MUNDO ENCANTADO
(...) Como diz Marx, no começo os capitalistas
têm necessariamente consciência da oposição do trabalho e do capital,
e do uso do capital como meio de extorquir sobretrabalho.
Mas depressa se instaura um mundo perverso enfeitiçado, ao mesmo
tempo em que o capital tem o papel de superfície de registro
que se assenta sobre toda a produção (fornecer mais-valia, ou realizá-la,
eis o direito de registro). “À medida que a mais-valia relativa
se desenvolve no sistema especificamente capitalista e que a
produtividade social do trabalho cresce, as forças produtivas e as
conexões sociais do trabalho parecem destacar-se do processo produtivo
e passar do trabalho para o capital. Assim, o capital se
torna um ser bastante misterioso, pois todas as forças produtivas
parecem nascer no seio dele e lhe pertencer” (Karl Marx). E, aqui, o que é
especificamente capitalista é o papel do dinheiro e o uso do capital
como corpo pleno para formar a superfície de inscrição ou de registro.
Mas um corpo pleno qualquer — seja o corpo da terra ou
o do déspota, seja uma superfície de registro, um movimento.
(...)
Gilles Deleuze e Félix Guattari in O anti-édipo
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