QUANDO O SOL
quando o sol tornar a colorir a figueira da montanha
aves iluminadas estarão cantando em teu silêncio.
escutarás então o inexistente tempo
fluindo sob o peso morno das lágrimas:
sob sob.
quando o sol tocar o vento
e os longos dedos de gelo
coçarem a pele da manhã
incendiando os galos e os cabelos
das árvores e montanhas
dos caracóis e cachoeiras
quando o sol puxar entre os dentes
o interno verbo de todas as galáxias
altas redes de vento e luz e infinito
saberás que atrás de cada tortura
de cada assassínio
de toda a impostura
detrás de cada negação ou falsificação
do humano manancial
o olhar da vida
o permanente olhar da vida
sempre ardeu como um grito saltando do pó do avesso do ódio
dos ossos das sepulturas dos cárceres do rosto vazio e
implacável.
Afonso Henriques Neto
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