DESASSOSSEGO
Levo comigo, só de ouvir estas sombras de discurso humano
que é afinal o tudo em que se ocupam a maioria das
vidas conscientes, um tédio de nojo, uma angústia de exílio
entre aranhas e a consciência súbita do meu amarfanhamento
entre gente real; a condenação de ser vizinho igual, perante
o senhorio e o sítio, dos outros inquilinos do aglomerado,
espreitando com nojo, por entre as grades traseiras do armazém
da loja, o lixo alheio que se entulha à chuva no saguão
que é a minha vida.
(...)
Fernando Pessoa
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