coração materno

QUAL CRÍTICA?

 (...) (...) A crítica acabou. Ela resvala em superfícies duras e infensas às ondas, mesmo fortes. Uma volúpia pela imagem descarnada assalta  espíritos simplórios. Veja. Ouvi do estudante um comentário  choroso. Falava da  depressão  anoréxica.  Tratava-se  de um famélico. O pensamento parecia  uma  coisa à toa que aterrissava plácido nas maçãs do rosto. Uma origem: a crítica  com ares de simpatia misturada à burrice dos espaços em branco.O ideal asséptico a todo furor. Nuvens de arrebentação. Os devires passam rente  às lixeiras no subsolo das mentes por demais  ocupadas consigo mesmas. Não concorde  com tudo.Finja  que  sim. Finja que  pensa. Acione dois  ou três dendritos e avise a certos neurônios que você tem algo a  dizer. Não diga. Assuma o negativismo dos psicóticos incuráveis. Beije a mão do general e do papa travestidos de médicos. Eles compreenderão a sua humildade. A crítica direta é pura simulação. Não ofende, não corta, não faz explodir. Contenha-se em sua inferioridade geneticamente instituída. Repita as frases, repita ao ponto de uma halitose civilizada se misturar ao formol dos cadáveres encaixotados em pets. Enfim, criticar é preciso  desde que não se critique. Ou que a crítica seja um signo do horror político mostrado como ciência e salvação. Depois  de tudo, arrisque um palpite, faça uma  fezinha na loteria acadêmica. A mesma que abastece os exércitos pregando a paz no Oriente Médio. Experimente pensar.
(...)
A.M. - do livro Trair a psiquiatria

DIEGO RIVERA


ÉTICA DO INFINITO

Ele tinha dito que tudo que eu fizesse deveria ser um ato de feitiçaria. Um ato livre de expectativas invasoras, de medo de falhar, de esperanças de sucesso. Livre do culto do eu ; tudo que eu fizesse deveria ser improvisado, um trabalho de magia onde eu me abrisse livremente para os impulsos do infinito.
(...)
C. Castaneda - do livro A lado ativo do infinito

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

poesia na veia - 14


a idade do tempo
não há

A.M.

MARINA LIMA - Acontecimentos



A "instituição" não é a "organização"

(... (...)Trazemos da análise institucional o conceito de instituição. Desse  modo, a instituição “Saúde  Mental” compreende uma  forma  social (ou  uma  forma  geral das relações  sociais)  traduzida subjetivamente. É uma produção, mas uma produção  abstrata, daí  não necessariamente  visível ou mensurável. E também concreta, pois seus efeitos são práticos. Se traduzem em  relações  sociais onde circulam elementos interpessoais, familiares,  técnicos, clínicos etc. São, por  assim  dizer, a materialidade do cotidiano  Ao dizer  “instituição” e não  “organização”  da  Saúde  Mental, evitamos captar o dado apenas empírico, ou seja, o das identidades fixadas em  papéis sociais, como por exemplo os de psiquiatra e/ou de doente mental. É  que para chegar aos problemas reais e às suas causas, buscamos outro olhar.Um olhar que quebre os clichês perceptivos marcados pela moral e inseridos no universo da representação Então, quando falamos de instituição, e mais  precisamente, de instituição  Saúde Mental, falamos  de  outra  coisa que  não  (no caso  do  hospital  psiquiátrico)  da organização administrativa  – o prédio, seus  muros -  ou dos dispositivos práticos – a contenção do paciente no leito, a hora da medicação etc . Queremos, mais profundamente,  registrar  que a  Saúde Mental  é um pensamento enraizado   na  subjetividade dos  que nela acreditam e a servem. Isso pressupõe, entre  outras  coisas,  a divisão   binária loucos/normais. 
(...)
A.M. - do livro Trair a psiquiatria

HERBIE HANCOCK